Nomeação de novo governo francês pode dividir socialistas e esquerda radical – analistas

A nomeação de um novo primeiro-ministro pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, pode implicar coligações com partidos da Nova Frente Popular (NFP) e divisões da esquerda, entre socialistas e esquerda radical, segundo analistas ouvidos pela Lusa.

“Uma coligação parece-me inevitável”, disse em entrevista à Lusa Virginie Martin, politóloga francesa e professora investigadora na Kedge Business School, que defende que um governo mais radical com a França Insubmissa (LFI, esquerda radical) pode ser “um pouco estranho e contraproducente”.

A grande questão é se “o Partido Socialista vai manter a aliança que fez com a LFI de Jean-Luc Mélenchon”, no âmbito da plataforma eleitoral Nova Esquerda Popular (NFP), porque pode querer avançar com soluções de coligação e “até ao momento, a LFI e os Ecologistas não querem realmente uma coligação, querem cumprir apenas o seu programa, o programa da LFI”, segundo a politóloga.

A coligação de esquerda NFP, que elegeu o maior número de deputados (193) nas eleições legislativas em 07 de julho, tem vindo a pressionar o Presidente francês a formar um novo governo e nomear a economista Lucie Castets como primeira-ministra.

“Não acho que Lucie Castets seja uma ideia muito boa”, afirmou Virginie Martin, referindo que é “um nome estranho”, sem legitimidade política, “que saiu da estranheza que é a NFP, onde tudo passa pela LFI”. A nomeação da economista pode resultar em “levar pessoas que não têm muito conhecimento e pouca experiência política” para o governo, adiantou.

Relativamente à pressão feita sobre Macron, a investigadora considera que estão a “jogar de má-fé”, já que “os mesmos [membros da NFP] que pedem que Macron acelere, quando não conseguiam encontrar um potencial primeiro-ministro diziam que tinham o direito de levar o seu tempo”.

Com o fim da ‘trégua’ devido à realização dos Jogos Olímpicos de Paris, Macron convocou os presidentes dos grupos parlamentares da Assembleia Nacional e do Senado para uma “série de discussões” em 23 de agosto para tentar formar governo.

“Nunca devemos esquecer que em França é o Presidente da República que nomeia o primeiro-ministro. É um poder que lhe pertence (por si só) graças ao artigo 8 da Constituição e nada neste artigo especifica o prazo a que está vinculado”, disse à Lusa Émeric Bréhier, politólogo francês e diretor do Observatório da Vida Política da Fundação Jean-Jaurès.

Sem uma maioria clara, “é necessário encontrar uma coligação eleitoral para se aproximar do limiar fatídico de 289 lugares”, o que pode não significar a escolha de Lucie Castets, porque não “promete estabilidade governamental”, afirmou Émeric Bréhier.

“Nesta fase, estamos perante mais hipóteses do que respostas, muito simplesmente porque em França não temos a cultura do compromisso parlamentar”, referiu.

Segundo o politólogo, pode estar em causa uma nomeação apoiada pela direita e centro-direita, incluindo a maioria presidencial, ou então “um primeiro-ministro de esquerda, mas recusando a NFP”.

“Salvo uma reviravolta espetacular, que não é de excluir, é de esperar que todas as forças políticas reafirmem as suas posições na sexta-feira: a NFP argumentará que existe uma ‘negação democrática’ se o candidato que escolheu meticulosamente [Lucie Castets] não for selecionado; a direita clássica apresentará o pacto legislativo que adotou antes das férias de verão; a maioria presidencial dirá que está pronta para formar uma coligação”, afirmou Émeric Bréhier.

Para o politólogo, é provável que estas reuniões não resultem na nomeação imediata de um primeiro-ministro, sendo que os próximos dias também constituirão “um elemento de tensão suplementar na vida política francesa”.

Já Virginie Martin considera que a nomeação “pode acontecer durante os Jogos Paralímpicos, talvez um pouco antes ou depois”, até ao início de setembro, na medida em que se aproximam prazos orçamentais cruciais em França.

Últimas de Política Internacional

O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, deverá pedir hoje, em Londres, um aumento de 400% na capacidade de defesa aérea e antimíssil da Aliança, especialmente para combater a Rússia.
O coordenador nacional do Comité de Direitos Humanos do partido da oposição Vente Venezuela (VV), Orlando Moreno, exigiu a "libertação imediata" de Luis Palocz, ativista político detido há mais de cinco meses.
O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Saar, agradeceu ao presidente norte-americano e ao seu Governo o veto único a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que permitia a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Um tribunal russo condenou hoje um jovem com paralisia cerebral a 12 anos de prisão por alta traição por ter enviado 3.000 rublos (cerca de 33 euros) a um ucraniano, noticiou a plataforma independente Mediazona.
O ministro da Justiça francês lamentou hoje que as penas impostas a alguns dos detidos pelos graves distúrbios em Paris após a conquista do PSG da Liga dos Campeões "já não sejam proporcionais à violência” que o país vive.
A polícia húngara anunciou esta terça-feira (3 de junho) que proibiu a organização da “Marcha do Orgulho”, prevista para 28 de junho, na sequência da polémica lei que proíbe as manifestações LGBT+ com o argumento da proteção dos menores.
O parlamento da Polónia vai votar uma moção de confiança ao Governo no dia 11 de junho, após a vitória do candidato nacionalista da oposição, Karol Nawrocki, nas eleições presidenciais, anunciou hoje o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk.
O primeiro-ministro dos Países Baixos, Dick Schoof, anunciou esta terça-feira a queda de todo o Governo, após a demissão dos cinco ministros ligados ao partido PVV, de Geert Wilders.
O líder do partido PVV dos Países Baixos, Geert Wilders, retirou hoje o partido da coligação governamental, devido a um desacordo sobre a imigração, abrindo caminho para eleições antecipadas.
O conservador Karol Nawrocki venceu a segunda volta das presidenciais de domingo na Polónia, com 50,89% dos votos, contra 49,11% do rival, o liberal Rafal Trzaskowski, após o escrutínio da totalidade dos votos, anunciou Comissão Eleitoral Nacional.