Ah, que raio de espectáculo temos diante de nós, caros leitores, ou, para usar uma expressão mais elegante, estimados cidadãos de palavra e pensamento, onde o pomposo título de “Comunicação Social” se revela, afinal, como um consórcio de bajulação automática, com o intitulado “direito à notícia” pendurado nas vitrinas do sistema, ideologicamente de esquerda e também, de esquerda radical.
Imaginem só, há 51 longos anos (sic!), este mesmo aparelho mediático alterna-se no poder, como se um par de bailarinos de salão, trocassem posições no fim do tango, onde a dança não muda, apenas os rostos é que vão variando e eis que se proclama, com todas as formalidades possíveis, o célebre “BBC Gate”, aquele episódio em que o alvo foi Donald Trump e que, segundo a narrativa dos arautos do escândalo, abalou os alicerces da confiança pública, com danos colaterais inqualificáveis, sim: porque se as “fontes independentes” falam em nome de todos, quando erram… erram para todos.
Mas deixemos os floreados e vamos ao âmago, estes canais, televisivos, radiofónicos, impressos (ou “quase impressos”), antes as únicas janelas para o povo, veem agora o seu monopolismo quebrado. Porquê? Ora pois: as novas tecnologias, tablets, smartphones, computadores, abriram as comportas, que qual torrente, o Mundo viu, “info esta”, “notícia aquela” e aqui entra o fenómeno recente, a tal da desinformação, factual ou fraudulentamente fabricada, enviesada, idealizada para servir narrativas mais do que verdades.
E os números não mentem, um em cada três portugueses vê diariamente informação falsa, 81% preocupam-se com esse flagelo, mais de 75% dos cidadãos já não confiam em nenhum órgão de comunicação social, porque veem neles madrassas ideológicas onde o Verdadeiro Jornalismo foi gentilmente conduzido à saída, com um chá de despedida, pois estas entidades formam jovens nas universidades, não para servir a verdade, mas para adjectivar os compromissos que o sistema lhes impôs desde o berço e a capela da doutrina.
E que consequências brotam desta imensa horta malguinha da era digital? Consequências políticas, sociais, económicas e ambientais, custando mais de €72 mil milhões anuais (sim, lê-se bem) de prejuízos à sociedade e sabe quem não quer que isso acabe? Os mesmos que beneficiam do sistema, aqueles que criam as «fake news», que manipulam opiniões, moldam narrativas, influenciam eleições e minam instituições.
Pensemos neste paralelismo, tal como o Estado português, com fino cálculo, espera arrecadar €1.676 milhões com a venda de tabaco, apesar de gastar €900 milhões no combate ao cancro do pulmão, a conclusão é que não parece haver, na alta política, grande interesse em eliminar a desinformação, porque o negócio da manipulação também rende.
E aqui entramos no espírito libertário do cidadão informado, o povo português não se deixa enganar (ou pelo menos, tenta), porque já recorre às suas armas tecnológicas, às bibliotecas, aos livros e talvez pertença a ele a frase lapidar: «Eu não vejo telejornais, nem leio jornais, porque quero-me manter informado!», porque, meus caros, a verdadeira informação exige esforço, curiosidade, espírito crítico e não está à venda numa assinatura premium nem se esconde atrás de manchetes bombásticas.
Assim, convido-vos a levantar o véu da complacência, a questionarem as fontes com o cepticismo que merece este teatro mediático e recordar que a ironia aguda com que Eça de Queirós desenhou os vícios da sociedade portuguesa, a apatia, a vaidade, a duplicidade, permanecem actuais.
Que cada um de nós se converta em repórter de si próprio, crítico das narrativas que nos são fornecidas e vigilante, quanto aos factos que nos são ocultados, ou melhor, “adaptados”, porque, se a confiança foi roubada, resta-nos a vigilância e se o jornalismo tornou-se institucional, que aumente o jornalismo do indivíduo.
E como diria o nosso Eça interpretado ao minuto, “ridículo é o comentário que se julga independente quando sorri ao patrão, mas trágico é o silêncio do leitor que aceitou a dose diária sem questionar o que bebeu.”
Fica o aviso, fica o convite e que a dúvida seja mais que má companheira, que seja o estímulo diário.