Secretária de Estado do ministro dos Negócios Estrangeiros, Espen Barth Eide, com uma passagem no passado pela organização ambientalista WWF, Maria Varteressian esteve esta semana em Lisboa, para participar na conferência sobre os oceanos “World Ocean Summit”, num painel sobre mineração em mar profundo.
A Noruega tornou-se em janeiro o primeiro país do mundo a aprovar a mineração em mar profundo, que consiste em extrair minerais no fundo do mar com maquinaria pesada o que pode destruir habitats, uma decisão que deixou organizações ambientalistas preocupadas, porque a comunidade científica tem alertado para possíveis danos ambientais, graves e irreversíveis.
Em entrevista à agência Lusa a governante assegurou no entanto que nada há que temer, explicando que a Noruega ainda não aprovou qualquer atividade mineira em mar profundo, e que nem sabe se alguma vez o vai fazer.
“O nosso parlamento disse que podemos abrir algumas zonas da nossa plataforma continental para explorar a possibilidade, com base na investigação e na recolha de dados, de verificar se a mineração nos fundos marinhos pode ser feita de forma sustentável”, explicou, adiantando que se trata de uma “abordagem faseada” centrada na recolha de conhecimento.
Maria Varteressian destacou ao longo da entrevista a falta de conhecimento sobre o tema, razão pela qual a Noruega não pode neste momento aprovar “qualquer atividade mineira no fundo do mar”.
“Por isso não o fizemos, e antes de o fazermos precisamos de ter 100% de certeza de que pode ser sustentável, tanto do ponto de vista económico como ecológico”, afirmou.
No futuro, qualquer pedido de mineração irá também ao parlamento.
“Não sabemos quando é que isso vai acontecer porque vai demorar algum tempo a reunir esse conhecimento. Mas depois vamos considerar se podemos permitir a mineração no fundo do mar”, disse.
Para já “nenhuma atividade será realizada” até haver certezas de que pode ser feita de forma sustentável.
A Noruega, frisou a secretária de Estado, leva “muito, muito a sério” os conselhos e advertências dos cientistas, que pedem mais conhecimento sobre os efeitos da mineração em mar profundo. “E ouvimo-los quando dizem que ainda há muitas coisas que não sabemos. E é precisamente por isso que não nos podemos envolver em qualquer atividade, nem aprovar qualquer atividade mineira no mar profundo enquanto não soubermos mais”.
Quando muitos países pedem uma moratória à mineração em mar profundo (Portugal aprovou essa proposta na generalidade), precisamente para que se adquira esse conhecimento, o tema tem suscitado polémica, como de resto aconteceu no debate sobre os oceanos. Quando Monica Verbeek, líder da organização ambientalista “Seas at Risk” recebeu um forte aplauso ao dizer que o mundo não pode cometer o “erro estúpido” da mineração em mar profundo.
Maria Varteressian, mais moderada, falou da necessidade de metais para cumprir a transição energética mas falou também da sustentabilidade necessária, e da necessidade de conhecer novos caminhos para essa transição.
E conhecer esses caminhos, explicaria depois à Lusa, implica envolver as instituições de investigação marinha para reunir conhecimento, para que se possa refletir se é ou não aprovada a mineração em mar profundo.
Portanto, não haverá mineração sem 100% de certeza de que é ambientalmente segura? Maria Varteressian responde: “O pedido de exploração em mar profundo tem de provar que a atividade pode ser feita de forma sustentável e explicar exatamente como. E depois o parlamento irá considerar se temos provas suficientes para dizer que sim. Se não as tivermos diremos que não”.
A secretária de Estado não adiantou uma data para começar a mineração, se chegar a começar. Citou investigadores para falar das grandes lacunas de conhecimento, e disse que é preciso tempo para reunir os conhecimentos necessários. “E vai demorar cinco, 10, 15 anos, não sabemos”.
Mas poderá a Noruega influenciar outros países a aprovarem também a mineração em mar profundo? Maria Varteressian responde: “Se o nosso processo de aquisição de conhecimentos, e de dizer que sem conhecimentos adicionais não podemos exercer qualquer atividade, pode servir de exemplo para outros países, então isso é bom”.
“O que está em causa é que diremos ´não´ se não for possível provar que é sustentável”, frisou.
Na entrevista a governante afirmou-se ainda ansiosa por reforçar a cooperação com Portugal na área dos oceanos, uma relação com um século de cooperação na investigação marinha.
“E há muito que podemos fazer juntos. E precisamente porque podemos basear-nos na nossa história, nas nossas experiências em conjunto, penso que somos parceiros perfeitos na economia azul”, disse, adiantando que há muitas razões para explorar, por exemplo, novas possibilidades na produção de energia.
Desde 1924 que os navios de investigação de Portugal têm sido construídos e equipados com o apoio norueguês. Foi assim com o “Albacora”, depois com o “Noruega” e agora com o “Mário Ruivo”.
O “World Ocean Summit” é uma cimeira sobre o oceano organizada pelo “The Economist” e decorreu em Lisboa de segunda a quarta-feira passadas.