“O regime pretende dar outra patada, pretende mais uma vez ignorar que não têm outra opção que aceitar que vai haver eleições limpas e livres na Venezuela, porque nós temos a força e eles sabem disso”, disse a candidata unitária da Plataforma Unitária Democrática (PUD), que agrupa os principais partidos opositores venezuelanos.
Maria Corina Machado falava para centenas de simpatizantes, em Pueblo Llano, no estado venezuelano de Mérida, a 575 quilómetros a sudoeste de Caracas.
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) marcou, na terça-feira, as eleições presidenciais para 28 de julho, dia de aniversário do antigo Presidente venezuelano Hugo Chávez.
O anúncio foi feito pelo presidente do CNE, Elvis Amoroso, três dias depois de o parlamento apresentar uma listagem de 27 datas possíveis para as presidenciais.
“Acabam de dar mais um golpe, porque sabem que estão perdidos e estão a tentar desmoralizar-nos, paralisar-nos e a nossa reação tem de ser mais força. E, se nós reconhecermos que esta é a verdadeira força, então este ano haverá eleições presidenciais limpas. Depende de nós, não depende deles”, disse a opositora.
“Vamos varrê-los das ruas, vamos varrê-los das ruas”, sublinhou.
Maria Corina insistiu que o regime não quer medir-se com ela numas eleições, que quer desconhecer os direitos dos venezuelanos e pediu “serenidade e firmeza, isso é o que virá, e mais trabalho que nunca”.
A opositora disse ter “um mandato do povo da Venezuela e esse mandato é até ao fim”.
“Isso significa libertar o nosso país, trazer os nossos filhos de volta a casa e ter uma Venezuela brilhante, próspera e digna, verdadeiramente rica, onde nos possamos olhar nos olhos como irmãos e irmãs, como cidadãos, sublinhou.
Vários políticos e analistas reagiram ao anúncio do CNE, entre eles o ex-candidato às primárias opositoras de outubro de 2023 Andrés Caleca, que usou a rede social X (antigo Twitter) para pedir “unidade e voto em qualquer circunstância, mesmo nas piores, e sobretudo, nas piores circunstâncias”.
Na mesma rede social, o antigo responsável do CNE Vicente Díaz explicou que “a decisão de marcar as eleições para o dia do aniversário de [Hugo] Chávez indica a necessidade imperiosa do Governo de se cobrir com o que se percebe como ser uma ‘lenda’ fundadora do seu movimento”.
“E, tentar respeitar o acordo de Barbados [assinado em outubro de 2023, entre o Governo e a oposição], mas num cenário extremo, concebido para empurrar um setor da oposição para fora da via eleitoral”, disse.
De acordo com o analista Féliz Seijas, do Instituto Delphos, com o anúncio da data das eleições “o símbolo de Chávez regressa ao movimento eleitoral do governo”.
“No dia [de aniversário] da sua morte, é anunciada uma data eleitoral para o dia do seu nascimento. Não funcionou a tentativa de distanciar-se dos símbolos e de os substituir gradualmente pelos da atual liderança”, escreveu, na X.
Para o opositor Juan Pablo Guanipa, o anúncio da data de eleições deixa uma coisa clara: “Maduro sabe que não tem vida. Ele sabe que, numa eleição minimamente decente, Maria Corina Machado daria uma tareia astronómica”.
Guanipa indicou ainda, na X, que até às eleições será impossível atualizar os cadernos eleitorais, registar três milhões de pessoas com idade para votar e garantir o voto dos venezuelanos no estrangeiro ou constituir uma missão de observação internacional.