As novas escutas da Operação Influencer mergulharam o PS num clima de desconforto interno, agora centrado em José Luís Carneiro. O secretário-geral socialista surge mencionado em escutas onde recomenda o nome de um antigo autarca para funções públicas, numa prática que descreve como “normal”, mas que reacendeu suspeitas sobre a forma como influência e proximidade partidária se cruzam com decisões do Estado.
Para a população em geral, as explicações de Carneiro parecem insuficientes e alimentam a perceção de que a máquina socialista manteve, ao longo dos anos, uma cultura de favores, cunhas e alinhamentos partidários.
A divulgação das escutas intensificou as dúvidas sobre o alcance real das redes que orbitavam em torno do aparelho do Estado. Para além de Carneiro, são revelados contactos frequentes entre dirigentes socialistas ligados a setores sensíveis, como a TAP, energia, lítio, ambiente, num retrato que muitos consideram demasiado próximo de uma estrutura paralela de influência política. Entre os nomes referidos está o de Vítor Escária, chefe de gabinete de António Costa, cujo gabinete foi alvo de buscas que resultaram na apreensão de milhares de euros em numerário.
António Costa também não escapa ao desgaste. Cerca de 50 comunicações em que surge apanhado, ao longo de três anos, reforçam a ideia de um ex-primeiro-ministro envolvido em múltiplas frentes de articulação política e partidária.
O facto de várias dessas interceções terem levado o Supremo Tribunal de Justiça a ordenar destruições, devido a matérias sensíveis de governação, só ampliou as dúvidas sobre o grau de exposição e a natureza dos contactos captados. A posterior admissão do DCIAP, reconhecendo “falhas técnicas” no envio de 22 sessões que deviam ter sido analisadas pelo Supremo, abriu uma nova crise de credibilidade institucional.
As escutas polémicas alastraram-se à campanha presidencial. André Ventura acusou o PS de ter alimentado “uma rede de influência entranhada nas instituições”, afirmando que há “um padrão” que se repete sempre que um socialista é mencionado num processo judicial.
Para o candidato presidencial apoiado pelo CHEGA, o país testemunha “tentativas continuadas de entropia e descrédito sobre a investigação… um verdadeiro polvo socialista”, defendendo reformas profundas para impedir que nomeações políticas condicionem a justiça.
A Operação Influencer, inicialmente centrada em suspeitas de pressões sobre investimentos estratégicos, tornou-se um espelho incómodo para o PS, com José Luís Carneiro no epicentro da controvérsia e Costa novamente associado a um caso que teima em perseguir os socialistas.