Além da fotografia, pode ler-se no mesmo carro funerário, usado como forma de protesto: “Mataram as nossas poupanças agora é hora de justiça”.
A manifestação iniciou-se pelas 08:30 e atrás da carrinha estão 16 pessoas vestidas de preto, de cara tapada, e com os nomes de lesados do BES que já morreram estampados nas camisolas.
Em frente ao Campus de Justiça, mas do outro lado da estrada, foram colocadas tarjas onde estão escritas outras mensagens como “lesados Novo Banco” ou “exigimos a provisão”.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação de Defesa de Clientes Bancários (ABESD), Francisco Carvalho, afirmou que a iniciativa tem como simbologia “chamar a atenção para as 1.900 vítimas que não tiveram qualquer tipo de solução”.
“São vítimas que perderam as poupanças de uma vida, porque acreditaram em duas entidades, a entidade do Banco Espírito Santo e a do Estado português, em que Portugal era um dos países seguros para fazer as suas poupanças, as suas aplicações, os seus depósitos. […] E o Estado não conseguiu assegurar essa boa supervisão e o Banco Espírito Santo cometeu um dos maiores crimes da história financeira portuguesa”, disse.
De acordo com Francisco Carvalho, o julgamento que se inicia hoje “é o reacender de uma esperança”.
“Nós acreditamos que a justiça pode ser lenta, mas é profunda. Acreditamos muito na justiça portuguesa. Acreditamos neste tribunal, em qualquer tribunal, estamos confortáveis, mas não podemos deixar de mostrar a nossa presença, usar a presença dos jornalistas como mediadores entre as vítimas, a sociedade civil e o país, porque isto é irrepetível. Isto começou há 14 anos, em que havia uma instituição perfeitamente podre e ninguém sabia”, precisou.
O julgamento do processo BES/GES começa às 09:30 no Juízo Central Criminal de Lisboa, 10 anos após o colapso do Grupo Espírito Santo (GES), num caso com mais de 300 crimes e 18 arguidos, incluindo o ex-banqueiro Ricardo Salgado.
O antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014.
Entre os crimes imputados contam-se um de associação criminosa, 12 de corrupção ativa no setor privado, 29 de burla qualificada, cinco de infidelidade, um de manipulação de mercado, sete de branqueamento de capitais e sete de falsificação de documentos.
Além de Ricardo Salgado, estão também em julgamento outros 17 arguidos, nomeadamente Amílcar Morais Pires, Manuel Espírito Santo Silva, Isabel Almeida, Machado da Cruz, António Soares, Paulo Ferreira, Pedro Almeida Costa, Cláudia Boal Faria, Nuno Escudeiro, João Martins Pereira, Etienne Cadosch, Michel Creton, Pedro Serra e Pedro Pinto, bem como as sociedades Rio Forte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin.
Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.