“Basta perceber o que aconteceu na Galiza para perceber o que não aconteceu em Portugal: há 30, 40 anos, os indicadores de desenvolvimento no Norte eram quase todos melhores do que na Galiza, hoje são quase todos piores. Isto é indiscutível e só pode ser explicado pela autonomia”, disse António Cunha, na abertura do XIV Congresso da Associação Internacional de Estudos Galegos (AIEG), que decorre na Universidade do Minho (UM), em Braga.
Assumindo-se um “devoto confesso” e defensor da regionalização, o presidente da CCDR-N afirmou que o centralismo “está a confrontar-se com o seu irracionalismo”, acreditando “que acabará por ser ultrapassado por uma regionalização”, mas que vai demorar tempo a construir.
“Continuamos marcados pelo centralismo que é quase esquizofrénico, porque não favorece ninguém. Neste momento, a própria Lisboa é talvez quem sofre mais os malefícios desta estrutura política do país. Hoje, um funcionário público não tem maneira de trabalhar em Lisboa, porque o preço da casa é três, quatro vezes maiores do que aqui, e a vida torna-se muito difícil”, enfatizou António Cunha.
Para o antigo reitor da UM, “Lisboa corre sérios riscos de ter uma congestão de concentração que a torna inoperável”, o que não é bom para ninguém.
“Aquela lógica de que a felicidade de uns está a ser conseguida à custa da infelicidade de outros não está a acontecer em lado nenhum, porque ninguém está a ter felicidade e alguns estão a ter o seu desenvolvimento inibido. Acredito na regionalização, que vai acontecer, mas a única maneira para acontecer, é como a estamos a tentar fazer agora, com um processo necessariamente longo e demorado, mas que vai num determinado caminho, e o que é preciso é que sejam dados passos sempre nesse caminho”, salientou António Cunha.
O presidente da CCDR-N deu o exemplo da autonomia da Galiza que, no seu entender, permitiu à região desenvolver-se nas últimas décadas.
“Hoje somos nós que admiramos a Galiza, confesso, que invejamos, com aquela inveja de irmãos, aquela inveja benigna, o desenvolvimento que a autonomia galega permitiu. A escolaridade, a esperança de vida, os níveis de rendimento são melhores na Galiza do que neste Norte, limitado pelo centralismo que desde o período dos descobrimentos tomou conta de Portugal”, vincou.
Quanto à Eurorregião Galiza – Norte de Portugal, o presidente da CCDR-N destacou que as regiões souberam manter ao longo dos séculos laços culturais e mercantis, sendo “o espaço de maior metabolismo relacional em toda a fronteira” de Portugal e Espanha.
“Acreditamos no futuro, mas queremos que seja mais conjunto: com mais cultura, com mais economia, com mais sustentabilidade, com menos fronteira. De facto, Lisboa e Madrid não percebem esta relação. De facto, não fazendo nada formalmente contra ela, normalizam-na no contexto das excelentes relações entre Espanha e Portugal. Mas a nossa relação não é excelente, é excecional, é única”, vincou António Cunha.
O presidente da CCDR-N lembrou que há mais de 15.000 trabalhadores transfronteiriços destacados ou a cruzarem diariamente o rio Minho, que há cadeias de valor integradas, do setor têxtil ao automóvel, que há uma promoção turística articulada, uma Proteção Civil partilhada, uma reserva da biosfera conjunta, o Gerês, intercâmbios em várias áreas e projetos inovadores reconhecidos internacionalmente.
“Mas devemos ir mais longe na economia, nos corredores logísticos, nomeadamente na ferrovia de alta velocidade para pessoas e mercadorias. O projeto da alta velocidade é da maior importância na estratégia para a eurorregião. Tudo aqui será diferente quando as nossas cidades estiverem a menos de uma hora de distância”, vaticinou António Cunha.