Quando nascemos, mesmo que inconscientemente, iniciamos uma jornada de construção: procuramos deixar um legado, contribuir para a comunidade em que pertencemos. Este impulso é natural ao ser humano, mas nas sociedades mais desenvolvidas transforma-se numa ética partilhada, a consciência de que aquilo que erguemos não nos pertence apenas. As nossas conquistas são alicerces para os nossos filhos, netos e todos os que virão depois de nós. Como dizia o provérbio grego, “sociedades civilizadas são aquelas em que os homens plantam árvores à sombra das quais sabem que nunca se sentarão”.
Este espírito de continuidade, de responsabilidade intergeracional, é a essência das civilizações duradouras. Ele está inscrito nas catedrais que demoraram séculos a construir, nas universidades que moldaram gerações, nas leis que protegeram valores centenários. Contudo, a pergunta impõe-se: o que acontece a uma sociedade que já não acredita no futuro? Que já não se vê como elo de uma corrente entre passado e porvir?
É precisamente este o drama da Europa de hoje. Uma Europa envelhecida, não apenas no seu corpo, mas também no seu espírito. Uma Europa que parou de sonhar com o amanhã porque já não acredita em si própria. As taxas de natalidade colapsam, os lares são preenchidos por silêncio, e o horizonte é habitado pelo vazio. A cultura da substituição instala-se com naturalidade: já não conseguimos gerar os nossos próprios herdeiros, então importamos vitalidade, não como acolhimento, mas como substituição.
Mas o que significa substituir um povo enraizado por comunidades desconectadas da história, da terra e da identidade que as acolhe? Significa romper a cadeia da transmissão cultural. Significa transformar uma civilização viva num museu aberto ao turismo ou, pior ainda, num parque de diversões para os de fora desprezarem e abusarem, enquanto os de dentro se tornam apenas sombras do que foram.
Não se trata aqui de rejeitar quem vem de fora, mas de reconhecer que há uma diferença fundamental entre integrar-se numa cultura e simplesmente ocupá-la. Uma sociedade que esquece quem é, que perde o sentido da sua missão, não pode esperar ser respeitada por quem a desconhece, ou, por vezes, a despreza.
A Europa não é apenas um espaço geográfico, é um edifício moral, espiritual, histórico. Um legado forjado com sacrifício, fé, inteligência e amor à pátria. Os nossos antepassados não nos deixaram apenas estradas, igrejas e instituições, deixaram-nos uma narrativa comum, uma bússola moral, uma missão.
Temos, pois, a obrigação de cuidar dessa herança. Não podemos deixar esta civilização nas mãos de quem não a construiu, de quem não a valoriza, porque não a reconhece. A transmissão da identidade europeia exige um esforço deliberado de afirmação cultural, de educação enraizada, de políticas que ponham o povo, o nosso povo, no centro das decisões.
Investir no futuro é, antes de tudo, investir em nós mesmos. Nas nossas famílias, nas nossas escolas, nas nossas tradições. É garantir que os nossos filhos herdem mais do que dívidas e dúvidas: herdem orgulho, pertença e direção. Porque sem continuidade não há civilização. E sem civilização, não há liberdade, não há beleza, não há verdade.
É tempo de voltar a plantar árvores, mesmo que não vejamos a sua sombra. Porque se não o fizermos, os nossos netos talvez não tenham onde descansar. E quando isso acontecer, já será tarde demais.