Psicólogos alertam para exclusão de maioria dos estudantes dos cheques-psicólogo

A maioria dos estudantes do ensino superior não terá acesso aos cheques-psicólogo devido aos critérios de exclusão, alerta a presidente da Rede de Serviços de Apoio Psicológico no Ensino Superior, que considera insuficiente o número de consultas disponibilizadas.

© D.R.

Desde o início da semana passada que os estudantes do ensino superior podem pedir consultas de psicologia, ao abrigo de um programa que abrange instituições públicas e privadas.

Depois de duas primeiras consultas de avaliação e diagnóstico, os alunos terão acesso a mais 10 consultas, mas a medida deixa de fora alguns casos que, segundo Olga Oliveira Cunha, abrangem mais de metade do universo de alunos do ensino superior.

Entre os critérios de exclusão, estão previstos os alunos com necessidades educativas específicas, que apresentem comportamentos aditivos, com diagnóstico de perturbação psicótica ou bipolar, ou de perturbação da personalidade, pensamentos suicidas e sintomas com duração superior a um ano e meio.

“A ideação suicida é relativamente comum nesta faixa etária”, exemplifica a também psicóloga da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, acrescentando que, por outro lado, a maioria dos estudantes relata sintomas desde o ensino secundário quando recorre ao serviço de psicologia da faculdade.

Olga Oliveira Cunha questiona igualmente o número de consultas disponibilizadas, que considera muito insuficiente, uma vez que construção de uma relação de confiança entre psicólogo e paciente “leva algum tempo”.

“O que acontece quando acabam as 12 sessões? O aluno é devolvido ao serviço? Tem de procurar outro psicólogo? A própria medida não refere como vai ser monitorizada”, critica, lamentando também que não tenha existido uma articulação com os serviços de psicologia das instituições de ensino superior.

Num contexto em que são cada vez mais os pedidos de apoio e de natureza mais problemática, Olga Oliveira Cunha entende que a medida dos cheques-psicólogo não dá uma resposta adequada e defende antes o Programa para a Promoção de Saúde Mental no Ensino Superior, um programa de financiamento lançado pelo anterior executivo para promover a implementação de projetos nas instituições.

“O programa implica a ideia de fazer coisas com os estudantes e não para os estudantes, porque o seu envolvimento é que faz com que tenham uma participação mais ativa”, defende a psicóloga, que acredita que, apesar de demorarem mais tempo, os resultados serão mais consistentes e estruturais.

Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, onde Olga Oliveira Cunha integra o serviço de psicologia, foram acompanhados mais 212 estudantes no ano passado com mais de mil atendimentos individuais e, desde o início do ano letivo, já chegaram ao serviço mais de 30 novos pedidos.

O cenário repete-se noutras instituições e as listas de espera chegam a ultrapassar os cinco meses, com cada vez mais pedidos de apoio desde a pandemia da covid-19, que deixou marcas na saúde mental dos estudantes.

Segundo a presidente da Rede de Serviços de Apoio Psicológico no Ensino Superior, as situações são também mais problemáticas e se antes os alunos procuravam ajuda por questões sobretudo académicas, agora são mais frequentes as situações de natureza psicopatológica.

As principais problemáticas estão relacionadas com ansiedade, depressão, ideação suicida, adições e dificuldades no estabelecimento de relações interpessoais, em muitos casos associadas a uma maior pressão em termos de sucesso, competitividade e integração no mercado de trabalho, mas também a questões socioeconómicas, explica a psicóloga.

“Uma questão que tem surgido nos últimos dois anos é a questão social, nomeadamente o alojamento. São dos fatores que mais têm impacto na saúde mental dos nossos estudantes”, refere, acrescentando o aumento do custo de vida, que o reforço das bolsas de estudo não consegue compensar.

Últimas do País

Três concelhos dos distritos da Guarda e de Coimbra estão hoje em risco máximo de incêndio, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
A prisão de Lisboa, a maior do país, com cerca de mil reclusos, enfrenta um cenário de elevada tensão. A paralisação dos guardas prisionais, iniciada na quarta-feira, está a gerar revolta entre os detidos, que se encontram privados de visitas, da entrega de alimentos e de roupa lavada.
Cerca de 1,8 milhões de pessoas em Portugal viviam em agregados familiares com um rendimento mensal inferior a 632 euros por adulto equivalente, em 2023. Entre os diferentes grupos etários analisados, os idosos foram os mais afetados pelo agravamento da pobreza, com a taxa de risco a aumentar de 17,1% em 2022 para 21,1% em 2023.
O jovem de 23 anos suspeito de ter esfaqueado mortalmente um turista norte-americano na madrugada de quarta-feira, em Cascais, ficou esta sexta-feira em prisão preventiva.
A Polícia Judiciária (PJ) de Setúbal está a investigar uma denúncia apresentada por uma jovem de 20 anos que afirma ter sido sequestrada por três homens, de quem aceitou boleia na Amadora.
A comunidade indiana tornou-se, este ano, a segunda mais numerosa em Portugal, totalizando 98.616 cidadãos. Até então, esse lugar era ocupado por Angola, que agora ocupa a terceira posição, com 92.348 residentes.
O presidente do Sindicato dos Profissionais da Polícia (SPP/PSP) disse que a manifestação de hoje é o início de vários protestos que os polícias vão realizar "até deixarem de ser discriminados", estando marcado para as próximas semanas outras iniciativas.
A Provedoria de Justiça contesta a fórmula de cálculo usada pelo Instituto da Segurança Social (ISS) para fixar pensões unificadas, considerando que limita “injustamente” o acesso e valor destas prestações, em prejuízo dos cidadãos
Esta semana está a ser sangrenta em Portugal, particularmente na Área Metropolitana de Lisboa. Em menos de 48 horas, três pessoas foram assassinadas e quatro foram internadas em estado grave. “Inqualificável”, diz André Ventura.
Nove em cada 10 Unidades de Saúde Familiar (USF) reportaram no último ano faltas de material básico como vacinas, e quase todas tiveram falhas informáticas, segundo o estudo anual que retrata o estado dos cuidados de saúde primários.