O Miguel Corte-Real foi líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal do Porto. Por que motivo se candidata agora pelo CHEGA?
Em 2021, quando fui eleito, participei num acordo com os independentes, que considerava positivo para os portuenses. No entanto, o PSD preferiu negociar lugares em vez de honrar esse compromisso. Para manter as minhas convicções, tive de mudar de partido. O meu limite foi atingido quando me disseram que o tema da segurança não era assunto para o PSD.
A segurança é um problema real na cidade invicta?
Sem dúvida. No dia em que temos medo de sair à rua, de encontrar o carro vandalizado ou de ver os nossos filhos assaltados a caminho da escola, a segurança deixou de ser uma perceção para ser um problema real. Esse dia é hoje. Há zonas no Porto que se tornaram praticamente interditas, com bairros dominados por gangues ligados ao tráfico de droga.
E a imigração?
Digo o mesmo. A realidade é evidente para todos os portuenses, mas apenas o CHEGA tem coragem de falar sobre isso. Quando, na Junta de Freguesia do Bonfim, centenas de cidadãos pedem atestados de residência para a mesma morada, estamos claramente perante redes criminosas organizadas. Isto não é uma perceção, é um facto. A imigração deve ser regulada com base na ordem e na lei, mas a imigração ilegal, como nestes casos, tem de ser combatida com firmeza e sem complacência. O CHEGA, na Câmara Municipal, não irá ignorar esta realidade.
A despesa pública com a cultura é também um problema?
O que se gasta em verdadeira cultura é investimento. Mas, no Porto, se olharmos para a gestão da Ágora, empresa municipal de cultura, gerida por dois membros do CDS, que integram agora a lista de Pedro Duarte, vemos despesas completamente desproporcionadas. Esses administradores contrataram 25 assessores de comunicação, 14 juristas, 18 gestores de recursos humanos e 11 financeiros, apenas para essa empresa. Os custos com recursos humanos crescem 20% ao ano desde 2017. Importa referir que a Câmara Municipal do Porto é a que mais empresas municipais tem no país, com administradores e diretores a ganharem mais do que os próprios eleitos.
Mas esse não é um problema da cultura apenas…
É um problema endémico no Porto. Há má despesa pública por todo o lado: obras inúteis, projetos que nunca saem do papel, mas custam milhões. Quando se gasta mal, ou por compadrio, há sempre algo de essencial para os cidadãos que fica por fazer. Já dei um exemplo concreto: ‘Por cada quatro metros da patética linha de Metrobus na Boavista, ficou uma casa por construir’.
O trânsito é outro dos problemas que elegeu como prioritário. Que soluções propõe?
O Porto está na pré-história da gestão semafórica. Foram gastos milhões em adjudicações, quase sempre à mesma empresa, mas os semáforos continuam desarticulados. Todos os portuenses sabem quanto tempo perdem parados sem necessidade. Para além disso, falta bom senso e inteligência na gestão das obras: muitas são desnecessárias e estão mal calendarizadas.
E depois há a VCI (Via de Cintura Interna) …
Já apresentei uma solução concreta, que depende apenas da Câmara Municipal: a deslocalização do Mercado Abastecedor, que provoca cerca de três mil movimentos diários de veículos pesados. É preciso resolver este problema antes de pensar noutras medidas. Enquanto o Mercado estiver ali, tudo o resto será insuficiente. Os meus adversários falam em portagens e proibições, mas todos sabemos que nunca as aplicarão. O CHEGA responde com propostas realistas e inteligentes.
E Campanhã agradece?
Retirar o Mercado Abastecedor daquele local seria transformador para Campanhã. Esta freguesia tem de deixar de ser tratada como um espaço periférico e passar a ser reconhecida como o verdadeiro território de expansão da cidade. Entre os terrenos do Mercado e zonas como o Monte da Bela, a Câmara detém mais de 300 mil metros quadrados quase contínuos junto à VCI e à estação de Contumil. Ali pode nascer uma nova centralidade urbana, com habitação acessível, cooperativas e novas empresas.
O urbanismo é também uma das suas preocupações?
Claro que sim. Porque o mesmo urbanismo que não consegue construir habitação no Quartel de Monte Pedral ou no Monte da Bela é o que permite alterar o PDM (Plano Diretor Municipal) e aprovar torres de 100 metros na Avenida Nun’Álvares. O resultado está à vista: a cidade está repleta de construções sem critério nem visão.
Quem considera serem os seus principais adversários no dia 12?
Os meus verdadeiros adversários são aqueles que usam o Porto como trampolim para as suas carreiras políticas. Não podemos ser liderados por quem está ao serviço do Governo central ou por quem alterna entre a capital e o Porto conforme a conveniência. Se entregarmos o destino da cidade a um emissário de Lisboa, então o Porto deixará de ser verdadeiramente a cidade invicta, porque, na verdade, já terá perdido.