A BARCA NO INFERNO

“A mão que nos destrói é sempre mão cobarde,
Esconde-se no bolso anónimo, vulgar:
Por ela, o resto do que fomos arde
Pra não termos mais naves sobre o mar.
Esta é a última tarde
Que só Pessoa soube adivinhar.
Como posso pedir que Deus nos guarde,
Se não há nada pra guardar?”
António Manuel Couto Viana (1988)

Sou portuense desde sempre e para sempre. Sou mais urbano, que rural. Adoro o campo e as suas gentes, mas é um espaço de contemplação ao qual não pertenço. Porém, como legatário de uma casa que está na família há três séculos no concelho de Ponte da Barca, nutro naturalmente um carinho muito especial pela região. Sou do Porto, mas trago a Barca no coração.

Ermida, Soajo, Lindoso, com a sua água abundante, os seus verdes, os seus espigueiros, os seus pedregulhos, os seus castelos, são lugares lindíssimos e bravios, que a modernidade ainda não terraplanou. Lugares idílicos para os quais não poucas vezes me evadi para pensar, reflectir, (re) equilibrar, respirar ar puro, sendo frequentemente parado no caminho por um cavalo garrano ou uma vaca barrosã a usufruir de uma liberdade do início dos tempos.

É assim com uma profunda mágoa e aperto no peito, que assisti a mais um horrível incêndio, uma catástrofe ambiental que feriu de morte parte de um fantástico território, despovoado e envelhecido, mas ainda virgem, mas ainda nosso.

Todavia é também com revolta e sentido de justiça que olho para esta tragédia, que é apenas um exemplo, para mim mais próximo, dum inferno que se repete ano após ano por todo Portugal, que indigna, que repugna, e que não será resolvido com conversa política balofa de quem quer deixar tudo na mesma, a passar o ónus para os proprietários dos terrenos e a culpar os pirómanos e “bêbados da aldeia”. O problema dos incêndios, porque é um problema (também) de crime organizado, só se resolverá investigando e agravando drasticamente a moldura penal. E é aí que contamos com o CHEGA: não pode haver misericórdia para os algozes da nossa terra, gananciosos sádicos e sociopatas, que arrasam todos os verões o nosso povo, os nossos ecossistemas.

Mão dura para a mão cobarde dos que nos destroem.
Estivéssemos nós noutro tempo e não existiriam cordas suficientes.

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