“Hoje devíamos celebrar só, e apenas, o Dia do Divino [Espírito Santo] e reservar outra data para o Dia dos Açores. Se queremos celebrar politicamente esta nossa abençoada terra, então que seja o 06 de junho, antes que caia no esquecimento das gerações vindouras”, afirmou, referindo-se ao dia em que, em 1975, uma manifestação juntou em Ponta Delgada 10 mil pessoas, em grande parte agricultores.
Os manifestantes batiam-se por diversas revindicações perante o Governo central e contra uma eventual tomada do poder no país pelos comunistas. O protesto, conotado com a luta independentista no arquipélago, levou à queda do governador civil Borges Coutinho.
José Pacheco falava na sessão solene do Dia dos Açores, que este ano decorre na sede da Assembleia Legislativa da Região Autónoma, na cidade da Horta, ilha do Faial.
A data, feriado regional, é celebrada na segunda-feira do Espírito Santo, que é móvel.
No início do seu discurso, o deputado referiu que a Festa do Divino “é e sempre foi do povo, organizada e vivida por ele”.
“Esta é a prova de que vivemos numa terra de fé, um povo maioritariamente cristão e, se dúvidas houver, saiam dos gabinetes e percorram as nossas terras para o confirmar. O Estado pode ser laico, mas a maioria dos açorianos não o é. Isto não impede, nem nunca impediu, a liberdade de outros, os mesmos que tentam castrar a nossa liberdade religiosa, cultura e tradição”, disse.
Pacheco dirigiu-se depois aos homenageados no Dia da Região e agradeceu “por serem um bom exemplo para todos”, mas considerou que se retira prestígio e dignidade a quem recebe a distinção pelo seu mérito, quando se está também a “homenagear quem tinha uma tarefa para executar, pago para tal”.
“Assim sendo, é bom relembrar que são esquecidos todos os dias quem nos limpa a casa, quem nos recolhe o lixo, quem nos põe a comida na mesa, quem não o fez por uma medalha, mas sim por ser a sua função”, declarou.
“Se o critério é o de bem executar de uma tarefa, certamente conhecemos milhares de açorianos que a fazem bem feito todos os dias e a eles a única coisa que sabem pedir é um voto, e a maior parte das vezes nem um obrigado recebem”, acrescentou.
As comemorações que hoje decorrem na cidade da Horta são uma organização conjunta da Assembleia Legislativa e do Governo Regional açoriano, na sequência da instituição do Dia da Região Autónoma dos Açores, em 1980, para comemorar a açorianidade e a autonomia.
Na sessão solene vão ser impostas 31 insígnias honoríficas açorianas, que visam distinguir cidadãos e entidades que se notabilizaram “por méritos pessoais ou institucionais, atos, feitos cívicos ou por serviços prestados à região”.
Serão atribuídas duas insígnias autonómicas de valor, 10 insígnias autonómicas de reconhecimento, duas de mérito profissional, três de mérito industrial, comercial e agrícola e 14 insígnias autonómicas de mérito cívico.