Médicos Sem Fronteiras denunciam bloqueio “deliberado” do exército à ajuda humanitária no Sudão

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou hoje o bloqueio “deliberado” do exército sudanês do acesso humanitário às áreas controladas pelo grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR) no país, devastado pela guerra há quase um ano.

© Facebook de Médicos Sem Fronteiras

 

O presidente da Organização Não-Governamental (ONG), Christos Christou, afirmou numa conferência de imprensa ‘online’ que, durante o último ano de conflito, que mergulhou o país numa catástrofe humanitária, “foram emitidos muito poucos vistos” para a entrada de pessoal médico no Sudão, o que “dificultou drasticamente a resposta humanitária”.

O Parlamento Europeu lamentou igualmente que as autoridades sudanesas “tenham sistematicamente recusado autorizações para o transporte de pessoal médico e de fornecimentos” para as zonas controladas pelas FAR, principalmente para a região de Darfur, no oeste do Sudão, inacessível à ajuda humanitária, que tem de entrar pelo Chade.

“Esta é uma decisão deliberada para bloquear a assistência humanitária, violando o direito internacional humanitário e as leis da guerra e colocando em risco a vida de milhões de pessoas”, denunciou Christou.

O ativista recordou que 25 milhões de sudaneses necessitam de assistência humanitária, um aumento de 40 por cento em relação ao ano passado, enquanto 18 milhões enfrentam níveis agudos de fome.

A organização registou “níveis catastróficos” de desnutrição em algumas zonas do Sudão.

A guerra provocou a deslocação interna e externa de mais de 8,4 milhões de pessoas e ONU estima que 13.900 pessoas tenham morrido desde o início da guerra, um número que Christou disse poder estar a ser “subestimado”.

Só no Darfur Ocidental, ilustrou o presidente dos MSF, estima-se que “entre 10.000 e 15.000 pessoas foram deliberadamente mortas em violência étnica” às mãos de tribos árabes.

O único aeroporto operacional em todo o país está localizado em Porto Sudão, no leste, e as rotas terrestres para as áreas controladas pelas FAR em Cartum “não são viáveis”.

De acordo com os MSF, os bombardeamentos, os ataques de drones e o uso de armas pesadas destruíram grande parte das infraestruturas do Sudão, incluindo as instalações de saúde, e estima-se que apenas 20 a 30% dos centros de saúde estejam ainda operacionais.

A organização é um dos poucos grupos de ajuda médica ainda em atividade no Sudão, onde a maioria das ONG e mesmo as agências da ONU suspenderam as operações.

“A crise no Sudão é generalizada e está a aumentar de dia para dia, mas a resposta humanitária é profundamente inadequada. Não há dúvida de que existem enormes desafios no Sudão, mas não são insuperáveis. É possível aumentar a resposta humanitária e nós sabemos isso porque estamos lá”, afirmou Christou.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas anunciou no final da semana passada a chegada do seu primeiro carregamento de ajuda, em seis meses, à região sudanesa de Darfur, acusando “os impedimentos burocráticos e as ameaças à segurança”, que “tornaram impossível” a resposta humanitária às necessidades da população sudanesa, de acordo com um comunicado divulgado pela agência da ONU.

Em 23 de março, entraram no Darfur Norte, através da cidade fronteiriça chadiana de Tina, 16 camiões com 580 toneladas de produtos alimentares e, alguns dias mais tarde, outros seis camiões com 260 toneladas passaram por Porto Sudão, tendo sido este último o primeiro comboio de ajuda a atravessar a frente de guerra, segundo o PAM.

O Sudão mergulhou no caos em 15 de abril de 2023, quando se transformaram em guerra aberta as tensões há muito latentes entre os militares, liderados pelo general Abdel Fattah al-Burhan, e as FAR, comandadas por Mohamed Hamdan Dagalo, ex-número dois no Conselho Soberano – a junta militar que tomou o poder no país no golpe que depôs o antigo ditador Omal al-Bashir, em abril de 2019. Ambos os lado da guerra são acusados pelas organizações internacionais de crimes contra a humanidade.

Últimas do Mundo

O suspeito, detido no domingo, de uma presumível tentativa de assassínio do candidato presidencial republicano, Donald Trump, foi hoje indiciado por posse ilegal de arma e posse de arma com número de série apagado.
A francesa Gisèle Pelicot, drogada pelo marido durante dez anos para a sujeitar a dezenas de homens que a violaram enquanto estava inconsciente, dirigiu uma mensagem às vítimas de violência sexual afirmando que "não estão sozinhas".
Pelo menos 35 pessoas ficaram hoje feridas após um prédio habitacional, na cidade ucraniana de Kharkiv, ter sido atingido por uma bomba aérea russa, enquanto um casal morreu em Odessa, na sequência de um ataque de Moscovo com mísseis.
O Papa Francisco recordou hoje as mães que perderam os filhos nas guerras, apresentou publicamente as condolências à família do jovem refém israelita morto em Gaza, e apelou ao fim da guerra no Médio Oriente.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos países membros do G7 condenaram, numa declaração conjunta, a exportação de mísseis balísticos iranianos para a Rússia.
A Rússia anunciou uma troca de 103 prisioneiros, para cada lado, com a Ucrânia, envolvendo soldados russos capturados durante a ofensiva ucraniana na região fronteiriça de Kursk, noticiou a AFP, citando fontes militares de Moscovo.
O papa pediu hoje a jovens em Singapura que deixem a zona de conforto, sejam corajosos e não tenham medo de cometer erros, no último ato da viagem de Francisco na região Ásia-Pacífico.
O julgamento por múltiplas violações a uma mulher em Avignon, sul de França, foi suspenso até segunda-feira devido à ausência do principal arguido, Dominique Pelicot, dispensado das audiências por doença, anunciou hoje o tribunal francês.
A Organização Europeia de Consumidores (BEUC, na sigla inglesa) e 22 membros, entre os quais a portuguesa Deco, entregaram hoje uma queixa de manipulação de pagamentos contra empresas de videojogos, que visam, em particular, as crianças.
O governo ucraniano e o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegaram hoje a acordo relativamente à quinta revisão do programa de ajuda em vigor, abrindo a porta ao pagamento de uma nova tranche de 99,6 mil milhões de euros.