25 de novembro para adultos equilibrados

Ouvi estupefacto o podcast do Expresso com Henrique Monteiro e Lourenço Pereira Coutinho e confesso a minha surpresa com os factos divulgados pelo convidado, Vasco Lourenço. Eu que nada sou e que até há bem pouco tempo poucos sabiam da minha existência, estava ao portão de armas da B.A.1 na Granja do Marquês em Sintra. Apesar de ser piloto aviador exercia então, por vontade superior, o cargo de comandante da Polícia Aérea na Base. Fui um soldado, nada mais do que isso, que serviu como melhor sabia a Força Aérea e as suas obrigações para com Pátria. A minha “guerra” teve só a ver com o confronto com cerca de 200 comunistas junto ao Portão de Armas da Unidade durante parte do fim do dia e noite de 25 de novembro, com saídas para recolha de militares que pretendiam regressar ao quartel,  com a chegada do MI6 britânico ao romper da aurora e com a receção de prisioneiros entregues pelos comandos que seguiram de avião para a Cortegaça, base da NATO em Ovar, onde estava recolhida a maior parte das forças da ordem,  e dos civis então designados de moderados.

Como agora todos parecem interessados no 25 de novembro, na sua verdade e importância, muitos aparecem cheios de novas verdades como que justificando os atos, imputando a culpa a uns e ilibando outros mas de uma maneira geral, acusando os mortos que sem defesa já não podem exercer o contraditório. Alguém ou alguns pouco interessados da verdade dos factos, desenvolveram ao longo de quase meio século uma teia aracniana bem ao nível dos carrapatos, espécie de artrópodes e que, quais aranhas de impenetráveis redes, tornaram difícil, mas não impossível outra interpretação que não a deles.

A minha, a de um simples soldado que tem de aceitar o que gente dita responsável conta, é outra diferente e sempre ciente que a minha história e as minhas críticas permanecerão na penumbra e que as dos outros, homens de grande fanfarronice e que imaginam confrontos que gostavam de ter tido, mas nunca tiveram, mantêm uma descrição dos factos em que custa a acreditar tal a personalidade das pessoas envolvidas. Não acham?

Vasco Lourenço está sempre contra Jaime Neves a quem diz ter mandado calar. Quantas vezes, pergunto eu? Diz a determinada altura que veta a ida dos moderados para o Porto contra a vontade de Melo Antunes que também não “bufa”. Diz que, quem desse o primeiro passo, perdia e que o PCP, dando o primeiro passo, perdeu admitindo a interferência que alguns negam. Ataca Morais da Silva o então CEMFA e ataca Lemos Ferreira e Canto e Castro, elementos da FAP pertencentes aos Falcões que acusa de sanguinários e de exigirem o bombardeamento de Tancos, do RALIS e de sei lá mais o quê, sempre com o veto, claro está, do Vasquinho. Diz que Costa Gomes convence Álvaro Cunhal a recuar como se a razão do recuo tivesse sido mesmo essa e que, no auge da confusão, ele é o que mantém o discernimento exigido controlando a esquerda militar e civil. Só lhe faltam os Falcões maus, que querem rebentar com tudo e todos. Felizmente Eanes estava com o Vasco, diz ele em tom de bazófia. Ele, mais ele e ele sozinho fizeram o 25 de novembro e tem muito que contar para enganar os incautos.

Os já mortos a quem ele mandava calar, os enterrados a quem ele vetava as intenções ou os silenciados por conveniência, vergonha e ideologia permanecem em silêncio, e a história aparece contada por um só protagonista que sobrou dos capitães de Abril e que teima em manter-se à tona de uma realidade sempre inventada. E o povo, ou a malta como ele diz, continua a acreditar, mesmo sem saber em quê. Eu, simples soldado e habituado a servir, nunca gostei de quem diz mal dos outros principalmente de gente de quem gosto e de quem guardo boa memória e consideração. Gostava de os ver por cá a responderem a Vasco Lourenço. O 25 de Novembro aconteceu. Como começa finalmente a ver-se. 

E mudou Portugal. Os que enfrentaram os golpistas, merecem respeito. Os outros que sempre negaram a interferência comunista, não! 

Pois inventam sempre negações e vetos que desvirtuam a história.

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