“Para a esquerda, o ensino público é bom para os outros, o privado é para si e para os seus”

José de Carvalho é Professor e Investigador de História. Tem 44 anos, é casado e pai de dois filhos e nasceu no Marco de Canavezes. Actualmente, vive no Porto. É autor de vários livros sobre História Político-religiosa Contemporânea.

© Folha Nacional

O início deste ano letivo está a ser particularmente turbulento, com milhares de alunos sem professor e muita contestação nas ruas por causa do congelamento nas carreiras. Do seu ponto de vista, quais os principais problemas que o setor da educação enfrenta?

O caos está instalado no ensino público. Há milhares de alunos sem aulas. Paralisações e manifestações docentes que condicionam a vida de todos, especialmente dos alunos e suas famílias. Professores em número insuficiente para as necessidades das escolas. Incapacidade, por parte das escolas, no recrutamento docente para suprir as necessidades mais básicas de professores. Uns, por manifesta falta de candidatos, outros devido à insatisfação para com as condições que lhes são oferecidas e por um desgaste físico e emocional causado pela vida diária nas escolas deste País. Assiste-se a uma clara desvalorização profissional e social da tutela para o desempenho da nobre missão de ensinar. Escolas sem tarefeiras e técnicos para os alunos da educação especial. E poderia continuar…

 

O mais recente relatório da OCDE refere que os salários dos docentes portugueses caíram 1%, entre 2015 e 2022, ao contrário da média dos colegas dos restantes países, que subiram 6%. A educação precisa de mais dinheiro? Ou trata-se de um problema de má gestão dos dinheiros públicos?

Falta gerir melhor o dinheiro que está no orçamento. Neste sentido, parece-me que, com uma melhor gestão orçamental, haveria dinheiro para as merecidas progressões na carreira dos professores, mas também para os funcionários e técnicos das nossas escolas. O dinheiro, que é dos contribuintes e que as famílias deveriam saber onde se gasta é, muitas vezes, desperdiçado em organismos intermédios e que nem sempre se sabe para onde vão os muitos milhões de euros que «desaparecem» nas inúmeras rúbricas orçamentais. O problema não é de agora. Há décadas que andamos nisto. E temo que continuaremos, pelo menos enquanto estas questões estiverem entregues a «políticos profissionais» ao invés dos profissionais que conhecem o dia-a-dia das escolas e as frequentam.

 

O debate que coloca ensino público ou a ‘escola pública’, contra o ensino privado faz sentido ou deve haver complementaridade entre estas duas realidades?

Enquanto se criam guerras entre público e privado, num verdadeiro «circo» entre escolas para «pobres» e escolas para «ricos», as pessoas andam entretidas com o debate e os socialistas colocam os seus filhos nos colégios privados. Afinal, para as esquerdas, o ensino público é bom para os outros, o privado é para si e para os seus. Evidentemente, que numa sociedade que se quer livre, plural e aberta urge criar sinergias de uma perfeita complementaridade entre ensino público, privado e cooperativo. As «guerras» entre público e privado, alimentadas pelos actuais titulares da pasta da Educação, assim que tomaram posse do Ministério, em 2015, têm de ser compreendidas no seu contexto político-ideológico da necessidade premente para a manutenção do poder, após uma chegada ao Governo da forma como todos conhecemos. A chatice dos diabos é que o Ensino nada ganha e os alunos e as suas famílias tudo perdem com essas guerras.

 

O sistema de ensino português é centralizado no Ministério da Educação, que define os currículos, contrata professores, constrói escolas, etc. Esta centralização faz sentido?

No actual sistema de ensino, com (quase) cinco décadas de existência, há todo um modelo de gestão que necessita de ser repensado. Contudo, que não se caia na ilusão de que basta «descentralizar» para que tudo se resolva. Há décadas que o maior problema do sistema de ensino está no facto de tudo ser «gerido» e decidido por políticos ou pedagogos de gabinete, ao invés de se ouvir aqueles que estão nas salas de aula e nas escolas deste país. É urgente ouvir e deixar fazer quem sabe e conhece.

 

Relativamente aos currículos escolares, concorda que se tem assistido a uma substituição do conhecimento pela ideologia?

Sim, há uma tentativa, por parte da tutela, em fazer da escola um lugar de pura formatação, ao invés de formação. A vantagem, no entanto, e para quem frequenta as escolas deste país, é que, na sua grande maioria, os professores são profissionais competentes, corajosos e sabem bem qual a sua missão: ensinar. Contudo, se me permite, e apenas para os mais distraídos, a malta da «paixão pela educação», do Engenheiro Guterres, é a mesma que por aí gravita nos dias de hoje, enchendo os gabinetes ministeriais. Não se lhes conhece uma ideia, muito menos um pensamento estruturado sobre o ensino. Não conhecem as salas de aula das escolas, mas sobra-lhes um projecto ideológico de destruição daquilo que deve ser a escola: um lugar, por excelência, para os professores ensinarem e os alunos aprenderem. Sobrando tempo, também, para a implementação de programas de reconstrução social com base na «ideologia de género» e da «cultura wokista do cancelamento», a que se junta a luta pelo facilitismo. Estão todos com mais idade, mas com a mesma determinação em destruir, sem nada construir, a não ser o facilitismo como «escola de vida», colocando as pessoas na dependência do Estado e no «pântano», aspectos que garantirão vitórias à esquerda e derrotas da força da sociedade civil autónoma, auto-responsável e dona do seu destino. É neste ponto que se travará um combate decisivo pela qualidade do ensino, devolvendo a escola, na sua plenitude, à função que lhe compete: ensinar

Últimas Entrevistas

Alberto Moura é a aposta do CHEGA para as eleições autárquicas de 2025 em Vila Real. O candidato quer travar a perda de população e traça um plano ambicioso para levar o concelho dos atuais 50 mil para 75 mil habitantes até 2050. Propõe soluções concretas para a habitação, mobilidade e revitalização do centro histórico, critica o desperdício de fundos públicos em projetos inúteis e defende uma gestão transparente, moderna e ao serviço das pessoas.
Ruben Miguéis é o candidato do CHEGA à Câmara Municipal de Évora, cidade onde vive desde os três anos. Licenciado em Engenharia Zootécnica, divide a sua atividade entre o sector agrícola e o ramo imobiliário. Fala-nos das razões que o levaram a entrar na vida política, da importância estratégica da agricultura para o desenvolvimento do Alentejo, da sua visão crítica sobre a Capital Europeia da Cultura 2027, bem como das suas propostas para melhorar o acesso à habitação e aproximar os cidadãos da política local.
Maria Lencastre Portugal, cabeça de lista do CHEGA à Câmara Municipal de Coimbra, defende uma cidade mais segura, limpa, acessível e com oportunidades reais para jovens, famílias e idosos. Em entrevista exclusiva ao Folha Nacional, a candidata apresenta as suas propostas para devolver a alma a Coimbra e travar o declínio do concelho.
Miguel Corte-Real é a aposta do CHEGA para as eleições autárquicas de 2025 na cidade do Porto. O candidato destaca Campanhã como um território de oportunidades e crescimento, e aborda temas como segurança e imigração sem rodeios. Aponta ainda o mau uso de dinheiros públicos, dando como exemplo a empresa municipal de cultura, onde dois candidatos da lista PSD/CDS empregam 25 assessores de comunicação.
David Catita é a aposta do CHEGA para candidato às eleições autárquicas em Beja. Com 48 anos, natural e residente na cidade, é licenciado em Ciências do Ambiente e exerce funções técnicas na EDIA. Já presidiu à Associação Portuguesa de Criadores de Bovinos Limousine e atualmente lidera a Associação Portuguesa de Criadores de Ovinos Suffolk, bem como o Clube de Caçadores de Santo Humberto. No passado integrou o Real Grupo de Forcados Amadores de Moura. A sua candidatura nasce da intenção de “contribuir de forma construtiva para o aproveitamento do vasto potencial do concelho de Beja, criando condições para que
João Ribeiro, de 37 anos e natural de Castelo Branco, é candidato à presidência da Câmara Municipal pelo CHEGA. Numa entrevista exclusiva, o político detalha os problemas do concelho, apresenta soluções e revela a sua visão para o futuro da cidade e das aldeias do distrito.
O Presidente da República português lamentou hoje a morte do antigo chefe de Estado da Alemanha Horst Köhler, lembrando-o pela sua “dedicação à causa pública” e pela “promoção de uma parceria justa com África”.
Licenciado em Engenharia Zootécnica, Luís Mira é Secretário-Geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) desde 1999 e Membro do Conselho Económico e Social (CES). É ainda Membro do Conselho Económico e Social Europeu (CESE), desde 2006.
A esquerda acha-se no direito de lutar por quaisquer meios (…) o que significa que o terrorismo de esquerda se torna aceitável.
osé Bourdain nasceu em Lisboa em 1971. É licenciado em Gestão de Recursos Humanos e Mestre em Ciência Política. Iniciou a sua atividade profissional aos 16 anos no sector social/saúde/educação e fundou a Cercitop (cooperativa sem fins lucrativos) em 1998, onde é o Presidente do Conselho de Administração. Em 2013 criou a Tourism for All – Operador Turístico que trabalha o Turismo Para pessoas com deficiência e ajudou a fundar a Associação Nacional dos Cuidados Continuados em 2017, sendo o seu Presidente desde essa data.