Empresários portugueses alertam Bruxelas para custo da energia e concorrência desleal

O elevado custo da energia e a concorrência desleal foram os dois principais alertas feitos hoje por líderes empresariais portugueses numa reunião com o vice-presidente executivo da Comissão Europeia (CE), Stéphane Séjourné, em Lisboa.

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Em declarações à agência Lusa no final do encontro, o presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal (em cuja sede decorreu a reunião) disse que este contou com a participação de dirigentes de empresas portuguesas e de associações empresariais dos setores farmacêutico, metalúrgico e metalomecânico, têxtil e vestuário, indústria química e fileira do papel, entre outros, para além de representantes do sistema científico e tecnológico nacional.

“Estivemos a ver questões muito concretas a nível destes setores que, por força das tarifas americanas, têm aqui uma dificuldade acrescida”, afirmou Armindo Monteiro.

Segundo salientou, “um ponto incontornável” no encontro era sensibilizar Stéphane Séjourné para questão do custo da energia, nomeadamente para a falta de ligações de Portugal e Espanha à Europa.

“Temos aqui uma barreira, aparentemente intransponível, que são os Pirinéus, e isso só se resolve com uma infraestrutura europeia, o que está no domínio das atribuições deste vice-presidente”, salientou o presidente da CIP.

“Se não conseguimos todos baixar o custo de energia, e compararmos este custo com a China, por exemplo, isto é um problema, porque temos de ter noção que há indústrias em que que o custo de energia pode representar 30% ou 40% do custo de produção”, acrescentou.

Outro dos temas em destaque na reunião foi o da concorrência, designadamente a desleal por parte de “determinados blocos”, como a China, não sujeitos ao conjunto de regulamentos e normas impostos às empresas europeias.

“São três áreas – laboral, ambiental e fiscal – em que, se as regras não forem as mesmas, naturalmente que a produção europeia e portuguesa não são competitivas, independentemente de qual for a organização dos fatores de trabalho ou a capacidade da empresa”, afirmou Armindo Monteiro.

Segundo o líder da CIP, Séjourné transmitiu “que estas preocupações são mais ou menos comuns a outros países e que tem que haver uma solução organizada”.

“A União Europeia tem estado a estudar esta situação e aquilo que reafirmámos foi a necessidade imperiosa de, para além de terem o diagnóstico e o conhecimento, se fazer alguma coisa imediatamente”, enfatizou Armindo Monteiro.

O dirigente empresarial destacou ainda que Stéphane Séjourné “ficou surpreendido com o nível de sofisticação da economia” portuguesa, tendo a participação no encontro de hoje de representantes dos laboratórios e centros de investigação nacionais evidenciado que “a economia portuguesa está em transformação”.

“Já não somos o país dos baixos salários, nem somos os da subcontratação da Europa. Temos neste momento setores, desde a metalurgia à indústria farmacêutica, passando por outros setores, como o têxtil, que já beneficiam de investigação”, referiu.

O vice-presidente executivo da Comissão Europeia para a Prosperidade e Estratégia Industrial da Europa, Stéphane Séjourné, está hoje em Lisboa para encontros com representantes do Governo português e dirigentes de empresas portuguesas de referência.

Para além do encontro na CIP, Séjourné tem agendada uma reunião com a Comissão de Assuntos Europeus e a Comissão de Economia e Coesão Territorial para debater o tema “Uma Europa Mais Forte e Competitiva num Panorama Global em Mudança”.

A agenda inclui ainda uma reunião com o ministro da Economia e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, e o secretário de Estado da Economia, João Rui Ferreira, assim como um encontro bilateral com o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento.

De acordo com a Representação da Comissão Europeia em Portugal, “pouco depois do primeiro aniversário do Relatório Draghi, e num contexto de tensões geopolíticas e incerteza, esta visita constitui uma oportunidade para discutir a implementação da nova estratégia industrial europeia e os planos da Europa para salvaguardar os seus setores industriais mais críticos”.

Segundo refere, o vice-presidente executivo “abordará igualmente o trabalho em curso da Comissão para eliminar barreiras no Mercado Único, bem como os esforços para garantir um fornecimento diversificado de matérias-primas críticas”.

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