“As Forças Armadas não são um estabelecimento correcional, nem são uma instituição de reinserção social. (…) É uma ideia peregrina, absurda, não faz sentido nenhum e, pelo contrário, demonstra alguma falta de respeito para com as Forças Armadas”, defendeu o sargento Lima Coelho, presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), em declarações à agência Lusa.
A reação surge depois de o ministro da Defesa, Nuno Melo, ter defendido no passado fim de semana, em Aveiro, que o serviço militar poderia ser uma alternativa para jovens que cometem pequenos delitos em vez de serem colocados em instituições que, “na maior pare dos casos, só funcionam como uma escola de crime para a vida”, ideia apoiada pela ministra da Administração Interna, Margarida Blasco.
O sargento Lima Coelho salientou que para ingressar nas Forças Armadas é necessário um “registo criminal limpo” e avisou que os militares “são os que detêm os meios letais para a defesa militar da República”.
“Isto não é uma escola de gente mal formada e não pode ser”, alertou. O sargento afirmou que “era interessante perceber se o senhor primeiro-ministro, Luís Montenegro” concorda com esta ideia, depois de Margarida Blasco ter afirmado que Nuno Melo “falou em nome de todo o Governo”.
Na mesma linha, o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), o coronel António Mota, considerou que a possibilidade levantada “é um disparate total” e “uma visão de quem não tem a mínima noção” do que são as fileiras militares, e deixou um desafio à ministra da Administração Interna.
“Eu até lhe lançaria um desafio: porque não os delinquentes para a GNR e para a PSP? Para além de entrarem nas Forças Armadas também podem entrar na GNR e na PSP. E já que é uma ideia compacta do Governo, dizer até à senhora ministra da Justiça que podem os delinquentes passar a ser guardas prisionais”, ironizou, em declarações à Lusa.
O coronel António Mota adiantou que as associações militares estão a preparar uma reunião a nível nacional, em Lisboa, com data a fechar, para debater os atuais problemas das Forças Armadas e lamentou que o ministro da Defesa ainda não tenha respondido ao pedido de audiência feito logo após a posse do executivo minoritário PSD/CDS-PP.
“Andamos aqui literalmente a brincar com situações muito sérias e muito graves de soberania nacional”, alertou.
Pela Associação de Praças (AP), o cabo-mor Paulo Amaral considerou a ideia “totalmente descabida, que não cabe na cabeça de ninguém”.
“Nem caberia na cabeça de ninguém de bom senso ter uma ideia de colocar as Forças Armadas como um ‘upgrade’ de um centro de reinserção social”, considerou.
Paulo Amaral salientou que não é este tipo de ideias que serão “a panaceia para o recrutamento de jovens nas Forças Armadas”, lembrando a importância da valorização salarial dos militares.