“A agricultura portuguesa poderá perder até 510 milhões de euros anuais de rendimento devido à redução da produtividade e ao aumento dos custos de produção causados pela retirada de substâncias ativas essenciais à proteção das culturas”, concluiu um estudo da AGRO.GES apresentado pela CropLife – Associação da Indústria da Ciência para a Proteção das Plantas.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), citados no estudo, o impacto corresponde a 7% da produção vegetal nacional prevista para 2025.
Esta análise avalia o impacto da retirada de 44 substâncias ativas candidatas a substituição pelas autoridades europeias.
Neste sentido, foram realizados 20 casos de estudo, representativos de oito fileiras da agricultura portuguesa – vinha para vinho, olival para azeite, milho, tomate de indústria, pera rocha, maçã, arroz e batata.
No âmbito da estratégia “Do Prado ao Prato”, Bruxelas quer reduzir a utilização de produtos fitofarmacêuticos em 50% até 2030.
Destaca-se a cultura da vinha, com uma quebra de 161,8 milhões de euros.
Seguem-se as culturas do tomate de indústria (77,1 milhões de euros), olival (68,4 milhões de euros), milho (63 milhões de euros), batata (55,7 milhões de euros), maçã (38,2 milhões de euros), pera (28,7 milhões de euros) e, por último, o arroz (17,3 milhões de euros).
As perdas podem ascender, em termos de margem bruta, a 425 milhões de euros por ano, o equivalente a 10,3% do Valor Acrescentado Bruto (VAB) da agricultura nacional.
Já no que se refere às exportações, “as perdas nas fileiras em análise podem ter um impacto muito superior […]. O azeite, vinho, tomate, pera e maçã corresponderiam à perda de 360 milhões de euros na produção, fragilizando a indústria transformadora e/ou os mercados exportadores destas fileiras”.
Caso fossem retiradas as substâncias ativas em risco, as culturas da vinha no Douro, Trás-os-Montes, Beiras e Alentejo, do milho, do tomate de indústria e do arroz no Mondego “provavelmente desapareceriam” devido à descida da produtividade e ao acréscimo nos custos.
Por sua vez, as fileiras do olival, pomóideas, vinha nas regiões do vinho verde e Lisboa e Vale do Tejo, da batata e do arroz no Ribatejo continuariam a ser viáveis, “mas com perdas muito significativas, podendo pôr em causa os seus investimentos associados”.
Perante as conclusões deste estudo, a AGRO.GES recomenda que sejam analisados os impactos nas restantes fileiras da agricultura em Portugal e que a implementação da estratégia de Bruxelas seja ponderada.
Por outro lado, defendeu que é importante “reforçar um equilíbrio regulamentar” no âmbito da aprovação de substâncias ativas, tendo por base dados científicos sólidos.
Adicionalmente, é sugerido o fomento da inovação, promovendo a integração de biopesticidas, da agricultura digital e de tecnologias de precisão, “sem esquecer o papel indispensável dos produtos fitofarmacêuticos no curto e médio prazo”.
A CropLife (antiga Anipla) foi constituída em 1992 e representa as entidades que investigam, desenvolvem e comercializam soluções para melhorar a produção agrícola de forma sustentável.