“Há aqui várias perspetivas e linhas de investigação que nós não podemos desprezar, porque é preciso perceber se estes dados foram colhidos junto das vítimas, se estes dados saíram, eventualmente, de um compromisso interno, ou, naturalmente, não desprezamos de igual forma, que tenha havido um ciberataque sobre as infraestruturas da Segurança Social e que uma base de dados com ‘usernames’ e com ‘passwords’ pudessem ter sido expostas na internet ou na ‘dark web'”, disse aos jornalistas o diretor da unidade da PJ responsável pela investigação.
O diretor da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e Criminalidade Tecnológica (UNC3T), Carlos Cabreiro, falava aos jornalistas numa conferência de imprensa na sede da PJ, em Lisboa.
A PJ anunciou hoje ter detido 45 pessoas — a que entretanto se juntaram mais duas detenções – no âmbito de uma investigação de burla que lesou centenas de utentes da Segurança Social Direta, que viram as suas prestações sociais desviadas para contas bancárias dos suspeitos.
“Posso avançar que, neste momento, já existem mais dois detidos, além dos 45 que foram detidos inicialmente. E as investigações prosseguem e tencionamos, provavelmente, no próximo dia, nas próximas horas, avançar com mais detenções”, disse o diretor da UNC3T.
Carlos Cabreiro explicou que foram identificados oito grupos, todos com relação entre si através de alguns dos seus membros.
O ‘modus operandi’ deste esquema consistia na angariação de ‘money mules’, recetores do dinheiro desviado aos pensionistas que recebiam as prestações sociais por transferência bancária através do NIB indicado na plataforma da Segurança Social Direta.
“Há um conjunto de indivíduos que lideravam estes grupos, que tinham conhecimento dos dados que motivavam a alteração na Segurança Social e iam procurar as chamadas ‘money mules’, que disponibilizavam o dinheiro. E o contacto direto que era feito entre os líderes destes grupos era com estas pessoas que se disponibilizavam a receber o dinheiro. A interligação era feita entre os chamados angariadores de cada um dos grupos, para um bolo comum, digamos assim”, explicou Carlos Cabreiro.
A investigação, que se iniciou em setembro de 2024 e se reporta a factos desde junho desse ano, tem por base uma denúncia da própria Segurança Social e dos lesados pelo esquema criminoso, juntando à investigação um “conjunto vasto de outras participações, de outros inquéritos, que resultavam das participações das vítimas”.
“Nós estamos a falar neste momento e identificámos 531 vítimas. Sabemos que aparecerão naturalmente outras vítimas”, disse o diretor da UNC3T.
Segundo explicou o diretor da unidade da PJ, a Segurança Social adotou medidas de segurança nos pagamentos a pensionistas, impedindo, por exemplo, que a alteração do NIB possa ser feita ‘online’, exigindo agora que seja feita presencialmente.
Segundo os dados recolhidos até ao momento pela PJ, foram desviados cerca de 238 mil euros dos pensionistas através deste esquema.
Os suspeitos estão indiciados por crimes de associação criminosa, burla informática, falsidade informática e acesso ilegitimo e indevido.