Medo e cansaço do “fator China” marcam campanha para eleições em Taiwan

A campanha para as eleições de dia 13 em Taiwan tem sido marcada pelo receio de um conflito armado e o cansaço causado pela tensão com a China, disseram analistas à Lusa.

© D.R.

A ilha, com 23 milhões de habitantes, vai eleger o substituto da atual Presidente Tsai Ing-wen, constitucionalmente impedida de concorrer a um terceiro mandato, e os 113 deputados do parlamento.

“A China tem sido e continua a ser o fator dominante em todas as eleições a nível nacional”, disse Yen Wei-Ting, professora de ciências políticas na universidade Franklin and Marshall College, nos Estados Unidos.

A investigadora natural de Taiwan, que regressou à ilha para acompanhar a campanha, sublinhou que o principal tema dos dois debates eleitorais foi “como lidar com a China”.

O principal partido da oposição, tradicionalmente mais próximo de Pequim, tem acusado o Partido Democrático Progressista (DPP, na sigla em inglês), atualmente no poder, de “arrastar Taiwan para uma guerra”, disse Chen Fang-Yu, professor de ciências políticas na Universidade de Soochow, em Taiwan.

Esta estratégia do Kuomintang (KMT) “já mobilizou com sucesso algumas das emoções e do medo de um potencial conflito armado”, adiantou Chen.

Todos os partidos defendem a manutenção do status quo, uma política sobre a qual há “um enorme consenso” entre a opinião pública na ilha, sublinhou Chen, coeditor do portal de análise “Quem Governa Taiwan”.

Mas há diferenças de método, referiu Yen Wei-Ting. O DPP defende a necessidade de “diversificar a base económica” de Taiwan para reduzir “a armadilha” da dependência da China.

Já o KMT quer relações mais próximas com Pequim e um relativo afastamento dos Estados Unidos, o principal aliado e fornecedor de equipamento militar de Taiwan, defendendo que “só haverá paz se negociarmos com a China”, disse Chen Fang-Yu.

No entanto, o editor-chefe do ‘think-tank’ US Taiwan Watch (‘Observatório EUA Taiwan’), admitiu que “a maioria das pessoas, e ainda mais entre as gerações mais jovens, não confia no Partido Comunista Chinês nem quer uma negociação política” com Pequim.

Muitos jovens sentem que “todos os candidatos [presidenciais] são muitos semelhantes no que toca ao tema China e por isso vão votar com base em outros fatores”, previu Yen Wei-Ting.

Chen Fang-Yu disse acreditar que a atual campanha tem sido “um pouco diferente”, precisamente porque os eleitores jovens “querem mais atenção aos assuntos domésticos, económicos e ao seu futuro”.

O académico defendeu mesmo que muitos eleitores “simplesmente odeiam discutir tudo o que esteja ligado” a Pequim, até porque “acreditam que seria extremamente difícil para a China realmente invadir” Taiwan.

“Este cansaço” que o eleitorado sente, disse Chen, pode beneficiar Ko Wen-je, o candidato do Partido do Povo de Taiwan (TPP, na sigla em inglês) que se apresenta como alternativa ao KMT e ao DPP, que têm dominado a política da ilha.

O investigador resumiu a política de Ko Wen-je, antigo presidente da câmara de Taipé: “Devemos ser mais amigáveis, não devemos falar demasiado da China, não devemos espicaçar a China”.

Chen Fang-Yu descreveu o líder do TPP como “o típico político oportunista”, mas admitiu que poderá conseguir mais de 15% dos votos, graças a eleitores que veem nele “uma nova esperança de quebrar a tradicional estrutura política” de Taiwan.

Mesmo que o atual vice-presidente William Lai Ching-te se torne o novo chefe de Estado, o académico previu que Ko Wen-je e o KMT, “tradicionalmente muito forte” nas áreas rurais”, irão impedir o DPP de obter uma maioria no parlamento.

“Se for esse caso, irá criar novos desafios para o novo executivo”, sublinhou Yen Wei-Ting.

A investigadora disse que “entre 60 a 65% da população quer uma mudança, porque são como quaisquer outros eleitores numa democracia madura”.

“O problema de Taiwan é que nós não somos uma democracia normal. Qualquer eleição é sempre uma disputa pela sobrevivência do Estado”, resumiu Yen.

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