David Justino diz-se incomodado com silêncio do PSD sobre as escutas

O antigo vice-presidente do PSD David Justino alerta para uma sobreposição de posições do sistema de justiça com as da extrema-direita e diz-se incomodado com o silêncio do seu partido sobre a questão das escutas.

© Facebook de David Justino

Numa entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, David Justino sugere ainda apoio de todos para um final de mandato com dignidade da Procuradora-Geral da República.

O subscritor do Manifesto dos 50, que pede uma reforma na Justiça, diz-se incomodado com o “silêncio ruidoso do PSD”, acrescentando: “Então que diga claramente que não concorda com aquilo que se pretende e que não está disponível para o fazer agora”.

“Confesso que fico triste. Pelo menos não me desiludo. Só posso desiludir-me quando estou previamente iludido e eu nunca estive iludido sobre isso, não é? Nomeadamente com a atual direção do PSD”, afirma David Justino, sublinhando: “A única coisa que eu estranho é, precisamente, este silêncio que é comprometedor, na minha opinião. E tenho pena”.

Diz que “começa a haver sobreposição excessiva” de posições que identifica ao nível do próprio sistema de justiça “com outras posições ao nível da extrema-direita” e defende que a Procuradora-Geral da República já deveria ter explicado alguns dos atos processuais mais polémicos.

“Deveria de haver uma preocupação pedagógica para poder chegar ao grande público, no sentido de esclarecer porque é que se fez assim e não se fez de outra maneira”, afirma.

Questionado sobre se acredita que as escutas dos processos criminais que têm maior visibilidade são libertadas intencionalmente para condicionar os próprios processos e mesmo para ter efeitos políticos, responde: “Há aquela velha frase se non è vero, è ben trovato”.

“Na verdade, eu julgo que já não são coincidências, porque não é um problema dos dois ou três últimos casos. É uma prática reiterada, já de há alguns bons anos para cá, de divulgação de escutas, divulgações oportunas em função de um determinado objetivo que se quer atingir. E esse objetivo tem a ver com a ação política. Portanto, a partir dessa altura, eu já não me ponho em dúvida sobre isso”, considera.

Diz que, neste momento, tem a certeza de que “tem havido uma agenda política com determinados fins”.

“Não sou ingénuo ao ponto de dizer que, no fundo, não há outras intenções que não sejam o querer fazer justiça”.

Defende que, na política, há gente corrupta, mas também gente séria e acrescenta: “Tal como eu separo as águas entre aquilo que são alguns setores do MP [Ministério Público] e aquilo que é, se calhar, a grande maioria dos magistrados do MP que fazem o seu trabalho como deve ser, que são competentes e que não tem preconceitos, faço o mesmo em relação aos políticos”.

Confrontado com o facto de esta ideia da generalização da corrupção na política ser muito alimentada por partidos de direita radical, afirma: “Esse é que é o problema. É que quando eu começo a ver um partido como o Chega a tomar determinadas posições, a defender determinado tipo de situações… é que parece que eles não são políticos, eles referem-se aos políticos como se fossem outros”.

Sobre o que defende o Manifesto dos 50, diz que os subscritores não confundem todos os 1.600 procuradores, mais os funcionários, com um setor muito específico do MP, mas sublinha que “há um conjunto de práticas, nomeadamente, ao nível da parte processual da área penal”, que “levantam sérias dúvidas”.

“Esta ideia de se querer transformar numa espécie de regulador ético moral da vida política. Eu acho que isto é uma ameaça. É grave que alguém, em vez de se basear em factos e em procedimentos legalmente consagrados se esteja a orientar por preconceitos de ordem ética ou moral”, conclui.

Últimas de Política Nacional

Pelo segundo ano consecutivo as cerimónias da Implantação da República, que se realizam hoje na Praça do Município, em Lisboa, foram vedadas ao público, tendo acesso apenas pessoas autorizadas.
A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, disse esta sexta-feira que o turismo de saúde é uma “matéria sensível” com alguns contornos que têm de ser investigados, mas reforçou que o Serviço Nacional de Saúde “não deixa ninguém à porta”.
A ministra da Saúde negou hoje qualquer pressão sobre as Unidades de Saúde Familiar, revelando que a declaração prévia em que as equipas se comprometem a aceitar os médicos de família que para ali concorrem já existia.
O líder do CHEGA, André Ventura, acusou o atual líder do executivo, Luís Montenegro, de ter mentido quando assegurou não ter qualquer acordo orçamental com o PS e acusou o Presidente da República de perturbar o funcionamento das instituições e ser fonte de intriga.
A Avenida Almirante Reis, em Lisboa, foi o palco de uma manifestação massiva organizada pelo partido CHEGA, onde milhares de apoiantes acompanharam o líder do partido, André Ventura, num protesto contra a “imigração descontrolada” e a “insegurança”.
O primeiro-ministro apresentou a Pedro Nuno Santos uma contraproposta sobre a redução do IRC, que em vez de cair para 17% no final da legislatura decresce para 15%, sendo que em 2025 o corte é de um ponto percentual.
O partido CHEGA apresentou, na quarta-feira, dia 25 de setembro, um Projeto de Resolução que recomendava ao Governo a alteração das regras de inscrição nas creches aderentes ao programa “Creche Feliz”, de forma a dar prioridade às crianças cujos pais sejam trabalhadores.
O primeiro-ministro e líder do PSD acusou hoje o PS de querer condicionar "80% da margem orçamental" do Governo, rejeitando o argumento de que na negociação do próximo Orçamento só estejam em causa duas medidas ou 1% do documento.
O presidente do CHEGA considerou hoje que o Governo está a "reconhecer que vai deixar cair" a redução do IRC e a "capitular ao PS e à esquerda" nessa matéria e "provavelmente" abandonará também a proposta de IRS Jovem.
O Conselho de Estado reúne-se hoje à tarde num contexto de negociações orçamentais, em que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, assume que tem exercido pressão para a aprovação do Orçamento para 2025.