Foi por volta das 18h12, do dia 5 de março do ano passado, que António Costa ligou para João Galamba e disse-lhe que “se isto se torna num inferno: é ela ou nós”, referindo-se à CEO da TAP, informando o então ministro das Infraestruturas que estava na altura de despedir Christine Ourmières-Widener para estancar a indignação junto da opinião pública.
Segundo a CNN Portugal, ouve-se na escuta telefónica Costa a assumir ser necessário fazer cair a gestora francesa por razões políticas, para contenção de danos de imagem do Governo. “Já falei com o Fernando [Medina, então ministro das Finanças] e politicamente nós não nos safamos mantendo a senhora, nem a senhora se safa politicamente”, assume Costa a João Galamba.
António Costa indicou ainda ter “um gajo muito bom” como solução para liderar a TAP, referindo-se a Luís Rodrigues, da SATA, justificando tratar-se de “um fator de tranquilidade e descompressão”.
“Isto significa que o Governo mentiu aos portugueses, significa que o então primeiro-ministro mentiu aos portugueses e que o que fez foi criar um artifício que levasse a um despedimento rápido da antiga CEO da TAP para se livrar daquilo que ele chamou o inferno político de então”, começou por acusar o presidente do CHEGA, André Ventura.
Após estas escutas terem sido tornado públicas, Ventura sustentou, em conferência de imprensa, na Assembleia da República, que “os elementos de conversação mostram uma coisa para lá de toda a evidência, que o despedimento da antiga CEO da TAP teve motivações políticas e não, ao contrário do que disseram, os então membros do Governo, Fernando Medina e João Galamba, motivações técnicas sustentadas nos relatórios e sobretudo sustentada na auditoria”.
Por essa razão, André Ventura anunciou que o CHEGA vai propor a audição, na Assembleia da República, de António Costa para dar explicações aos deputados.
“O CHEGA quer chamar com urgência António Costa ao parlamento para explicar qual foi o seu papel neste despedimento, quais foram os reais motivos e interesses por detrás deste despedimento e se é verdade, conforme as conversas indiciam e as escutas reveladas demonstram, que houve motivações absolutamente políticas de cálculo e tática eleitoral na forma como foi despedida a antiga CEO da TAP”, sustentou.
Note-se que Luís Rodrigues acabou mesmo por ser o nome escolhido, encontrando-se atualmente à frente da companhia aérea. Já Christine Ourmières-Widener prossegue um diferendo contra o Estado, a quem exige uma indemnização milionária depois do despedimento.
A CNN Portugal sabe igualmente que a defesa da antiga CEO pretende usar este material no processo que a colocou frente ao Estado e em que pede uma indemnização de perto de 6 milhões de euros.