Confesso: não queria estar a escrever este texto. Estou cansada. Cansada de um debate público que se diz democrático, mas que se revela profundamente intolerante quando o resultado das urnas não agrada a alguns. Prefiro deixar que os factos falem por si. E os factos, neste caso, são simples: houve eleições, houve voto livre, e houve um segundo lugar, em número de deputados, inequívoco.
Mas basta uma breve passagem pelas redes sociais para perceber que, para muitos, democracia é apenas válida quando “ganham os nossos”. De repente, o que se vê é um derramar de insultos gratuitos, desejos de morte, humilhações públicas e ofensas que, ironicamente, vêm maioritariamente daqueles que se auto-intitulam os guardiões da tolerância e do bem.
Sim, estamos a falar de discurso de ódio. Mas o discurso de ódio é de quem, afinal?
Já vivi o suficiente neste ambiente para que isto já não me afete pessoalmente. Mas durante demasiado tempo senti – como muitos – que expressar certas ideias era motivo de censura social e profissional. Que havia um certo tipo de pensamento “autorizado” e tudo o que dele divergisse era imediatamente rotulado, atacado e silenciado.
Não me surpreende, por isso, que a esquerda tenha perdido terreno. Porque as pessoas estão cansadas de ser constantemente reduzidas ao silêncio, de serem chamadas ignorantes, incultas ou perigosas — não apenas por pensarem diferente, mas por defenderem o fim dos abusos no sistema social, uma justiça mais célere e alinhada com o resto da Europa e uma política de imigração controlada. Porque para muitos, isso não é extremismo – é bom senso.
Hoje, o que muitos chamam de “discurso de ódio” é, na verdade, uma reação a anos de patrulhamento ideológico. Quando se desvaloriza a vontade popular com condescendência – “pobres coitados, não sabem o que fizeram” – ou se associa um voto democrático a ideologias extremistas sem qualquer base – “vamos ter de levar com estes nazis” – está-se, na prática, a dizer que há votos que valem mais do que outros.
Isto não é democracia. Isto é arrogância.
Quem tenta calar a democracia, arrisca-se a acordar com uma revolução. E foi isso que aconteceu. Uma revolução silenciosa, nas urnas. As pessoas levantaram-se e disseram “chega!”.
E se não aprenderem nada com isso, continuarão a repetir os mesmos erros, escondidos atrás de arco-íris e hashtags que dizem “nós somos os bons”.
Quanto a mim, continuarei a viver de acordo com o que acredito, com respeito por quem pensa diferente, mas sem medo de o dizer. Tal como fizeram aqueles que, ontem, exerceram o seu direito de voto. Sem gritar, sem insultar – apenas com uma cruz num boletim.
E isso – quer gostem ou não – é democracia.