Na câmara baixa do parlamento russo (Duma), 314 deputados votaram a favor do orçamento trienal, 78 abstiveram-se e um manifestou-se contra, segundo os resultados oficiais.
O texto, que tem a segunda leitura prevista para 14 de novembro, deverá ser aprovado ainda pelo Conselho da Federação (câmara alta) antes da sua promulgação, dada já como certa, pelo Presidente russo, Vladimir Putin.
O Kremlin (presidência russa) declara frequentemente que a ofensiva contra a Ucrânia, lançada em 24 de fevereiro de 2022, será bem-sucedida, quaisquer que sejam os custos económicos e humanos, apesar do apoio do Ocidente a Kyiv.
Em setembro passado, Vladimir Putin foi claro sobre tal meta, ao afirmar que “reforçar a capacidade de defesa do país” e “integrar as regiões ocupadas da Ucrânia” são “prioridades”.
Para isso, o Kremlin decidiu continuar os seus pesados investimentos no exército.
Os gastos com a defesa atingirão quase 13.500 mil milhões de rublos (cerca de 130 mil milhões de euros) em 2025, de acordo com o projeto de lei.
O orçamento militar nacional já tinha aumentado em quase 70% num ano, em 2024, representando este ano, com os investimentos em segurança, 8,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, de acordo com Vladimir Putin, um valor inédito na história moderna da Rússia.
Desde 2022, o Kremlin reorientou em grande parte da sua economia para o esforço de guerra, desenvolvendo o seu complexo militar-industrial a alta velocidade, em particular através do recrutamento de centenas de milhares de novos funcionários.
O Kremlin antecipa um longo conflito com a Ucrânia e não parece preocupado com os riscos de uma maior dependência da sua economia de ordens militares, numa altura em que a inflação, superior a 8,6%, está a reduzir o poder de compra dos russos.
O orçamento dedicado à segurança interna, que inclui a polícia e os serviços de segurança especiais, aumentará para 3.460 mil milhões de rublos (cerca de 33 mil milhões de euros), representando quase 10% das despesas anuais do Estado russo.
Esta combinação defesa-segurança representará cerca de 40% do orçamento, sem incluir os numerosos investimentos que estão em segredo de Estado.
Num sinal de que os gastos militares não vão diminuir, Vladimir Putin assinou um decreto em meados de setembro a ordenar um aumento de quase 15% no número de soldados, elevando-o para 1,5 milhões.
Com este novo aumento, um em cada 50 ativos na Rússia estará agora no exército e, segundo os meios de comunicação russos, este irá tornar-se no segundo maior do mundo, depois do contingente chinês.
No total, as despesas federais aumentarão em 2025 para 41.500 mil milhões de rublos (cerca de 400 mil milhões de euros).
Para equilibrar o orçamento ao nível do crescimento, o Governo russo prevê aumentar os impostos sobre os rendimentos elevados e as empresas a partir de 01 de janeiro, como forma de continuar a financiar a ofensiva na Ucrânia e as despesas que lhe estão associadas.
Mas persistem problemas estruturais na economia da Federação Russa. A par da inflação, a escassez de mão-de-obra – consequência direta da partida de centenas de milhares de homens para a frente de combate ou para o estrangeiro – mantém-se e “limita” o crescimento, segundo admitiu o próprio Vladimir Putin.
No entanto, a situação mantém-se sustentável a curto prazo.
Na terça-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em alta as suas previsões de crescimento para a Rússia no final do ano, para +3,6%.