De acordo com o imigrante, era oriundo do “Bangladesh” e implorava por “casas para outros imigrantes”. Em conversa com André Ventura, o imigrante alegou que: “sempre que ele (André Ventura) falava, era racista”.
Iqbal Hossain, o imigrante, que de acordo com o Observador, tem 33 anos, já se encontrava no local do arranque da arruada na Póvoa de Varzim, uma hora antes da chegada da comitiva. De mãos nos bolsos, esperava André Ventura, que já sabia, de antemão, que iria estar presente.
Perto das 12h00, hora da chegada do cabeça de lista, Iqbal é visto a receber instruções de um dos operadores de câmara da SIC: “É com aquele senhor velhinho, mais baixo, que tens de falar”, afirma o repórter de imagem, referindo-se ao embaixador.
Contudo, nesse mesmo momento, o imigrante é abordado por um membro da comitiva do CHEGA que o afasta do local, na tentativa de perceber qual seria o motivo que o prendia ali. Ao que Iqbal responde ter intenção de “falar com André Ventura, porque os imigrantes não têm casa e sempre que o presidente do CHEGA fala é racista”.
Ventura chega e com a imprensa em alvoroço, Iqbal aproveita para se juntar à confusão, com o intuito de tirar uma fotografia com o presidente do CHEGA, tal como tantos outros militantes e apoiantes do partido, presentes no local.
André Ventura segue a prestar declarações à imprensa e tira uma fotografia de família, num coreto que se encontrava ali perto, altura em que Iqbal volta a abordar o líder do CHEGA: “85% dos pescadores indonésios, em Portugal, não tem casa e dorme nos barcos”.
Com as atenções postas sobre ele, Iqbal continua: “tenho uma filha que nasceu cá e mandei-a embora, porque ouvi muitas pessoas a reclamar”. “Estou muito triste, faço tudo direitinho, tenho visto”, acrescenta.
Perante estas declarações, André Ventura interrompe o imigrante e diz compreender a situação, esclarecendo que o partido defende que se “cumpram as regras, você e todos”, sem balizar nenhuma nacionalidade.
O presidente do CHEGA explica ainda que “o Estado não pode dar casas a outras pessoas (fazendo alusão aos imigrantes), quando não há para os nossos (referindo-se aos portugueses)”.
Ainda assim, Iqbal volta a atacar Ventura e sublinha: “sempre que fala é racista”, sendo só nesta altura que Ventura decide seguir com a arruada – declarações e episódio foram apenas emitidas, na íntegra, no canal de televisão CNN Portugal e nas redes sociais do partido.
Para trás, ficou Iqbal Hossain a conversar com a comunicação social e, tal como se pode ver na peça divulgada pela SIC e SIC Notícias, Iqbal diz que trabalha “nas estufas a cortar cravos”, deixando para último as declarações sobre ser “pescador imigrante” e ter mandado a filha embora de Portugal, porque “as pessoas olham para mim e dizem: imigrante, imigrante!”.
No entanto, nesse mesmo dia, o CHEGA recebeu informações, por parte de um motorista TVDE, que indicavam que Iqbal é “dono de uma loja na Póvoa de Varzim” e que “orgulhosamente diz a toda a gente que ele, a mulher e filha recebem 300 euros, cada um, pelo Estado”.
Após estas informações, o Folha Nacional apurou, numa breve pesquisa pelas redes sociais, que Iqbal se considera um empreendedor e é seguidor de várias páginas nas redes sociais, do Bloco de Esquerda.
O Folha Nacional descobriu ainda que Iqbal, juntamente com a mulher, são donos de um estabelecimento, na Póvoa de Varzim e que, em 2023, considerava “os portugueses terem bom coração”. Contudo, todas estas informações foram apagadas, no dia seguinte à arruada, mas o Folha Nacional foi ainda a tempo de as guardar.
O imigrante é ainda dono de duas empresas, tal como averiguado pelo Folha Nacional, através do site einforma: uma de comércio a retalho, em supermercados e hipermercados, e outra de alojamento para turistas.
Note-se que esta última empresa é utilizada pela mulher de Iqbal, através da sua conta de Tiktok, para promover o imóvel, onde o marido foi entrevistado, por vários meios de comunicação – conta essa com um post, no dia 25 de maio, onde mostra Iqbal e a mulher a passear com a filha (a “mandada embora de Portugal”) no centro da Póvoa de Varzim.
Na entrevista, Iqbal encontra-se na cozinha de um apartamento que, tal como se pode ver pela peça da SIC, trata-se de um imóvel novo, com vários eletrodomésticos ainda por estrear. Exemplo disso, é o micro-ondas que ainda dispõe do autocolante de origem.
Este foi o caso que marcou o final da campanha, levando André Ventura a acusar os jornalistas da SIC, autores da peça, de “inimigos do povo”, pois ocultaram as declarações do presidente do CHEGA e deturparam a veracidade dos factos, dizendo mesmo que “Ventura ouviu e seguiu caminho”, deixando “para trás os lamentos de um imigrante”. Já a CNN optou por passar a peça completa.
Num vídeo nas redes sociais, o presidente do CHEGA decidiu esclarecer o caso. André Ventura afirmou que “alguém” plantou “o imigrante com uma história fabricada” e que “um canal de televisão optou por não dar as (suas) respostas”, escolhendo passar apenas “a parte em que o imigrante chora” e que alega que “(ele) é racista”, criticando o canal de “desinformação” e “manipulação” da verdade.
Todavia, este caso na Póvoa de Varzim não foi um caso isolado. No início da campanha do CHEGA, numa arruada em Beja, André Ventura havia sido abordado por um outro imigrante. Desta vez, o imigrante chamava-se se Khan Babari, tinha nacionalidade paquistanesa e perguntou ao líder do CHEGA se tinha “planos para a imigração”, chegando mesmo a admitir que fazia parte de um “grupo de imigrantes ilegais”.