O mercado imobiliário em Portugal vive um período de valorização intensa, cada vez mais distante da realidade dos rendimentos da maioria da população. Uma análise realizada pelo Diário de Notícias (DN) ao portal Imovirtual, que conta com mais de 252 mil anúncios e seis milhões de visitas mensais, revela um desfasamento de 67% entre o preço médio dos imóveis anunciados, cerca de 387 mil euros, e a capacidade de pagamento dos compradores, que procuram habitações em média de 233 mil euros, segundo Sylvia Bozzo, diretora de marketing da plataforma.
Em Lisboa, o desfasamento atinge 90%, com preços médios de 575 mil euros e procura concentrada nos 302 mil euros. No Porto, a diferença é de 58% e, em Faro, de 62%. Já em Castelo Branco, os valores estão praticamente alinhados: 85 mil euros na oferta face a 88 mil euros na procura.
No mercado de arrendamento, a média nacional mostra uma diferença de 49% entre os valores pedidos e os valores pretendidos pelos arrendatários. Lisboa lidera novamente, com rendas médias de 1.733 euros por mês, enquanto a procura se situa nos 1.040 euros. Seguem-se Setúbal (40%), Porto (36%), Évora (35%) e Faro (33%). A procura por casas para arrendar regista uma ligeira subida, refletindo as dificuldades de acesso ao crédito e o aumento dos preços de compra. As habitações anunciadas no Imovirtual permanecem, em média, apenas 18 dias online — menos ainda em Lisboa e no Porto.
O contraste entre salários e preços é flagrante: o salário mínimo nacional é de 870 euros brutos e o salário médio de 1.741 euros, enquanto 70% das casas para arrendar em Lisboa custam mais de 1.251 euros mensais. No Porto, cerca de um terço das ofertas ultrapassa este valor.
De acordo com o DN, entre julho e setembro, 20% do tráfego do Imovirtual teve origem no estrangeiro, sobretudo em França, Suíça, Brasil, Reino Unido, Espanha e Alemanha — um aumento face aos 18% registados em 2022.
O mercado de compra continua aquecido: entre abril e junho foram vendidas quase 43 mil casas, mais 15,5% do que no período homólogo, com um aumento de preços de 17,2%. No entanto, a procura por terrenos regista uma quebra: o número de anúncios diminuiu 22% face ao ano anterior, e a procura recuou 2,9%. O preço médio por metro quadrado atingiu os 42 euros, o que representa um crescimento de 7,7% face ao trimestre anterior.