No relatório anual sobre o mercado petrolífero a médio prazo, publicado hoje, a AIE estima que a produção deverá aumentar para cerca de 113,8 milhões de barris por dia até ao início da década, o que resultará num excedente de extração de cerca de oito milhões de barris, cerca de dois milhões mais do que atualmente.
Esta margem “maciça”, de dimensão apenas comparável à da crise da covid (em 2020 ultrapassou nove milhões de barris por dia), ameaça diretamente a estratégia do cartel petrolífero OPEP+ para evitar a queda dos preços.
Além do choque para a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os seus aliados, como a Rússia, este contexto de baixa de preços poderá também ter um impacto direto nos produtores de xisto dos EUA, mais sensíveis aos altos e baixos do mercado.
Do lado da procura, os autores do estudo salientam que a procura global continuará a crescer nos próximos anos, mas a um ritmo cada vez mais lento, até praticamente estagnar no final da década.
Especificamente, de 102 milhões de barris por dia em 2023, um aumento de 2,1 milhões de barris em relação ao ano anterior, passará para 105,6 milhões de barris por dia em 2029 e até uma ligeira contração no ano seguinte.
Este crescimento será dominado pelo aumento do consumo na Ásia, especialmente na Índia (devido aos transportes) e na China (devido à petroquímica), enquanto nas economias avançadas se prevê que a contração do consumo de petróleo continue, caindo de 45,7 milhões de barris em 2023 para 42,7 milhões de barris em 2030.
Este será o volume mais baixo desde 1991, excluindo o episódio excecional da covid. Em termos relativos, o peso dos países da OCDE terá diminuído de 57% da procura em 2007 para 45% em 2023 e 41% em 2030.
A mais curto prazo, a procura em 2024 e 2025 aumentará cerca de um milhão de barris por dia por ano, em relação direta com o crescimento económico.
No entanto, a partir daí, a AIE prevê uma dissociação das duas magnitudes devido à crescente substituição do petróleo como energia no setor dos transportes por veículos elétricos, que retirará 6 milhões de barris por dia de petróleo da procura até 2030.
No transporte aéreo, embora o nível de atividade pré-covid já tenha sido atingido em 2023, o consumo de parafina foi 5% inferior graças a medidas de eficiência e não se prevê que volte a exceder este volume até 2027.
Do lado da oferta, os Estados Unidos serão de longe o maior contribuinte para o aumento, com 2,1 milhões de barris adicionais até 2030, reforçando o seu papel de produtor “número um” do mundo.
Se forem acrescentados os 2,7 milhões de barris de outros quatro países americanos que não pertencem à OPEP+ (Brasil, Guiana, Canadá e Argentina), no total, estes representarão 76% do aumento previsto.
A agência salienta que, se outros projetos delineados pelas empresas petrolíferas forem concretizados, poderão ser acrescentados mais 1,3 milhões de barris por dia, o que aumentaria ainda mais o excedente.
A AIE estima que a OPEP contribuirá com mais 1,4 milhão de barris, graças à Arábia Saudita, aos Emirados Árabes Unidos e ao Iraque.