Nascer e morrer na Figueira da Foz

Foi pelas 00:00 do dia 04 de novembro de 2006 que não só os residentes no concelho da Figueira da Foz, mas também alguns dos vizinhos de Soure, Pombal e Cantanhede se viram privados daquilo que deveria ser um direito básico, nascer na sua terra, ou o mais próximo desta.

Nessa altura justificou-se, como se isso fosse justificável em áreas como a Saúde Natal, que o número de partos realizado nos serviços de maternidade do hospital distrital da Figueira da Foz era insuficiente para segundo o poder político em Lisboa, chefiado pelo então primeiro-ministro José Sócrates, manter o serviço a funcionar. Desde então  sucederem-se os governos, mas nunca mais houve coragem política para fazer a justiça devida. As opções daí para cá foram a maternidade do Hospital Santo André em Leiria ou Coimbra, aqui com as grávidas em condições normais a poderem optar pelas maternidades Bissaya Barreto ou pela Daniel de Matos. A grande maioria escolhe compreensivelmente Coimbra, dado o melhor conhecimento da cidade e por haver também uma maior oferta de transportes públicos entre as duas cidades, o que não sucede com Leiria, sim porque os decisores políticos esquecem-se que uma parturiente não regressa logo a casa tendo os seus familiares de fazer viagens para cima dos 100km várias vezes.

Desde o seu encerramento que as noticias de nascimentos a bordo de ambulâncias dos bombeiros voluntários da Figueira da Foz são frequentes, a maioria na A14 , mas também em casa, na urgência do hospital da Figueira ou mesmo quase às portas da maternidade em Coimbra. Tem corrido bem e ainda bem, muito graças à dedicação e notável trabalho das equipas dos bombeiros voluntários Figueirenses.

Passaram quase 20 anos, a Figueira mudou, o país mudou, o mundo mudou. Chega a ser inaceitável a deterioração dos serviços públicos de saúde, neste caso no que à natalidade diz respeito. Hoje a Figueira como um pouco por todo o lado fervilha de gente, pessoas de outras nacionalidades que aqui escolheram viver e como tal aqui (Coimbra) têm os seus filhos, a natural pressão sobre os serviços é muita, acho que está mais do que na hora de em Lisboa, uma vez que foi assim que a encerraram, voltarem a pegar na máquina de calcular e fazer contas, para rapidamente concluírem que a Figueira da Foz pode, deve e merece ter a sua maternidade de volta.

Concluo com uma referência estranha, mas sintomática a meu ver, por um lado deixou de se poder nascer na Figueira da Foz, mas desde 2008 que se pode cremar um corpo neste concelho, neste caso um investimento de 1,5 milhões de euros que sendo gerido por privados pressupõe naturalmente que os mesmos daí obtenham o seu natural lucro.

Portanto é caso para dizer que nascer para o estado dá prejuízo, mas morrer para o privado dá lucro!

Estranho.

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