Para Floris Biskamp, especialista em política populista de direita da Universidade de Tübingen, o processo, que decorre menos de dois meses antes das eleições europeias, a 09 de junho, é “ambíguo” para a AfD.
“É preciso notar que ser classificado como extremista pelo Departamento Federal para a Proteção da Constituição (Bundesamt für Verfassungsschutz) provavelmente já não afetaria muito os seus resultados eleitorais. Aqueles que continuam a votar AfD sabem como a ‘corrente dominante’ os vê e já não se preocupam muito porque desconfiam das instituições”, apontou, em declarações à Lusa.
O caso remonta a 2021, quando o BfV passou de considerar a AfD “caso de interesse” a “caso suspeito” de extremismo. Na prática, o serviço de inteligência nacional passa a vigiar o partido de perto, podendo recrutar membros para serem informadores confidenciais ou “pessoas de confiança”.
A representar o partido na sessão de dia 11 de abril esteve o cabeça de lista às europeias, Maximillian Krah. Depois de novas provas serem apresentadas pela AfD, não é expectável que o processo termine antes das votações para o Parlamento Europeu.
“Se o tribunal decidir contra o AfD, isso poderá causar problemas para o partido e para os seus militantes, que passarão a estar sujeitos à observação dos serviços secretos. No entanto, a muito curto prazo, o julgamento é publicidade e tempo de antena gratuito. Ao enviar o seu principal candidato ao julgamento, a AfD tenta tirar proveito desta possibilidade”, revelou Floris Biskamp.
O politólogo da Universidade de Mainz, Jürgen Falter, investigador nas áreas do extremismo político e xenofobia, vê como “muito improvável” que o processo no Tribunal Admnistrativo Superior de Münster venha a “afetar significativamente” as hipóteses da AfD nas europeias.
“O público está a interessar-se muito pouco pelo processo em si para que isso aconteça. No entanto, se o pedido da AfD for rejeitado e for autorizado que o partido, com razão, passe a ser monitorizado pelo Departamento Federal para a Proteção da Constituição como suspeito de ser um partido extremista, isso tenderá a dissuadir os eleitores que ainda estão indecisos de votar na AfD”, defendeu, em declarações à Lusa.
O cientista político Marcel Lewandowsky, que publicou recentemente um livro sobre o populismo, considera que a maior parte dos eleitores da AfD é leal. Ainda assim, admite que o processo pode afetar os eleitores que ainda não têm a certeza da sua decisão.
“Mas estes são em menor número”, sublinhou à Lusa.
Os serviços de inteligência regionais dos estados da Turíngia e da Saxónia, que vão a votos para os seus parlamentos a 01 de setembro, e da Alta Saxónia, já classificam as sedes locais da AfD como “comprovadamente extremistas de direita”.
De acordo com as últimas sondagens, a AfD surge em segundo lugar no número de votos. Se as eleições europeias fossem hoje, a Alternativa para a Alemanha conseguiria 17,4% dos votos, atrás da União Democrata-Cristã (CDU) coligada com o partido irmão na Baviera (CSU) que obteria 29,3%, e à frente do partido do chanceler Olaf Scholz, o SPD, com 16,2%.