Na semana em que terminaram as duas sessões plenárias anuais do órgão legislativo da China, o professor do Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA) notou à agência Lusa em Lisboa como a economia no país asiático está a “abrandar, a arrefecer”: “após a pandemia da Covid-19, é a única grande economia não envolvida numa guerra que não está a recuperar bem”.
A nível da gestão de políticos, Wang sublinha as mudanças, num ano, dos ministros dos Negócios Estrangeiros, da Defesa, e das Finanças, algo “bastante singular” na China.
Wang indicou ser a “primeira vez desde a Revolução Cultural (1966-1976) que se vê uma muito brusca, muito rápida e inexplicável remodelação dos gabinetes da administração, pelo que os observadores têm sugerido que a liderança chinesa está a enfrentar algum tipo de problema”.
Entre as justificações podem estar dificuldades do Presidente Xi Jinping em gerir os líderes de topo ou que estes líderes “estejam a desenvolver algum tipo de ressentimento, algum tipo de vozes dissidentes”, segundo o autor do livro “The China Race: Global Competition for Alternative World Orders”, apresentado em Lisboa, no âmbito das Conferências da Primavera do Centro Científico e Cultural de Macau.
Na reunião anual do órgão máximo legislativo foi notada ainda a não realização da tradicional conferência de imprensa do primeiro-ministro.
“Era assim desde há 30 anos, mas pararam de repente, sem qualquer razão em especial”, segundo o investigador.
Isto, adianta, pode ter como fim evitar que a imprensa faça “perguntas críticas” ou porque o atual chefe de Governo, Li Qiang “é visto como extraordinariamente fraco em comparação” com os seus antecessores. Outra possível razão é evitar sobreposições ao Presidente, refere Wang.
O académico também recordou a recente deslocação de Li Qiang à Europa sem que tivesse havido declarações ou decisões relevantes.
Também por realizar está o terceiro plenário, desde o outono, dedicado à Economia, e novamente a explicação pode estar na incerteza sobre as respostas a dar nesta área, estando o Presidente Xi Jinping a defender a circulação interna e a menor dependência do exterior, o que parece “não estar a correr bem”, avaliou.
Neste contexto, Wang identificou, assim, sinais que sugerem que “Xi Jinping se está a comportar cada vez mais como Mao, Mao Tsé Tung, como um antigo poderoso líder”.
Segundo algumas opiniões, Xi Jinping “sente-se tão poderoso que já não precisa de se preocupar com o Plenário (económico)” ou com outros “rituais cerimoniais”, como a habitual conferência de imprensa, acrescentou.
À Lusa, o autor notou ainda que os legisladores também aprovaram um novo regulamento sobre a organização do Conselho de Estado, “sugerindo que um primeiro-ministro é mais secretário do Presidente Xi Jinping do que, digamos, chefe de governo” além de “subjugar” aquela entidade à vontade do partido, já que a autonomia “diminuiu muito”.
“Por isso, se combinarmos todos estes sinais ou regras, parecem sugerir que o poder pessoal está reforçado”, favorecendo “uma liderança autoritária e carismática, que o Presidente faça tudo de forma eficiente”, considera o investigador.
Num outro sentido mais perigoso, e a “julgar pela História”, também se aumenta a possibilidade de “cometer erros, grandes erros”, por não haver controlo, disse Wang.