Governo valenciano no centro das críticas por falhas e atrasos durante as cheias

Mais de dez dias após as inundações que causaram mais de 220 mortos em Espanha, mantêm-se as queixas sobre falhas nos avisos e assistência às populações, com o maior alvo a ser, para já, o governo regional valenciano.

© LUSA/Biel Aliño

As queixas e dúvidas saltaram logo nas primeiras horas após as cheias que atingiram o leste de Espanha no dia 29 de outubro.

Apesar de haver críticas tanto ao Governo central, liderado pelos socialistas, como ao executivo autonómico conservador do Partido Popular (PP), foi contra este último que nos últimos dias se adensaram as críticas.

A indignação contra as instituições públicas teve no domingo passado um momento inédito na história democrática de Espanha, quando os Reis, Felipe VI e Letizia, o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, e o presidente do governo regional, Carlos Mazón, foram recebidos com lama e gritos de “assassinos” numa das mais de 70 localidades afetadas pelas cheias, Paiporta.

Quase uma semana depois, está convocada para hoje, por 40 organizações sociais e sindicatos, uma manifestação em Valência com o mote “Mazón demissão”.

A região de Valência foi atingida por um temporal em 29 de outubro, ao final da tarde. Eram 20h10 quando chegou aos telemóveis um alerta escrito, mas nesse momento já havia localidades e estradas alagadas com milhares de carros presos nas águas.

O alerta chegou às 20h10, mas havia um aviso vermelho da meteorologia desde as 07h31. A responsabilidade do envio dos alertas cabe às autoridades autonómicas (a Comunidade Valenciana), enquanto os serviços meteorológicos são estatais.

A atuação das autoridades nacionais e autonómicas no dia 29 de outubro, nas horas prévias às inundações, tem enchido noticiários e jornais nos últimos dias, com os relatos de um lado e outro a nem sempre coincidirem.

As fontes do governo central revelaram emails e contactos telefónicos “ao mais alto nível” logo desde a manhã, com o objetivo de alertar autarcas e o executivo da Comunidade Valenciana para o perigo e a necessidade de atuação.

As fontes do governo regional, sem negarem os contactos, garantem que não tiveram esse teor tão concreto ou alarmante, o que só aconteceu já perto das 20h00, quando um secretário de Estado avisou para a possibilidade de rebentar uma barragem.

Diversas declarações de Mazón e membros do seu governo sobre o dia 29 de outubro têm sido, porém, desmentidas por documentos e gravações tornados públicos, mas também por comandos militares ou ministros.

Houve também declarações contraditórias e polémicas, como aconteceu com a conselheira (equivalente a ministra) que tutela a proteção civil, Salome Pradas, que chegou a dizer que só às 20h00 do dia das inundações ficou a saber por “um técnico” que existia um sistema de alertas para os telemóveis.

Quanto a Mazón, teve naquele dia, segundo o seu gabinete, um “almoço privado de trabalho” de várias horas e só às 19h00 chegou à reunião do gabinete coordenador de emergências que estava convocado para as 17h00. Esta é a versão oficial mais recente, que contradiz outras anteriores, que garantiam que tinha estado no seu gabinete e sempre informado sobre o temporal.

Fontes governamentais garantem que a ministra da Transição Ecológica, Teresa Ribera, que tutela os rios, o tentou contactar várias vezes sem êxito, o que só conseguiu ao final da tarde.

O alerta tão tardio é uma das principais queixas e questões colocadas desde 29 de outubro, mas não a única. Há também protestos pela demora na chegada de assistência às populações após as cheias.

Neste momento, estão no terreno cerca de 15.000 militares e elementos das forças de segurança do Estado, mas foram chegando pouco a pouco, com o maior reforço a ter ocorrido só no fim de semana.

Estes meios são enviados pelo Governo central, mas tem de ser o executivo regional a pedi-los, por serem as autoridades autonómicas a terem a tutela do comando das operações.

No entanto, o Governo de Espanha poderia aprovar unilateralmente uma declaração de “emergência nacional” e automaticamente assumir o controlo, substituindo as autoridades autonómicas.

É isto mesmo que têm pedido a Sánchez partidos políticos de esquerda e outras vozes, que defendem que há uma incapacidade e incompetência já comprovadas do governo regional valenciano na gestão da crise.

Foi também, e de forma surpreendente, o que defendeu o líder nacional do PP, Alberto Núñez Feijóo, na segunda-feira, quando considerou que a dimensão da catástrofe justifica a declaração de “emergência nacional”, numa declaração vista como de responsabilização do executivo de Sánchez, mas também de desautorização de Carlos Mazón.

Sánchez lembrou na terça-feira que Espanha é um país descentralizado, totalmente organizado em autonomias, num sistema de “co-governança” que já deu provas de funcionar, mesmo em situações extremas, como a pandemia.

Neste contexto, disse que não iria substituir a Comunidade Valenciana no comando das operações, invocando o respeito institucional, mas também “a eficácia”, porque uma mudança agora diminuiria o nível de resposta às populações, por ser a administração regional e local que melhor conhece o terreno e a situação nas áreas afetadas.

“Todos somos Estado. E, portanto, o que temos de fazer é cooperar”, afirmou.

Sánchez e Mazón, nas declarações públicas que fizeram até agora, estão de acordo num ponto: este é o momento de gerir a emergência; o apuramento de responsabilidades por falhas e erros é “outra fase”.

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