A Verdade da Mentira (1)

© Folha Nacional

É nos momentos de catástrofe que o cidadão comum percebe a incompetência de quem nos governa. E as notícias que chegam a público parecem validar as incompetências dos nossos governantes. 

Volvidos anos e anos de obras faustosas e extremamente onerosas com vias rápidas, auto estradas e túneis e mais túneis, sabemos agora a que extremo do absurdo chegaram as autoridades madeirenses (historicamente do PSD), em matéria de prevenção contra fogos.

Até parece que os governos da Madeira desconhecem que a ilha é montanhosa, desconhecem que a principal riqueza da ilha é o seu coberto vegetal,  e desconhecem que parte muito relevante da ilha é composta por áreas de difícil acesso.

Pelos meios de comunicação ficámos a saber, que para o Presidente do Governo Regional está tudo bem, porque não há vítimas humanas a registar, apesar dos milhares de hectares de mato ardido, tendo deixado mais de 14% do território da ilha em rocha nua e cinzenta de cinzas.

Também ficámos a saber que não existem infraestruturas rápidas para abastecimento de aviões Canadair, bombardeiros de água de combate a incêndios, tendo sido explicada a impossibilidade de usar água do mar; óbvio! mas que a questão foi colocada, foi!

Também soubemos que os Canadair por essa razão tiveram de ir abastecer em Porto Santo, a uma hora de distância de voo.

Ficámos a saber que a Madeira já teve dois helicópteros de combate a incêndios,  mas dispensou um, e também ficámos  a saber que aparentemente não existem represas de água espalhadas na ilha da Madeira para abastecer os helicópteros de combate a incêndios com rapidez e eficiência.

Então a questão coloca-se:

O Governo Regional e a Autoridade da Proteção Civil da Madeira fizeram uma análise de risco dos riscos de incêndio? E se fizeram a que conclusões chegaram quanto a infraestruturas necessárias, meios ativos e passivos, manutenção de vias de acesso, localização de reservas de água para combate a incêndios, capacidades técnicas e humanas necessárias para intervenções rápidas e eficazes, qualificação de meios, formação eventualmente necessária, limpeza de matas e de acessos, etc.

Houve Planeamento ? 

Não deixou de ser triste e cómico ver aquele conselheiro do Presidente do Governo Regional, quando veio a público o caso da corrupção de Miguel Albuquerque, sempre ao seu lado, aparecer agora com a farda da Proteção Civil. 

Para mim está tudo dito. Troca-se de casaco e parece que aparecem interlocutores novos e novos responsáveis, como tal, independentes. 

Errado, na república das bananas madeirense, apesar das obras públicas  serem adjudicadas sempre às mesmas empresas, os atores também são sempre os mesmos. 

E há dinheiro para obras públicas e estradas e túneis.

O que os nossos (não) governantes esquecem é que a riqueza principal da ilha é o seu coberto vegetal; se este desaparecer, a ilha corre o risco de ficar árida, pois é o coberto vegetal de topo que garante a captura da humidade e vapor de água trazidos pelas correntes e ventos marinhos.

Sem coberto vegetal de topo a Madeira perde humidade, torna se árida e vai perder turismo.

Se não se faz uma avaliação séria dos riscos incêndio e dos meios necessários para o combate a incêndios, com as alterações climáticas os riscos são incrementados e o resultado está à vista.

12 dias de incêndio descontrolado, são o resultado de décadas de desgoverno do PSD. 

Impõe-se a revisão de plano de contenção de catástrofes no caso dos incêndios e a sua validação pública.

Não se perderam vidas humanas, mas perderam-se receitas futuras do turismo e perdeu-se a beleza natural da ilha. 

Agora, novas ameaças pairam sobre a Madeira: no próximo Inverno é de esperar enxurradas catastróficas, porque não há vegetação que segure as terras com as suas raízes. Quando chover vêm tudo por ali abaixo. Já aconteceu! 

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