“A ausência e a não-atribuição do lugar do povo afegão ao verdadeiro representante dos afegãos é uma violação e perseguição dos direitos dos afegãos”, declarou o porta-voz adjunto do Ministério dos Negócios Estrangeiros talibã, Zia Ahmad Takal, citado pela agência de notícias espanhola EFE.
Segundo o porta-voz, tendo em conta o desenvolvimento económico, social e político do país desde o seu regresso ao poder – um argumento habitualmente utilizado pelos talibãs -, a comunidade internacional deveria tomar “decisões positivas” em relação ao Afeganistão.
“Esperamos que nesta cimeira, dada a atual e real situação do Afeganistão, sejam tomadas decisões positivas e apresentadas opiniões construtivas, considerando o desenvolvimento político, social e económico; a concessão de benefícios aos afegãos, a garantia das suas vidas e muitos mais avanços que se conquistaram no Afeganistão”, afirmou Takal.
O Governo ‘de facto’ dos talibãs tinha nomeado o líder do seu gabinete político em Doha, Suhail Shaheen, como representante permanente do Afeganistão junto das Nações Unidas, mas a ONU ainda não atribuiu um assento ao representante escolhido pelos fundamentalistas talibãs.
“Se a ONU atribuir o lugar ao representante escolhido, [Shaheen] poderá fazer o seu trabalho de forma responsável e defender os direitos do povo afegão”, sustentou o porta-voz talibã.
A 79.ª Assembleia-Geral da ONU, considerada um dos maiores acontecimentos diplomáticos mundiais, começou hoje em Nova Iorque.
No entanto, Naseer Ahmad Faiq, o representante interino – do Governo afegão deposto – nas Nações Unidas e chefe da missão permanente do Afeganistão na ONU, declarou que participará na sessão da Assembleia-Geral em nome do Afeganistão.
“É uma honra representar o Afeganistão na Assembleia-Geral (…). Um passo essencial para a solidariedade global, a sustentabilidade e a paz”, escreveu Ahmad Faiq, não-alinhado com os talibãs, na sua conta da rede social X (antigo Twitter).
Os talibãs retomaram o poder no Afeganistão assim que as tropas norte-americanas retiraram de Cabul, a 15 de agosto de 2021, após 20 anos de guerra e sob a promessa de que a sua chegada traria paz ao país asiático.
Três anos depois, os analistas não param de denunciar e condenar as “execuções sumárias, torturas, desaparecimentos e encarceramentos extrajudiciais” levados a cabo em nome da segurança, sem que exista “qualquer departamento específico para apresentar queixas”.
O reconhecimento internacional do Governo ‘de facto’ dos fundamentalistas é ainda escasso, mas nos últimos meses, a China nomeou um embaixador em Cabul e a Rússia mostrou-se, em junho, a favor do reconhecimento dos talibãs.