Julgamento de partido de direita radical alemão AfD é “tempo de antena gratuito” – analistas

O partido “Alternativa para a Alemanha” (AfD) voltou aos tribunais para contestar uma decisão de 2021 que permite às autoridades investigarem-no por suspeita de extremismo, transformando o processo num “tempo de antena gratuito”, segundo analistas ouvidos pela Lusa.

© Facebook de Tino Chrupalla

Para Floris Biskamp, especialista em política populista de direita da Universidade de Tübingen, o processo, que decorre menos de dois meses antes das eleições europeias, a 09 de junho, é “ambíguo” para a AfD.

“É preciso notar que ser classificado como extremista pelo Departamento Federal para a Proteção da Constituição (Bundesamt für Verfassungsschutz) provavelmente já não afetaria muito os seus resultados eleitorais. Aqueles que continuam a votar AfD sabem como a ‘corrente dominante’ os vê e já não se preocupam muito porque desconfiam das instituições”, apontou, em declarações à Lusa.

O caso remonta a 2021, quando o BfV passou de considerar a AfD “caso de interesse” a “caso suspeito” de extremismo. Na prática, o serviço de inteligência nacional passa a vigiar o partido de perto, podendo recrutar membros para serem informadores confidenciais ou “pessoas de confiança”.

A representar o partido na sessão de dia 11 de abril esteve o cabeça de lista às europeias, Maximillian Krah. Depois de novas provas serem apresentadas pela AfD, não é expectável que o processo termine antes das votações para o Parlamento Europeu.

“Se o tribunal decidir contra o AfD, isso poderá causar problemas para o partido e para os seus militantes, que passarão a estar sujeitos à observação dos serviços secretos. No entanto, a muito curto prazo, o julgamento é publicidade e tempo de antena gratuito. Ao enviar o seu principal candidato ao julgamento, a AfD tenta tirar proveito desta possibilidade”, revelou Floris Biskamp.

O politólogo da Universidade de Mainz, Jürgen Falter, investigador nas áreas do extremismo político e xenofobia, vê como “muito improvável” que o processo no Tribunal Admnistrativo Superior de Münster venha a “afetar significativamente” as hipóteses da AfD nas europeias.

“O público está a interessar-se muito pouco pelo processo em si para que isso aconteça. No entanto, se o pedido da AfD for rejeitado e for autorizado que o partido, com razão, passe a ser monitorizado pelo Departamento Federal para a Proteção da Constituição como suspeito de ser um partido extremista, isso tenderá a dissuadir os eleitores que ainda estão indecisos de votar na AfD”, defendeu, em declarações à Lusa.

O cientista político Marcel Lewandowsky, que publicou recentemente um livro sobre o populismo, considera que a maior parte dos eleitores da AfD é leal. Ainda assim, admite que o processo pode afetar os eleitores que ainda não têm a certeza da sua decisão.

“Mas estes são em menor número”, sublinhou à Lusa.

Os serviços de inteligência regionais dos estados da Turíngia e da Saxónia, que vão a votos para os seus parlamentos a 01 de setembro, e da Alta Saxónia, já classificam as sedes locais da AfD como “comprovadamente extremistas de direita”.

De acordo com as últimas sondagens, a AfD surge em segundo lugar no número de votos. Se as eleições europeias fossem hoje, a Alternativa para a Alemanha conseguiria 17,4% dos votos, atrás da União Democrata-Cristã (CDU) coligada com o partido irmão na Baviera (CSU) que obteria 29,3%, e à frente do partido do chanceler Olaf Scholz, o SPD, com 16,2%.

Últimas de Política Internacional

Na quarta-feira, o primeiro governo liderado por uma mulher em Itália cumpre três anos de mandato (iniciado a 22 de outubro de 2022).
A Polónia aprovou uma nova lei que isenta do pagamento de imposto sobre o rendimento todas as famílias com pelo menos dois filhos e rendimentos anuais até 140 mil zlótis (cerca de 33 mil euros).
O Parlamento Europeu (PE) adotou hoje legislação que facilita a retirada do direito de viajar sem visto para a União Europeia (UE) a partir de países que apresentem riscos de segurança ou violem os direitos humanos.
A Comissão Europeia disse hoje apoiar o plano do Presidente norte-americano, Donald Trump, para acabar com o conflito em Gaza, quando se assinalam dois anos da guerra e negociações indiretas estão previstas no Egito entre Israel e o Hamas.
O primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, apresentou hoje a sua demissão ao Presidente, Emmanuel Macron, que a aceitou, anunciou o Palácio do Eliseu num comunicado, mergulhando a França num novo impasse político.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, vai encontrar-se com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ao início da tarde, em Copenhaga, na Dinamarca, para uma reunião bilateral.
A presidente da Comissão Europeia saudou hoje o plano do Presidente norte-americano, Donald Trump, para terminar com a guerra em Gaza e que já tem aval israelita, indicando que a União Europeia (UE) “está pronta para contribuir”.
O partido pró-europeu PAS, da Presidente Maia Sandu, venceu as eleições legislativas na Moldova com mais de 50% dos votos, e deverá manter a maioria absoluta no Parlamento, segundo resultados oficiais após a contagem de 99,52% dos votos.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, questionou hoje a utilidade das Nações Unidas, acusando a organização de não o ter ajudado nos esforços para resolver os conflitos no mundo, e criticou o reconhecimento da Palestina.
Os Estados Unidos impuseram hoje a Lei Magnitsky à mulher do juiz brasileiro Alexandre de Moraes e ainda à empresa da qual Viviane Barci e os filhos são sócios.