De acordo com dados divulgados esta semana pelo BdP, os novos depósitos a prazo de particulares em outubro tinham uma remuneração 22,4% mais baixa do que a registada no final de dezembro de 2023. Já nos depósitos de empresas, a diferença foi de 20,5%.
Assim, a taxa média de remuneração de depósitos a prazo de particulares em outubro foi de 2,39%, contra 3,08% em dezembro, e de 2,75% nos depósitos de empresas, face a 3,46%.
Por outro lado, os juros, tanto no crédito à habitação como no crédito concedido a empresas, registaram quebras de 19,1% face aos valores de final de dezembro.
No final de outubro, a média dos juros cobrados pelos bancos portugueses no crédito à habitação era de 3,39%, contra 4,19% no final de 2023, enquanto nos empréstimos às empresas passaram de 5,66% para 4,58%.
Em sentido inverso, a taxa de juro média no crédito ao consumo subiu de 8,52% em dezembro de 2023 para 8,91% em outubro deste ano.
Depois de anos com as taxas diretoras a negativo, o Banco Central Europeu (BCE) iniciou um ciclo de 10 subidas consecutivas para conter a inflação na zona euro, tendo a taxa de juro de referência subido para 4,0%.
Em meados de outubro, o BCE baixou a taxa de juro de referência em 25 pontos base para 3,25%, sendo que este foi o terceiro corte do ano, num contexto de moderação da inflação e de abrandamento da atividade económica a curto prazo.
Apesar do abrandamento e descida desta referência num total de 75 pontos base, o quadro geral do setor mostra um desfasamento na transmissão da política monetária para os juros nos clientes.
Num relatório divulgado em outubro, as investigadoras do Banco de Portugal (BdP) Diana Bonfim e Leonor Queiró registaram que há uma “transmissão incompleta da política monetária às taxas de juro dos depósitos”.
O estudo das investigadoras debruçou-se sobre o período entre os últimos trimestres de 1997 e 2023 e concluiu que por cada aumento de 100 pontos base nas taxas de juro do mercado monetário, houve um aumento de 65 pontos base nas novas taxas de depósito, ao longo de um ano.
Segundo a análise, quando o BCE sobe as taxas de juro diretoras, a diferença é mais notória nos depósitos das empresas (95 pontos base) que nos depósitos de particulares (59 pontos base).
As conclusões remetem ainda que a transmissão destas medidas decorre a um ritmo mais fraco que na área do euro, em que o aumento é de 87 pontos base.
Já nas operações de crédito, quando há um aumento de 100 pontos base nas taxas de juro do mercado monetário, o mercado português transmite um aumento de 58 pontos base.
Mas, se no caso das empresas a transmissão é “muito semelhante” – 93 pontos base no caso dos empréstimos e 95 pontos base no caso dos depósitos por cada 100 pontos base na política monetária –, nas famílias o caso é diferente.
“Em contraste, os bancos são mais rápidos a ajustar as taxas de juro dos empréstimos bancários às famílias do que dos seus depósitos”, referem as autoras do estudo.
De acordo com as investigadoras, quando há uma subida de 100 pontos base no BCE, as famílias notam aumentos de 71 pontos base no crédito e de 59 pontos base nos depósitos.
As investigadoras apontam que no período entre 2015 e 2021, quando as taxas de juro de depósitos estiveram próximas de zero, os bancos “registaram perdas em depósitos durante todo este período, uma vez que ofereceram aos depositantes taxas superiores ao seu custo de financiamento em operações de política monetária”.
Em novembro, a agência de notação financeira Morningstar DBRS registou que os bancos portugueses deverão atingir lucros recorde este ano e antecipou um “forte desempenho” em 2025.
Ainda assim, os seus analistas alertaram que as taxas de crescimento deverão estabilizar “em níveis estruturalmente elevados nos próximos trimestres, à medida que as taxas de juro baixem gradualmente”.
A Morningstar DBRS sublinhou que os lucros saudáveis nos últimos anos e a geração de capital interno “mantiveram fortes os rácios de capital” da banca em Portugal.
Apesar de antecipar uma diminuição gradual tanto das taxas de juro dos depósitos, como das dos créditos – a par das políticas monetárias do Banco Central Europeu (BCE) –, a agência de notação financeira admite que o alívio destas políticas poderá estimular uma “recuperação adicional do volume de empréstimos a taxas estruturalmente mais elevadas e apoiar os lucros dos bancos”.