João Leão equipara Governo de minoria sem apoio parlamentar a andar num carro sem travões

O antigo ministro das Finanças João Leão considera que governar sem apoio parlamentar cria uma situação difícil, equivalente a conduzir um carro sem travões, e que este quadro em que qualquer medida pode ser aprovada mina as finanças públicas.

© portugal.gov.pt

“Governar nestas condições de governo minoritário, sem qualquer tipo de apoio parlamentar, com muitos partidos no parlamento, cria uma situação muito difícil em particular para as finanças públicas”, afirmou João Leão, numa entrevista conjunta à Antena 1 e Jornal de Negócios.

O antigo ministro das Finanças de um dos governos de António Costa refere que governar nestas condições é “quase como andar com um carro sem travões” e quase como ter um país sem ministro das Finanças “porque ele não controla o processo de decisões que são feitas no parlamento”.

Este quadro em que tudo pode ser aprovado no parlamento de “forma descontrolada e sem critério”, a prazo “vai minando as finanças públicas”, destaca.

A questão, aponta, não é a bondade das medidas em si e se se está ou não de acordo com elas, mas o facto de tudo o que pareça positivo mas desequilibre o orçamento, poder ser aprovado “porque não há ninguém para dizer não”.

Esta situação, acentua João Leão, não tem paralelo em nenhum outro país europeu, sendo um problema para o país e para a “coerência das decisões”.

Sobre o facto de o atual ministro das finanças, Miranda Sarmento, ter vindo a público sublinhar que o saldo orçamental passou de um excedente nos dois primeiros meses do ano para um défice em março, João Leão acentua ser difícil extrapolar um trimeste em contabilidade pública para a totalidade do ano, admitindo que possa ter havido da parte do Governo alguma estratégia no sentido de “refrear os ânimos e garantir que as escolhas são mais controladas”.

“[Estes três meses não põem em causa] não diria necessariamente [a previsão de excedente] de 0,7%, mas a previsão de contas equilibradas e de excedente [no final do ano]”, disse, sublinhando que medidas como a das ex-SCUT só terão impacto em 2025 devido à chamada lei-travão.

João Leão, considera por isso que continua a não haver necessidade de um orçamento retificativo, porque acredita que o atual orçamento tem forma de acomodar medidas como o desagravamento do IRS. Admite, contudo, que o Governo possa avançar com um OE retificativo por uma questão de legitimidade, “caso se altere muito o orçamento aprovado”.

O antigo ministro das Finanças alerta no entanto, que no atual contexto parlamentar, aprovar um retificativo “é extremamente difícil” e que se corre o risco de “este ser totalmente desvirtuado”, uma vez que nesse processo não se colocaria sequer a questão da lei-travão.

Já sobre a aprovação do Orçamento do Estado para 2025, antevê que vai ser “um grande desafio”, porque há o risco de não ser aprovado, ainda que admita que, mesmo nesse cenário, isso não significa que seja necessário fazer eleições, porque o atual Orçamento do Estado é suficientemente flexível. “Dá para viver” em 2025, acrescenta.

João Leão aponta ainda o facto de o próximo OE obrigar a ter em conta as novas regras orçamentais da União Europeia que entram em vigor em 2025 e que começam a ser negociadas com a Comissão Europeia em julho, considerando “muito difícil” levar a Comissão Europeia a aceitar a despesa prevista, num cenário de crescimento do PIB de 3% que ainda assim prevê redução de impostos.

Últimas de Economia

A Comissão Europeia estima que os preços da habitação em Portugal estejam sobrevalorizados em 25%, sendo esta a percentagem atual mais elevada na União Europeia (UE), sendo também um dos piores países nas variações no poder de compra.
A Comissão Europeia vai propor esta terça-feira um alívio nas regras de ajudas estatais da União Europeia e limites ao alojamento local para promover acesso à habitação acessível no espaço comunitário, sendo Lisboa uma das cidades comunitárias mais pressionadas.
Dez instituições sociais açorianas não vão pagar o subsídio de Natal aos trabalhadores por dificuldades financeiras devido a atrasos da República nas transferências e o Governo Regional disse hoje que está disponível para ajudar a ultrapassar o problema.
Metade dos pensionistas por velhice recebia uma pensão abaixo dos 462 euros, apesar de a média de 645 euros, segundo dados analisados por economistas do Banco de Portugal (BdP), que assinalam ainda as diferenças entre géneros.
O número de passageiros movimentados nos aeroportos nacionais aumentou 4,7% até outubro, face ao mesmo período de 2024, para 63,869 milhões, segundo dados divulgados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Segundo um relatório do INE realizado em 2025 sobre rendimentos do ano anterior indicam que 15,4% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2024, menos 1,2 pontos percentuais (p.p.) do que em 2023.
As exportações de bens caíram 5,2% e as importações recuaram 3% em outubro, em termos homólogos, sendo esta a primeira queda das importações desde junho de 2024, divulgou hoje o INE.
O número de trabalhadores efetivamente despedidos em processos de despedimentos coletivos aumentou 16,4% até outubro face ao período homólogo, totalizando os 5.774, superando o total de todo o ano passado, segundo os dados divulgados pela DGERT.
Os custos de construção de habitação nova aumentaram 4,5% em outubro face ao mesmo mês do ano passado, com a mão-de-obra a subir 8,3% e os materiais 1,3%, de acordo com dados hoje divulgados pelo INE.
Os consumidores em Portugal contrataram em outubro 855 milhões de euros em crédito ao consumo, numa subida homóloga acumulada de 11,3%, enquanto o número de novos contratos subiu 4%, para 157.367, divulgou hoje o Banco de Portugal (BdP).