Falta de recursos e pressão no SNS aumenta risco nos doentes oncológicos

A falta de recursos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que perdeu capacidade de resposta, e o aumento da pressão assistencial está a aumentar o risco para os doentes oncológicos, segundo um relatório hoje divulgado.

© facebook/ipolisboa

O documento descreve os recursos existentes no SNS para a gestão da doença oncológica em 2022, baseando-se em questionários a mais de 40 instituições hospitalares, que reportaram 48.515 novos diagnósticos oncológicos, uma estatística que os técnicos acreditam sobrestimar a real incidência cumulativa, pois “o mesmo doente poderá ter sido registado em mais do que uma unidade”.

O relatório sublinha a existência de “assimetrias assistenciais” e o “elevado rácio de primeiras consultas por médico especialista” e admite que “é possível que os doentes oncológicos estejam expostos a um risco superior ao esperado”, em consequência da maior pressão assistencial de algumas instituições e do risco de perda de capacidade de resposta clínica no SNS.

Indica que, globalmente, os recursos humanos na área da oncologia médica, radioncologia, e dos físicos médicos “estão subdimensionados para a atividade clínica das instituições” e sublinha a ausência de médicos em presença física nalgumas unidades de hospital de dia.

Refere ainda que a estrutura dos recursos humanos identificada pelas instituições não apresenta diferenças relevantes por comparação com os valores de 2020.

Em declarações à Lusa, o diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, José Dinis, chamou a atenção para a necessidade de definir redes de referenciação oncológica nacional, lembrando que pretende ter como base “a reformulação dos cuidados prestados”.

“Reformular a rede dos tratamentos oncológicos em Portugal é, para mim, uma prioridade e está alinhada, neste momento, com as grandes bandeiras europeias e as grandes recomendações que vêm da Comissão”, afirmou, acrescentando que “pode haver no futuro acesso a fundos europeus para estas redes e isto tem de estar formalizado”.

Para o responsável, o que em está “em causa não é só o tempo que demora a cirurgia”, mas também “todo o seguimento do doente desde que se levanta a suspeita”.

Lembrou que esta situação já ocorre, por exemplo, no cancro pediátrico, em que “só quatro hospital é que o executam”, e recorda que a pressão sobre os hospitais “não é de agora”.

O relatório hoje divulgado lembra que as doenças oncológicas representam a segunda causa de mortalidade e a principal causa de perda de anos de vida ajustados para a morbilidade em Portugal, sublinhando que a “gestão otimizada” da doença oncológica obriga à constituição de equipas multidisciplinares “que integrem o conhecimento das múltiplas áreas da medicina e de outras áreas técnicas e cientificamente associadas”.

Na análise dos recursos dedicados à oncologia, conclui que a sua distribuição “não acompanha a pressão assistencial das diferentes instituições”, quer quando se considera o volume de novos casos, quer no volume de primeiras consultas.

No que diz respeito à atividade clínica em oncologia, o documento aponta igualmente “desigualdades marcadas na atividade médica”.

Apesar da concentração da atividade em radioncologia em 11 centros, três foram responsáveis por mais de metade (55%) das primeiras consultas de radioncologia (IPO Lisboa, IPO Porto, IPO Coimbra), contudo, só dispõem de 48% dos radioncologistas identificados, sublinha.

Quanto à Oncologia Médica, o relatório aponta para “desigualdades assistenciais marcadas”.

Ainda no que se refere aos meios humanos de suporta à atividade da radioncologia, o documento refere que Portugal (com 4,1/ milhão de habitantes) tem um número de físicos médicos inferior às recomendações europeias (18/ milhão de habitantes) e admite que esta situação poderá condicionar a capacidade de cumprimento da legislação sobre proteção radiológica, o controlo de qualidade dos aparelhos e dos tratamentos, bem como o desenvolvimento de investigação clínica nesta área.

Em comparação com os dados de 2020, os de 2022 revelam que se mantém o agravamento da carga assistencial (reportada em primeiras consultas por médico especialista) em três instituições (IPO Lisboa, IPO Coimbra e Hospital de Santarém) e a redução em quatro centros (IPO Porto, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, Centro Hospitalar Barreiro Montijo, e Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro).

Segundo o relatório, o Hospital de Évora – que não reportou dados em 2020 – é a segunda instituição com a carga assistencial mais elevada, a seguir ao IPO Lisboa.

Últimas do País

A Polícia Judiciária e a Marinha Portuguesa intercetaram um semissubmersível venezuelano carregado com 1,7 toneladas de cocaína, em plena rota para a Península Ibérica. Quatro tripulantes foram detidos na megaoperação internacional 'El Dorado'.
Um homem foi detido pela GNR de Alvalade, no concelho de Santiago do Cacém, para cumprimento de um ano e meio de prisão a que foi condenado na Roménia, ficando em prisão preventiva enquanto aguarda extradição.
O jovem de 19 anos suspeito de violar duas estudantes, entre julho e outubro, em Vila Real, vai aguardar julgamento em prisão domiciliária com pulseira eletrónica, informou hoje o Ministério Público.
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) instaurou hoje um processo de esclarecimento sobre o transporte de um bebé em estado crítico desde o Hospital de Faro até ao Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, de ambulância.
O Sindicato Independente dos Médicos alertou hoje que a falta de integração total entre os sistemas informáticos do Hospital Amadora-Sintra e dos cuidados de saúde primários dificulta o acesso completo aos dados clínicos, podendo comprometer a segurança dos doentes.
A GNR deteve, na sexta-feira, em Vila Nova de Gaia e no Porto, oito suspeitos de tráfico e aprendeu mais de 4.700 doses de droga, cerca de 192 mil euros em numerário, armas e outro material, foi hoje anunciado.
Um homem, de 56 anos, foi detido e ficou sujeito à medida de coação de obrigação de permanência na habitação, por ser suspeito de abuso sexual da enteada, em São Miguel, nos Açores, revelou hoje a Polícia Judiciária (PJ).
Um incêndio deflagrou na manhã de hoje, pelas 11:40, no Estabelecimento Prisional de Tires, concelho de Cascais, depois de uma reclusa ter incendiado o colchão e alguns pertences da sua cela, estando a situação normalizada, informaram os serviços prisionais.
Um empreiteiro, que começa a ser julgado na quarta-feira em Coimbra, é acusado de violar as regras de segurança que terão causado a morte do seu tio numa obra, assim como de falsas declarações para encobrir o acidente.
A produção renovável abasteceu 50,2% do consumo energético em Portugal em outubro, a percentagem mais baixa dos últimos dois anos, devido às condições “particularmente desfavoráveis” registadas nesse mês, informou hoje a REN – Redes Energéticas Nacionais.