Disciplina da Cidadania marca debate com ministro da Educação, com críticas à esquerda e saudações à direita

A revisão da disciplina de Cidadania marcou hoje o debate setorial com o ministro da Educação no parlamento, com CDS-PP e CHEGA a saudarem a anunciada “libertação de amarras ideológicas” e PS, BE, IL, Livre e PAN a criticarem.

© Parlamento

Apenas a bancada do PCP não tocou neste tema, que entrou na agenda depois de o primeiro-ministro, Luís Montenegro, ter afirmado no domingo no Congresso do PSD que o Governo pretende na revisão desta disciplina “reforçar o cultivo dos valores constitucionais” e libertá-la “das amarras a projetos ideológicos ou de fação”, naquela que foi a passagem mais aplaudida do seu discurso em Braga.

Na resposta que foi dando às várias bancadas, o ministro da Educação, Fernando Alexandre, defendeu que “o ruído à esquerda e à direita” significa que a posição do Governo é a da moderação e lamentou que não tenham sido valorizados outros anúncios do primeiro-ministro no domínio das creches e pré-escolar.

“Não há nenhuma intenção de retirar a disciplina do currículo e não há sequer – a menos que a avaliação suscite a questão – a ideia de a disciplina passar a opcional”, disse, repetindo uma ideia já expressa na segunda-feira.

O ministro reiterou ainda que a revisão curricular em curso de todas as disciplinas já estava prevista e deverá estar concluída até abril, com quaisquer alterações a entrarem em vigor no próximo ano letivo.

“A mensagem que gostava de deixar aqui é que os temas que são cobertos nesta disciplina, incluindo a educação sexual e a identidade de género, são muito importantes. Temos que ter uma formação dos alunos que acompanhe os tempos e forme uma sociedade plural”, afirmou Fernando Alexandre.

Depois de, numa fase inicial do debate, o vice-presidente da bancada do PS Miguel Costa Matos ter acusado o Governo de estar a construir nas escolas “um passado bafiento” e o PSD desvalorizar uma revisão curricular já prevista, a deputada do CHEGA Manuela Tender defendeu que esta disciplina passe a ser facultativa e que dela sejam retiradas as referências ao que chamou de “ideologia de género”.

Pelo CDS-PP, o líder parlamentar Paulo Núncio saudou a posição do primeiro-ministro e defendeu que esta disciplina deve servir “para ensinar e não doutrinar as crianças”, considerando que não pode haver uma “imposição de pensamento único” nas questões de género e sexualidade.

Pela IL, Patrícia Gilvaz lamentou que, “com todos os problemas do sistema educativo”, o primeiro-ministro tenha escolhido “anunciar ao país que o grande problema da educação em Portugal é a disciplina da Cidadania”.

Na mesma linha, Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, questionou “quais são as amarras ideológicas” a que Luís Montenegro se referiu no Congresso do PSD, com o ministro a repetir que não será o Governo a definir o programa, embora possa fazer “uma intervenção política”, depois da avaliação técnica.

Filipa Pinto, do Livre, considerou que “a palavra sexualidade parece deixar a direita muito nervosa”, e questionou como irá ser feita avaliação desta disciplina, já que não tem testes nem exames, enquanto a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, acusou o PSD de ir a reboque da agenda do CDS-PP e do CHEGA.

O debate teve várias interpelações cruzadas, com o vice-presidente da mesa em exercício, o socialista Marcos Perestrello, a ter de apelar à calma das várias bancadas.

Apenas o PCP, pela líder parlamentar Paula Santos, optou por não abordar este tema, questionando o ministro da Educação sobre temas como a precariedade na investigação científica, as propinas ou o alojamento estudantil, matérias também referidas pela maioria das bancadas.

Últimas de Política Nacional

O Presidente da República criticou hoje a demora do parlamento em eleger os conselheiros de Estado, frisando que já espera há seis meses, e disse ter convocado uma reunião do órgão consultivo porque a Ucrânia “é um tema fundamental”.
Candidato presidencial recorre da decisão que manda retirar cartazes com a frase “Os ciganos têm de cumprir a lei” e acusa os tribunais de impor uma ‘mordaça’ à liberdade de expressão em campanha eleitoral.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, convocou o Conselho de Estado para 9 de janeiro para analisar a situação internacional e, em particular, na Ucrânia. A informação consta de uma nota divulgada esta terça-feira no site da Presidência da República.
Exigir que todos cumpram a lei passou a dar multa. O Tribunal Local Cível de Lisboa mandou retirar os cartazes de André Ventura e proibiu o candidato presidencial de repetir a mensagem, numa decisão que Ventura considera ser censura política.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vetou hoje os decretos da lei da nacionalidade, na sequência das inconstitucionalidades decretadas pelo Tribunal Constitucional, devolvendo-os à Assembleia da República.
O candidato presidencial Luís Marques Mendes divulgou hoje uma lista com os 22 clientes da sua empresa, na qual se encontram prestações de serviços em consultoria, comentários e participações em conferências, e que inclui a construtora de Famalicão Alberto Couto Alves.
A Autoridade Tributária classificou como “antiga” uma moradia reconstruída em 2024 pertencente ao ministro da Presidência, António Leitão Amaro, permitindo-lhe pagar menos de metade do IMI devido.
Luís Marques Mendes encerrou a sua empresa familiar e mantém silêncio sobre clientes, contactos e serviços que lhe renderam centenas de milhares de euros.
Foi distinguido oficialmente pelo Estado, elogiado em Diário da República pela ex-ministra da Justiça e apresentado como um quadro exemplar da governação. Meses depois, Paulo Abreu dos Santos está em prisão preventiva, suspeito de centenas de crimes de pornografia de menores e de abusos sexuais contra crianças.
O presidente da Assembleia da República decidiu hoje não remeter ao Ministério Público o caso da adulteração da assinatura da deputada socialista Eva Cruzeiro, considerando não atingir o patamar de crime, embora se trate de ato censurável.