A Europa, como entidade de cultura e de civilização, e a União Europeia, como entidade política, viveram quase três gerações com a convicção de que a guerra não voltaria a acontecer no seu território.
O Fim da História de Fukuyama veio dar a essa convicção uma fundamentação racional – e o Ocidente de forma geral, e a Europa em particular, acreditaram numa Paz permanente e numa harmonia universal e eterna.
Ocorreriam quando muito guerras locais, em zonas periféricas, mas o quadro geral da Paz Universal não seria seriamente posto em causa.
O conflito dos Balcãs, no final do século XX, foi um aviso de que as coisas poderiam não ser bem assim. As suas causas, territoriais e religiosas, eram um prenuncio de conflitos futuros, mas a Ilusão Europeia de paz permanente era tão forte que a Europa desvalorizou o aviso e fez por esquecer.
Entretanto o alerta de Huntington no seu Choque das Civilizações foi descartado pela “intelligentsia” europeia como coisa de mau gosto. E ninguém deu muita atenção a Tim Marshall e ao seu Prisioneiros da Geografia.
E agora, a Europa tem duas guerras à sua porta. Ambas previstas nestas duas obras: a da Ucrânia nos Prisioneiros, a do Médio Oriente no Choque das Civilizações.
Não me vou alargar mais sobre este tema, senão para concluir que o conflito armado faz parte da História da Humanidade. E sempre pelo mesmo motivo: Território. A que se juntou desde o século VII, com a aparição do islamismo, uma segunda justificação: a Religião. E no século XX uma outra que basicamente é também religiosa: a Ideologia comunista.
A guerra na Ucrânia é uma guerra por território. A de Israel é uma guerra por território e religiosa.
O que nos dizem estas duas guerras, só inesperadas para quem estava distraído?
Duas coisas, que não são novas, que são importantes e que a memória colectiva esquece com facilidade.
A primeira, é que é na Paz que se prepara a guerra. Quem não se prepara para se defender provoca a agressão. A Inglaterra dos anos 30 aprendeu isto à sua custa e Munique deveria estar sempre na memória colectiva europeia. E na nossa.
A segunda, que as guerras não se repetem. A de 39/45 foi diferente da de 14/18. Nas armas, na estratégia, nas tácticas no terreno. E a da Ucrânia já está a ser diferente. Novas armas, como os drones, guerra cibernética, desinformação.
Temos, portanto, um guerra na Europa e outra no Médio Oriente. E para aqueles que pensam que a do Médio Oriente não nos diz respeito, desenganem-se;
O único objectivo dos extremistas islâmicos é dar cabo da nossa civilização ocidental.
E a Europa, adormecida no sonho da Paz permanente, confiante na proteção dos EUA via NATO, estará pronta para lutar pelo que proclama serem os seus valores, Democracia e Liberdade?
Não sei, tenho dúvidas.
Onde não tenho, infelizmente dúvidas nenhumas, é sobre a impreparação total das Forças Armadas Portuguesas se o conflito nos bater à porta.
Temos falta dramática de efectivos. Temos armamento obsoleto. Temos logística ineficaz. Temos deficiências graves em matéria de treino para as novas vertentes da guerra. Temos atraso nas novas tecnologias e nos novos tipos de armas.
Já o disse nesta Câmara e volto a repetir: os Governos da Democracia em geral e os do Partido Socialista em particular reconduziram as nossas Forças Armadas à Idade Média: metaforicamente as Forças Armadas Portuguesas voltaram ao arco e à flecha.
Se e quando a União Europeia – e a nossa própria sobrevivência como Nação – precisarem das Forças Armadas Portuguesas, lá iremos, poucos e desarmados, só para servir de carne para canhão.
Já foi assim, quando, empurrados pelo Governo de Afonso Costa, pelos antepassados ideológicos do PS, fomos em 1916 para a Flandres, morrer mal equipados e mal armados, mas com honra e coragem. Que ficam bem no túmulo do Soldado Desconhecido e no toque a silêncio, mas não ganham guerras.
Parece-me que quem agora nos governa, e continua a menosprezar as Forças Armadas, ou não sabe a história do seu País, ou não aprendeu nada.