Número de refugiados internos por conflitos atinge recorde de 68 milhões de pessoas

O número de refugiados internos devido a conflitos era, no final de 2023, de 68,3 milhões de pessoas, o valor mais alto já registado, anunciou hoje o Centro de Monitorização de Deslocados Internos (CMDI).

© Facebook Open Arms

 

Só no ano passado 20,5 milhões de pessoas tornaram-se refugiados nos seus próprios países, dois terços dos quais em três territórios: Sudão, República Democrática do Congo e Palestina, avançou o CMDI no seu relatório anual, hoje divulgado.

Estas pessoas juntaram-se, no ano passado, a muitas outras que já vivem há anos deslocadas das suas casas para fugir à violência dentro dos seus próprios países.

As guerras, conflitos e violência foram causa para quase 70 milhões de pessoas se tornarem refugiados internos, sendo que quase metade desta população mundial se encontra no Sudão, na Síria, na República Democrática do Congo (RDC), na Colômbia e no Iémen.

O número aumentou 49% nos últimos cinco anos, alimentado pela escalada de conflitos recentes e prolongados na Etiópia, na RDC, no Sudão e na Ucrânia, destacou o documento.

Embora a grande maioria dos deslocados internos fuja de conflitos, há cada vez mais refugiados causados por razões climáticas, sublinhou o relatório elaborado pelo CMDI.

Catástrofes como inundações, tempestades, terramotos e incêndios florestais provocaram mais de 26 milhões de deslocamentos internos em 2023 – 56% do total de deslocamentos globais, apontou o organismo criado pelo Conselho Norueguês para os Refugiados.

Este tipo de desastres foi relatado em 148 países e territórios durante o ano 2023, causando o terceiro maior número de deslocados internos da última década.

Ainda assim, os deslocamentos associados a desastres relacionados com o clima diminuíram um terço em comparação com 2022, em parte devido à mudança dos fenómenos climáticos La Niña a El Niño durante o ano.

Os dois fenómenos climáticos estão ligados às temperaturas da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental, sendo que, no primeiro caso, regista-se uma diminuição da temperatura e, no caso do El Niño, um aumento.

Ambos são responsáveis por uma série de mudanças significativas nos padrões de precipitação e temperatura em várias zonas geográficas do planeta.

Tempestades e inundações levaram a menos deslocamentos na maior parte da Ásia, mas inundações em outras áreas provocaram números recordes de refugiados internos, especialmente no Corno de África.

O maior número de deslocações por catástrofes aconteceu nas regiões da Ásia Oriental e do Pacífico (nove milhões) e na África Subsariana (seis milhões).

O relatório enumerou algumas das situações mais preocupantes do ano passado, lembrando os incêndios florestais no Canadá e o ciclone ‘Gabrielle’ na Nova Zelândia que “levaram ambos os países a reportar os maiores números de deslocamentos por desastres de sempre”.

O documento do CMDI também destacou os terramotos registados no mundo em 2023, adiantando que estes desastres naturais provocaram 6,1 milhões de deslocamentos, o número mais alto desde 2008, tendo a maior parte sido registados na Turquia e na Síria, mas também nas Filipinas, no Afeganistão e em Marrocos.

“Embora lacunas de dados sobre a duração do deslocamento por desastres tornem este número conservador, fica demonstrado que, tal como os conflitos, as catástrofes podem manter as pessoas deslocadas durante longos períodos de tempo”, alertou o centro de monitorização.

O total dos refugiados internos – quer devido a conflitos, quer por catástrofes naturais – era de 75,9 milhões de pessoas no final do ano passado, concluiu o relatório, sublinhando que o valor representa um aumento em relação a 2022, quando o número era de 71,1 milhões de pessoas.

“O aumento contínuo de conflitos em todo o mundo está a forçar ainda mais milhões de pessoas a fugir das suas casas e a tornar mais difícil encontrar soluções”, afirmou o líder do CMDI, Robert Piper, que é conselheiro especial do secretário-geral da ONU para as soluções para os deslocamentos internos.

Segundo o responsável, é imprescindível dar visibilidade aos deslocados internos para diminuir o problema.

“Vemos imagens horríveis de pessoas a fugir da violência, de casas destruídas por bombas, tempestades, incêndios florestais e terramotos, campos improvisados repletos de famílias que perderam tudo. As imagens de Gaza, da Ucrânia e do Sudão são apenas as mais recentes numa tendência de aumento da deslocação de civis em todo o mundo. Mas quando as câmaras se afastam, muitas vezes estas pessoas forçadas a abandonar as suas casas tornam-se invisíveis”, frisou.

Estas pessoas, que “lutam para sobreviver e reconstruir as suas vidas, não escolheram este destino”, sublinhou o representante, defendendo que devem ter os mesmos direitos que qualquer outro cidadão, mas, muitas vezes, não têm as mesmas oportunidades.

“Pode levar meses ou até anos até que as pessoas deslocadas internamente deixem de precisar de ajuda e proteção e encontrar soluções duradouras para o deslocamento nunca é fácil”, admitiu Robert Piper, acrescentando que “ser invisível não ajuda”.

Por isso, o conselheiro de António Guterres apelou a “uma forte liderança governamental, apoio e financiamento internacionais e um compromisso genuíno de ouvir os próprios deslocados internos” para tentar encontrar “caminhos claros para soluções concretas”.

Últimas do Mundo

A Aliança Atlântica está a acompanhar a situação na Coreia do Sul, depois da revogação pelo parlamento da lei marcial decretada pelo Presidente, anunciou hoje o secretário-geral da organização, insistindo na solidez da relação com Seul.
As autoridades ucranianas disseram hoje ter atacado “uma das principais bases aéreas” da aviação russa e atingido também um porto do Mar Negro que alberga navios de mísseis russos, utilizados em ataques à Ucrânia.
O Conselho da União Europeia (UE) deu hoje o aval às novas regras para a redução da exposição, nomeadamente das crianças, ao fumo passivo e aos aerossóis, no âmbito do plano europeu de luta contra o cancro.
O secretário-geral da Aliança Atlântica defendeu hoje o envio de apoio militar imediato à Ucrânia para lhe dar uma "posição de força" no momento das negociações com a Rússia.
Novos ataques russos a infraestruturas na Ucrânia causaram cortes generalizados de energia no oeste do país, a centenas de quilómetros da linha da frente do conflito, revelaram hoje as autoridades ucranianas.
O Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que vai assistir, no sábado, à reabertura da catedral de Notre-Dame, em Paris, onde são esperados cerca de 50 chefes de Estado e de Governo.
O presidente norte-americano indultou hoje o filho em três condenações relacionadas com posse de armas e ocultação de consumo de drogas às autoridades, argumentando que tiveram motivações políticas.
A Rede Europeia Anti-Pobreza exigiu hoje investimento "sério e comprometido" para melhorar os cuidados a idosos e garantir melhores condições a quem cuida desta população, de forma formal ou informal.
O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Saar, rejeitou hoje as acusações sobre Israel estar a violar o acordo de cessar-fogo com os libaneses do Hezbollah.
O Presidente sírio, Bashar al-Assad, prometeu hoje usar a “força” para erradicar o “terrorismo”, após grupos rebeldes tomarem a cidade de Alepo, numa operação relâmpago que já causou mais de 300 mortos.