Patrícia Almeida nasceu há 42 anos em Lisboa e vive em Loures. Licenciada em Gestão e Administração Pública e Mestre em Sociologia, é deputada municipal e membro efetivo da Comissão de Saúde, da Comissão do Território, Mobilidade, Urbanismo, Habitação e Turismo e da Comissão Eventual de Acompanhamento da JMJ na Assembleia Municipal de Loures, tendo sido indigitada, em junho, Juíza Social do Tribunal da Comarca de Loures. Assume-se orgulhosamente uma mulher de direita conservadora e considera a família o mais importante da sua vida. Nos tempos livres gosta de ler, especialmente
romances históricos.
O que podemos esperar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ)?
A JMJ vai ser o maior evento alguma vez realizado em Portugal. Vai chegar a Portugal cerca de um milhão de peregrinos para participar nas celebrações e estar com Sua Santidade o Papa Francisco. Podemos esperar muita festa, mas também muita confusão.
Uma das questões mais criticadas tem sido os custos do evento. Quanto vai custar afinal a realização da JMJ?
Ninguém sabe. Não foi feito sequer um orçamento meramente orientativo. No orçamento de Estado para 2023 foi aprovada uma proposta (o CHEGA votou contra) que permite o recurso ao procedimento por ajuste direto, a dispensa da fiscalização prévia do Tribunal de Contas e a excecionalidade
das despesas com a JMJ para o cálculo do limite ao endividamento.
Ou seja, um cheque em branco para o que for preciso. Estima-se que os custos totais imputados a todos os intervenientes ascendam os 180 milhões de euros. A JMJ realizada em Madrid, em 2011, teve um custo total de cerca de 50 milhões de euros e o Estado não colocou dinheiro. Cá, o Estado vai investir muito dinheiro do bolso dos portugueses e infelizmente o evento corre o risco de ficar manchado pela má gestão do PS.
O Governo criou um grupo de projeto para coordenar toda a operação, mas a relação desse grupo com as autarquias nem sempre foi pacífica. Porquê?
O Grupo de Projeto para a JMJ, cujo objetivo é assegurar o acompanhamento
em termos operacionais dos trabalhos de preparação deste evento, estava inicialmente proposto para um mandato que se prolongaria até dezembro de
2023. O despacho assinado em outubro de 2022 prolongou-o até dezembro de 2024, o que significa que José Sá Fernandes, o coordenador do projeto e a sua equipa, continuarão a auferir um elevado salário mais de um ano após o fim da JMJ, sem ninguém perceber bem porquê. Em janeiro, e depois da polémica com o valor do palco a construir no Parque Tejo, Carlos Moedas pediu a revisão dos preços e dos projetos para a JMJ, dando indicação que a partir daquele momento iria coordenar tudo diretamente.
Ou seja, pôs claramente em causa o trabalho do grupo de projeto e de José Sá Fernandes, mas o Governo manteve a confiança em ambos.
Após críticas relativamente ao atraso, o Governo finalmente apresentou o plano de mobilidade e saúde para a JMJ. É um plano fiável?
Não, de todo. O plano de saúde, o primeiro a ser apresentado, foi tornado público a 19 de junho e as críticas são muitas. Se, por um lado, os hospitais asseguram ter capacidade de moldar a resposta (com recurso, em alguns casos, à limitação de férias durante o período em que vai decorrer a JMJ), por outro, escasseiam os heliportos operacionais para receber doentes críticos em caso de catástrofe. Também os técnicos de emergência médica, que compõem o INEM, estão preocupados e garantem que não haverá profissionais suficientes para assegurar o funcionamento de todo o dispositivo planeado. Já o plano de mobilidade é sem dúvida o que mais me preocupa. Inicialmente anunciado para março, apenas foi apresentado a 14 de julho, não dando margem para qualquer ajuste e apresentando-se visivelmente insuficiente e sem qualquer nexo.
Por que razão o considera “insuficiente e sem qualquer nexo”?
Desde logo porque a supressão das carreiras habituais de passageiros foi o caminho encontrado para arranjar autocarros para o transporte de peregrinos e voluntários, ou seja, os transtornos para quem tem de se deslocar na cidade para trabalhar são desde logo intransponíveis. Depois, o aeroporto de Beja não foi sequer considerado no plano, e teremos um aeroporto de Lisboa, já habitualmente a rebentar pelas costuras, ainda mais sobrecarregado. O plano contempla ainda um número insuficiente de lugares de estacionamento, quando se estima que cheguem cerca de 300 mil peregrinos em viatura própria.
E o plano de segurança e controlo de fronteiras. Qual é a sua opinião?
No que diz respeito à segurança, o plano foi aprovado pelo Governo e demais entidades competentes na manhã da sua apresentação pública, 14 de julho, ou seja, a cerca de 15 dias do início do evento. Contudo, a par do plano de segurança, os sindicatos do setor anunciaram manifestações para a semana do evento, adivinhando-se um “verão quente” enquanto decorre a Jornada.
Foi anunciado também o controlo de fronteiras terrestres, aéreas e marítimas.
Desde sábado, dia 22 de julho, que este controlo se iniciou e dezenas de pessoas foram já impedidas de entrar no país por falta de documentos válidos, tendo uma sido presa quando tentava entrar com onze menores, suspeitando-se de tráfico humano.
Não posso deixar, perante estes dados, de falar da questão da imigração ilegal que tantas vezes o CHEGA tem denunciado. Se nesta primeira semana de controlo fronteiriço foi assim, imaginem o que se passa sem controlo. Definitivamente, somos uma porta aberta para o que de pior se quer infiltrar em Portugal e na Europa. Queremos mesmo que tudo corra bem durante a JMJ, mas perante os factos estou muito, mesmo muito, pouco confiante.