Tribunal de Faro autoriza jovem que matou pai a ir para trabalho e médico

O Tribunal de Faro autorizou hoje o jovem acusado de matar o pai à facada numa aldeia de Tavira, que está em prisão domiciliária, a deslocações para trabalho e médico, e determinou a realização de uma nova perícia psiquiátrica.

© D.R.

“Achamos que o senhor precisa de trabalhar e ir ao médico, a suas próprias expensas”, disse a presidente do coletivo de juízes durante a sessão de hoje do julgamento, ressalvando que a autorização “não significa que é uma antecipação da decisão” final.

A autorização concedida permitirá ao jovem ausentar-se da casa da tia, onde está em prisão domiciliária, estritamente para o futuro local de trabalho e para o acompanhamento psicológico.

Maurício Cavaco, acusado de matar o pai à facada numa aldeia de Tavira, para alegadamente defender a mãe de uma situação de violência doméstica, está ser julgado por um tribunal de júri, em Faro.

O crime ocorreu em dezembro de 2023 na casa da família, na aldeia de Várzea do Vinagre, na freguesia de Santa Catarina da Fonte do Bispo, no distrito de Faro, quando o jovem, na altura com 19 anos, alegadamente interveio em defesa da mãe, matando o pai, de 63 anos.

A advogada de defesa disse à Lusa que já tinha requerido em dezembro de 2024 a permissão para que o jovem fosse autorizado a trabalhar, de forma a ser “minimamente enquadrado na sociedade”, o que tinha sido indeferido.

Elisabete Romão entende que a mudança de opinião do coletivo de juízes e do tribunal de júri terá sido originada pela audição, hoje, do médico psiquiatra que realizou uma perícia ao jovem um mês após o crime.

Ouvido por videoconferência, o especialista do Hospital de Faro lembrou que diagnosticou ao acusado “stress pós-traumático, perturbação depressiva e perturbação de ansiedade”, a partir de “uma série” de instabilidades emocionais e afetivas.

O médico psiquiatra considerou que o jovem “é uma pessoa desfeita, ao nível da autoestima”, e que tinha “memórias perturbadas”, culpando-se pelo ato e atribuindo o papel de vítima ao pai, o que resultará do “stress crónico” a que alegadamente foi sujeito.

Segundo o especialista, na altura do crime, a “situação de autodefesa” implicou “a diminuição da avaliação das consequências de uma agressão de tal calibre” e “a completa anulação da avaliação da ilicitude” do ato.

O médico defendeu que o jovem, se não for tratado, poderá ter atitudes e reações “mais explosivas” e comportamentos “mais imprevisíveis”, embora tenha ressalvado que será “mais perigoso contra ele próprio” do que contra outras pessoas, e, questionado pela defesa se seria um perigo para a sociedade, desde que tratado, respondeu de forma negativa.

A defesa realçou à Lusa que o testemunho do psiquiatra acentuou o que o próprio já tinha descrito no relatório médico-legal entregue ao tribunal, que “considerava a inexistência do elemento subjetivo de culpa”, ou seja, “que ele não tem vontade da prática do ilícito”.

Contudo, o tribunal determinou a realização de uma nova perícia psiquiátrica, “para não haver dúvidas nenhumas”, segundo a presidente do coletivo de juízes.

O tribunal quer apurar, entre outros quesitos, se à data dos factos o arguido apresentava uma anomalia psíquica suscetível de perturbar a avaliação da ilicitude do ato e se possuía a capacidade de entender as consequências desse ato.

O julgamento será retomado em 12 de março, para ouvir o enfermeiro e o médico do Instituo Nacional de Emergência Médica que socorreram o pai do jovem e para as alegações finais.

Na primeira sessão do julgamento, em 09 de janeiro, Maurício Cavaco assumiu o crime, tendo sido o próprio a ligar para o número nacional de emergência, mas disse não se lembrar do momento em que desferiu o primeiro golpe e os restantes, numa altura em que a mãe já tinha abandonado a casa para pedir ajuda aos vizinhos.

O jovem relatou que nunca tinha pensado em matar o pai, descrevendo-o como uma pessoa violenta e contando que, pelo menos nos últimos 10 anos, ele e a mãe eram alvo de constantes ofensas, humilhações e ameaças por parte do homem, que ameaçava mesmo a mulher de morte.

O jovem está em prisão domiciliária na casa de uma tia, depois de ter passado alguns meses na prisão a aguardar os procedimentos para a colocação de pulseira eletrónica.

Várias centenas de pessoas assinaram, no ano passado, um pedido de libertação do jovem, alegando que este foi vítima de maus-tratos e que não constitui um perigo para a sociedade.

Os tribunais de júri só são possíveis para casos em que a pena máxima dos crimes em causa seja superior a oito anos de prisão, estando vocacionados para os chamados “crimes de sangue”.

Últimas do País

O Tribunal Judicial de Leiria condenou hoje um homem a 22 anos de prisão pelo crime de homicídio qualificado da mulher, em maio de 2024, no concelho de Porto de Mós.
Cerca de 1.700 quilogramas de haxixe, lançados ao mar por tripulantes de uma embarcação de alta velocidade, que fugiram, foram hoje apreendidos no Rio Guadiana, numa operação das polícias portuguesas e espanholas, informou a GNR.
O Sindicato Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro Portugueses (SMAQ) rejeitou hoje que a greve na CP tenha motivações políticas e responsabilizou o Governo pelo transtorno causado às populações, por não cumprir um acordo negociado.
Portugal é o sexto país europeu com maior número de casos de mpox no período 2022-2025, indica o último boletim sobre a doença divulgado na página do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC).
O Governo alargou até final de junho o prazo para pagamento do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) devido a “constrangimentos técnicos” associados ao “apagão” que atrasaram o envio de muitas notas de cobrança pela Autoridade Tributária (AT).
As escolas privadas querem ter mais liberdade para desenhar os seus currículos e para contratar licenciados de outras áreas, revelou a associação representativa do setor, explicando que estes futuros professores teriam formação pedagógica nos próprios colégios.
A adesão ao segundo dia de greve dos trabalhadores da CP - Comboios de Portugal era às 07:30 de 100%, com toda a circulação parada, disse à Lusa fonte sindical.
Os dois detidos na terça-feira no âmbito da operação SKYS4ALL, que investiga uma alegada rede de tráfico internacional de droga por via aérea e em que o cantor Nininho Vaz Maia foi constituído arguido, saíram hoje em liberdade.
Cerca de 241 mil eleitores inscreveram-se até às 8h00 de quarta-feira na modalidade de voto antecipado em mobilidade, segundo a Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI).
O alegado grupo criminoso organizado detido na terça-feira terá auxiliado milhares de imigrantes ilegais com a ajuda de “uma toupeira” no Ministério dos Negócios Estrangeiros, revelou hoje o diretor da Polícia Judiciária (PJ) do Centro.