Crescimento dos salários abranda. Remuneração média próxima do mínimo

Os rendimentos dos portugueses estão a crescer, mesmo com a inflação, mas há um abrandamento no ritmo das melhorias salariais, continuando a existir proximidade entre o salário médio e mínimo.

© D.R

Segundo os dados revelados pelo INE na semana passada, a remuneração bruta total mensal média por trabalhador (por posto de trabalho) aumentou 6,4% para 1.640 euros no segundo trimestre, face ao período homólogo. Em termos reais, ou seja, descontando a inflação, a subida foi de 3,6%.

Este número representa um abrandamento face ao trimestre anterior, terminado em março, quando a subida real foi de 4,2% relativamente ao período homólogo.

Para o economista João César das Neves, “ainda é cedo para falar de tendências” e afirmar se este abrandamento vai continuar, mas a evolução “mostra uma conjuntura pouco segura”, indica à Lusa.

Já Gonçalo Pina, professor associado de economia internacional na ESCP Business School, em Berlim, acredita que esta evolução “é mais um sinal do abrandamento em curso”, ainda que seja “natural depois de uns trimestres acima do esperado”.

“O mais crucial é mesmo perceber a que nível o crescimento dos salários vai estabilizar, ou seja, quais as perspetivas de médio longo prazo da economia portuguesa”, defende o economista, já que ainda é incerto, mas “provavelmente será abaixo dos valores do último ano”.

A ministra do Trabalho, Maria do Rosário Palma Ramalho, já tinha sinalizado que não se contenta que exista “um grande nível de contratos sem termo, se esses contratos correspondem a um nível remuneratório muito baixo”.

“Não me contento que tenhamos todos direito ao salário mínimo, quando a diferença face ao salário médio em Portugal é muito pequena. Isto não devia ser assim”, afirmou, numa apresentação no Centro de Relações Laborais em julho.

Se olharmos para a remuneração bruta base mensal média por trabalhador, que apenas diz respeito ao vencimento base, esta aumentou 6,4%, passando de 1.142 euros em junho de 2023 para 1.214 euros em junho de 2024.

Comparando este número com o salário mínimo, que atualmente é de 820 euros, a diferença é de 394 euros. Desta forma, o salário mínimo corresponde a cerca de 67% do salário médio em Portugal, sendo que tanto em 2023 como 2022 foi de 66%.

Existem também diferenças entre os vários setores de atividade, sendo que em alguns o valor é bastante próximo do mínimo. Segundo os dados do INE para o 2.º trimestre, na agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca, a remuneração base média foi de 810 euros, enquanto nas atividades administrativas e dos serviços de apoio foi 841 euros.

De destacar ainda o alojamento, restauração e similares, cuja remuneração bruta base média foi de 872 euros, bem como a construção, onde o valor base médio foi de 971 euros.

No extremo oposto encontra-se o setor da eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio, cuja remuneração bruta base foi de 2.545 euros, seguindo-se as atividades dos organismos internacionais e outras instituições extra-territoriais, com um valor base de 2.117 euros.

A estes valores base ainda acrescem depois valores como os subsídios de alimentação, que variam consoante as empresas.

De acordo com os dados mais recentes disponíveis, de 2023, cerca de um quinto dos trabalhadores em Portugal recebia o salário mínimo.

Já o valor do salário mínimo para o próximo ano é ainda incerto, sendo que o previsto no acordo plurianual de valorização dos rendimentos é uma subida para 855 euros, mas está marcada para setembro uma reunião do Governo com os parceiros sociais para discutir este tema.

Últimas de Economia

A Polícia Judiciária realizou hoje várias buscas no âmbito da privatização da TAP em 2015.
O Conselho Económico e Social (CES) considera "insuficiente o grau de clareza" das transferências internas da Segurança Social e recomenda que a Conta Geral do Estado (CGE) "passe a incluir dados detalhados" sobre a Caixa Geral de Aposentações (CGA).
O Banco Central Europeu (BCE) considerou que dez bancos importantes da zona euro tinham em 2025 provisões insuficientes para cobrir os riscos de exposições a crédito malparado, menos oito bancos que na revisão supervisora de 2024.
A Comissão Europeia decidiu hoje impor limites a importações de produtos de ligas de ferro (ferroligas) pela União Europeia (UE), como medida de proteção desta indústria.
O Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI) exigiu hoje o reforço urgente da segurança, após recentes disparos contra serviços de finanças da Grande Lisboa, durante a madrugada, e alertou para o agravamento do clima de segurança nos trabalhadores.
O Ministério Público realizou buscas de grande escala na TAP para investigar suspeitas de corrupção e burla na privatização feita em 2015. O caso, reaberto com novos indícios da Inspeção-Geral de Finanças, ameaça reacender uma das maiores polémicas da empresa.
Nos primeiros nove meses do ano, foram comunicados ao Ministério do Trabalho 414 despedimentos coletivos, mais 60 face aos 354 registados em igual período de 2024, segundo os dados da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT).
O Banco Central Europeu (BCE) anunciou hoje que vai solicitar mais informações aos bancos sobre os ativos de garantia que permitem mais financiamento.
A economia portuguesa vai crescer 1,9% em 2025 e 2,2% em 2026, prevê a Comissão Europeia, revendo em alta a estimativa para este ano e mantendo a projeção do próximo.
A Comissão Europeia prevê que Portugal vai registar um saldo orçamental nulo este ano e um défice de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2026, segundo as projeções divulgadas hoje, mais pessimistas do que as do Governo.