Um estudo apresentado no mês passado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos mostrava que mais de 60% dos portugueses sentem dificuldades em pagar as suas despesas, nomeadamente no que à renda e/ou empréstimos à habitação diz respeito.
A esse mesmo estudo, 12% dos inquiridos admitiu acreditar estar em risco de ficar sem a sua habitação porque, apesar de os agregados familiares não terem perdido rendimentos, o aumento substancial do custo de vida tem deixado as famílias sem meios para fazer face a todas as despesas.
Aliás, vale recordar que, em agosto, Lisboa foi considerada a cidade mais cara da Europa para arrendar casa, um cenário que não se enquadra no nível de rendimentos dos portugueses.
Ainda nesta senda, um estudo europeu realizado pela empresa IPSOS revelava, em setembro, que a situação dos trabalhadores europeus é “muito preocupante, especialmente em Portugal e na Sérvia”.
E os portugueses, que têm vindo a sentir dificuldades na hora de pagar contas, sentiram o agudizar da crise agora na época natalícia, pois uma cesta com 16 produtos essenciais de Natal esteve este dezembro quase cinco euros mais cara do que no mesmo período do ano passado.
A este propósito vale frisar que o azeite, um dos produtos mais utilizados na gastronomia nacional, alcançou o valor recorde de 10,41 euros por 75 centilitros – quase o dobro do que custava em dezembro do ano passado.
Resta então perguntar: será o ano de 2024 melhor?
As perspetivas não são as melhores, pois são esperados aumentos de preços em vários setores, conforme noticiou esta semana o Jornal de Negócios.
No que diz respeito à alimentação, os mais de 40 produtos que compõem o cabaz alimentar irão sofrer um aumento, uma vez que a partir do dia 5 de janeiro acabará a isenção de IVA que vigorou desde abril último.
Mas este não será o único aumento nas despesas das famílias. Também a conta da eletricidade e do gás subirá. Relativamente ao custo da eletricidade, este aumentará 3,7% no mercado regulado, já no que diz respeito à conta do gás natural, a Galp já fez saber que irá subir o preço na ordem dos 4%, embora a EDP tenha garantida uma descida de 2%.
A fatura que também irá sofrer aumentos será a do abastecimento e saneamento da água, com a entidade reguladora a apontar para um aumento médio na ordem dos 8,5%.
Por sua vez, as operadoras de telecomunicações já fizeram saber que vão atualizar em alta os preços praticados e também as portagens voltarão a subir com a atualização a 1 de janeiro a fixar-se nos 2,04%. No que concerne às duas pontes sobre o Tejo, o aumento será de 3,6%.
Desafiado a comentar este cenário pouco positivo para as pessoas, André Ventura lamenta as dificuldades pelas quais as famílias passam.
“É muito triste uma pessoa trabalhar o mês inteiro, muitas vezes em dois empregos diferentes, e ainda assim chegar ao final do mês e não conseguir pagar todas as contas porque o custo de vida aumenta, mas os salários e as pensões estão estagnados”, começou por dizer André Ventura, referindo que os aumentos anunciados pelo Governo para o próximo ano “são apenas para inglês ver”.
“Sempre que estamos em época pré-eleitoral, o PS abre os cordões à bolsa, mas a verdade é que tudo não passa de um engodo, de uma ilusão que tão bem os socialistas sabem fazer, porque os aumentos que estão a anunciar não são suficientes para que milhares de famílias mantenham as suas casas e consigam fazer três refeições por dia”, acusou o líder do CHEGA.
Para André Ventura, se os “fundos europeus tivessem sido devidamente aplicados e não tivessem servido para encher os bolsos a alguns boys do sistema” e se o “governo do PS não tivesse optado por investir boa parte do PRR no Estado, mas sim nas famílias e nas pequenas e médias empresas, a esta altura os portugueses viveriam muito melhor”.
“Se estaria tudo resolvido? Não, não estaria, mas pelo menos não teríamos pessoas que trabalham a viver na rua por não conseguirem pagar uma renda ou um empréstimo à habitação”, apontou Ventura, considerando ainda que a culpa do “estado a que chegámos é tanto do PS como do PSD porque trataram das suas vidas e ignoraram as dos portugueses”.