Os moradores enviaram já uma carta ao presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, à vereadora da Habitação, Filipa Roseta, à PSP, à Polícia Municipal, à empresa municipal Gebalis e ao presidente da Junta de Freguesia de Benfica, a alertar para o problema.
Em declarações à agência Lusa, Vera Lopes, uma das moradoras, contou que nos últimos meses a zona das casas de alvenaria tem sido alvo de roubos mesmo em casas ocupadas.
“Embora a maioria das famílias já tenha sido transferida, ainda permanecem várias habitações ocupadas por moradores que aguardam o seu realojamento. Nos últimos meses, temos vivido em constante medo pela nossa segurança. Durante a noite, indivíduos encapuzados têm invadido as habitações para roubar, algumas delas ainda habitadas. Há umas noites deitaram fogo a uma casa desabitada. As pessoas estão aterrorizadas e abandonadas”, disse.
Por isso, foi enviada uma carta a pedir que sejam feitas rondas policiais regulares e para que haja uma solução habitacional alternativa para os residentes das alvenarias, enquanto o processo de realojamento definitivo não fica concluído.
Contactado pela Lusa, o presidente da Junta de Freguesia de Benfica, Ricardo Marques, disse já ter pedido o reforço do policiamento à PSP e à Polícia Municipal (uma vez que se trata de património municipal e realojamento municipal), mas as famílias (22) dizem que ainda não viram os agentes no terreno.
“Nós temos um processo que está a ser relativamente lento para o que é habitual, de transferência de famílias, nesta fase de realojamento do Bairro da Boavista. Normalmente é um processo muito rápido […]. O realojamento está a ser feito desde 2010 progressivamente. O bairro e as casas de alvenaria, que são as casas com menos condições de habitabilidade, estão a ser reabilitadas por habitações novas”, disse.
Segundo Ricardo Marques, os serviços da Câmara Municipal de Lisboa e a Gebalis (empresa de gestão de bairros municipais de Lisboa) justificam o atraso no realojamento com a “complexidade de análise técnica destes últimos casos”.
“Aquilo que temos é uma parte grande do bairro, três ou quatro ruas, em que se calhar temos um habitante por rua com seis, sete casas abandonadas à volta da casa habitada. A câmara abandonou completamente a manutenção deste espaço, quer a iluminação pública, como nas estradas. […] Juntaram uma zona que está ao abandono com famílias a viver numa casa no meio de quatro ou cinco abandonadas à volta. Algumas emparedadas, outras não, o que cria um sentimento de insegurança brutal nestas famílias”, realçou.
Ricardo Marques contou que esteve reunido na semana passada com as famílias, que lhes mostraram vídeos, tendo-os já reencaminhado às autoridades.
“O novo fenómeno é que desde há três semanas está a surgir um surto de assaltos a estas casas e até […] assaltos com as pessoas em casa. Um total desrespeito […]. Estão a ser assaltados dia sim, dia sim”, contou.
O autarca já falou com a Gebalis e com a vereadora Filipa Roseta, que, acrescentou, justificaram a demora com as exigências da análise técnica.
“Há sempre um empurrar com a barriga, de que a análise técnica tem de ser feita nos seus ‘timings’ […], mas há aqui uma situação de emergência. Estamos a falar de sete a oito assaltos no espaço de cinco a seis dias”, explicou, sublinhando que “a junta não tem meios” para tratar de vigilância ou da transferência das famílias.
O Bairro da Boavista é uma das zonas abrangidas pelo programa de intervenção e reabilitação municipal que arrancou em Lisboa em 2023. Com o Morar Melhor, a Gebalis pretende intervir num total de 11 bairros.
Segundo informação do município, o Bairro da Boavista, que inicialmente seria provisório, foi criado no Estado Novo para dar resposta à precariedade habitacional dos anos 1930 e 1940. Na década de 1970 foram construídas mais de 500 casas de alvenaria, parte das quais começou a ser demolida em 2016 para dar lugar a novas habitações.
Em 2023 a Gebalis indicou estarem previstas, até 2026, intervenções de reabilitação em 34 edifícios e cerca de 700 frações neste bairro, com cerca de 3.200 residentes, distribuídos por perto de 1.400 fogos municipais.