Morte de dirigente do Hamas pode intensificar conflito

A morte do ‘número dois’ do Hamas por Israel, a 02 de janeiro no Líbano, alimenta receios de um alastramento regional do conflito, quando este completa três meses, disseram à Lusa analistas de política internacional.

@ Facebook Israel Reports

Em declarações à agência Lusa, Filipe Pathé Duarte, da NOVA Business School, e João Henriques, vice-presidente do Observatório do Mundo Islâmico (OMI), sublinharam que a morte de Saleh al-Araoui “não surpreende”, dado que Israel já tinha admitido, em dezembro, que planeava localizar os líderes do Hamas no Líbano, Turquia e Qatar como parte do objetivo de erradicar totalmente o movimento.

“Se olharmos bem para a morte de al-Araoui, provavelmente é o primeiro assassínio extra-territorial de um grande líder do Hamas por Israel, desde que Israel divulgou os planos de conduzir os ataques direcionados em dezembro de 2023 através do The Wall Street Journal”, sublinhou Pathé Duarte.

Para o académico, a curto prazo, em resposta, o Hezbollah, no Líbano, poderá aumentar os ataques com ‘rockets no norte de Israel em solidariedade com o Hamas e potencialmente até permitir que haja alguns lançamentos simbólicos de combatentes do Hamas no sul do Líbano.

“Mas a longo prazo a minha perspetiva é diferente, no sentido em que o ataque vai fazer com que o Hezbollah pressione o Hamas para limitar as suas atividades no sul do Líbano com o objetivo muito concreto de evitar uma escalada mal calculada”, disse.

“Independentemente disso, se Israel continuar a levar a cabo assassínios extra-territoriais no Líbano, especialmente a membros de elevado escalão do Hezbollah, a guerra entre Israel e o Hamas vai claramente expandir-se para um conflito regional, nomeadamente para o Líbano, e até, eventualmente, para a Síria”, sustentou, salientando que existem ainda muitos “ses”.

Para Pathé Duarte, na Cisjordânia, onde existe uma popularidade crescente do Hamas, a morte de al-Araoui “vai, provavelmente enfraquecer qualquer potencial por uma mobilização significativa organizada pelo Hamas”, uma vez que este dirigente sempre foi uma figura chave na organização e financiamento de operações na Cisjordânia.

“A morte [de al-Araoui] não me parece que venha significar aqui uma mobilização crescente por parte de palestinianos na Cisjordânia”, sublinhou.

João Henriques, por seu lado, sublinha que a morte de al-Araoui deixa no ar uma “pergunta inevitável”: “O que poderá representar a morte do ‘número dois’ do Hamas para um eventual alastramento do conflito, alargando os combates ao Líbano e à Síria?”.

O responsável do OMI lembra que al-Araoui era um dos membros fundadores da ala militar do Hamas, as Brigadas Iz Ad-Din Al-Qassam, cuja organização, antes de dia 02, já tinha em curso na região ações anti-Israel, sobretudo a sul do Líbano, com a intervenção do Hezbollah e de outros grupos ligados ao Hamas, na Síria e ultimamente a partir do Iémen, com múltiplas iniciativas do movimento Huthi.

“Desde o início da atual guerra, faz domingo três meses, a grande preocupação de toda a comunidade internacional centra-se nas dramáticas repercussões que o conflito projeta em termos securitários e humanitários em toda a região e no seu eventual alastramento para além da já de si bastante fustigada região do Médio Oriente”, realçou.

“Há, todavia, uma parte desta comunidade internacional que parece manter-se alheia ao sofrimento do povo palestiniano, devido a um conjunto de interesses inconfessáveis. A este propósito, não deixa de ser bastante estranho que alguns líderes mundiais se tenham mostrado sempre ligeiros na aplicação de sanções e de outro tipo de bloqueios a países com atuações alegadamente marginais, e no caso específico de Israel, se vão remetendo ao silêncio, mesmo quando estão em causa reconhecidamente crimes contra a humanidade”, frisou o vice-presidente do OIM.

Para João Henriques, “objetivamente, as tensões na região do Mar Vermelho estão a aumentar como resultado dos ataques dos Huthis a navios mercantes que transitam por aquele espaço.

“Em resposta, as forças norte-americanas têm atacado embarcações do movimento e, no que poderá ser entendido como uma clara escalada do conflito, o Irão anunciou o envio de um navio de guerra para o Mar Vermelho”, acrescentou.

“O certo é que o conflito no Mar Vermelho tem vindo a perturbar o comércio marítimo internacional, levando-o ao envolvimento crescente do Reino Unido e dos Estados Unidos, aprofundando as preocupações quanto a uma potencial escalada”, concluiu Henriques, realçando igualmente a existência de “mais perguntas do que respostas”.

Últimas do Mundo

A associação de empresas de energia de Espanha (Aelec), que integram EDP, Endesa e Iberdrola, atribuiu hoje o apagão de abril à má gestão do operador da rede elétrica espanhola no controlo de flutuações e sobrecarga de tensão.
As companhias aéreas europeias, americanas e asiáticas suspenderam ou reduziram os voos para o Médio Oriente devido ao conflito entre Israel e o Irão e aos bombardeamentos dos EUA contra este último país.
O comandante chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Sirski, assegurou este domingo que as tropas ucranianas conseguiram travar o avanço russo na região nordeste de Sumi, recuperando a localidade de Andriivka e avançando na zona de Yunakivka.
A Tesla, de Elon Musk, anunciou hoje que assinou um contrato na China para construir a sua primeira fábrica de armazenamento em grande escala para a rede elétrica chinesa.
Um balão de ar quente tripulado incendiou-se e caiu causando a morte de oito das 21 pessoas que transportava, hoje, no estado de Santa Catarina, sul do Brasil, confirmaram as autoridades.
A administração norte-americana para a Alimentação e Medicamentos (FDA) aprovou esta quarta-feira o primeiro tratamento preventivo contra o VIH no país, revelou o fabricante do medicamento, o laboratório farmacêutico Gilead Sciences.
O Ministério Público colombiano anunciou na quinta-feira a detenção de um quarto suspeito, presumivelmente cúmplice da tentativa de assassinato de Miguel Uribe, senador e candidato conservador à presidência da Colômbia, que continua em estado crítico.
O número de mortos nos ataques lançados na terça-feira pelo exército russo contra a capital ucraniana, Kiev, subiu de 10 para 23, segundo as autoridades ucranianas.
A maioria dos trabalhadores utiliza ferramentas de inteligência artificial gratuitas, mas 43% dos portugueses admitem que raramente ou ocasionalmente verificam a exatidão dos resultados, conclui um estudo da KPMG em parceria com a Universidade de Melbourne.
A Comissão Europeia pediu hoje aos Estados-membros da União Europeia (UE) que submetam, até março de 2026, planos nacionais para eliminação gradual das importações de gás russo, visando abandonar os combustíveis fósseis da Rússia até final de 2027.