É perfeitamente possível reduzir as relações pessoais ou orgânicas à máxima “quem tem poder quer mantê-lo, quem não tem quer conquistá-lo”, pois a mesma explica, justifica e fundamenta muito das relações pessoais, sociais e institucionais existentes. Assim sendo, é perfeitamente normal que esta máxima se aplique na luta política, pois os partidos que estão no arco do poder querem manter-se nessa situação e, os restantes, têm por ambição legítima e condição primordial de sobrevivência, conquistar o poder.
Porém, é frequente questionar-se esta luta, perfeitamente natural e até desejável (a imposição de um regime de partido único foi derrotada pelos portugueses a 25 de Novembro de 1975) deve de cingir-se à luta política ou se os ataques pessoais e de carácter são igualmente legítimos. Ora, como em tudo na política, a resposta acaba por ser NIM, dependendo da posição ideológica que um partido visado ocupa. Por exemplo, para muitos é inadmissível citar o primeiro nome de crianças no Parlamento português mas quando a RTP 1 expõe parte de uma pauta escolar, com a identificação da escola e o nome completo de jovens já daí não vem nenhum mal ao mundo, é jornalismo.
Quando o Partido Socialista iniciou a sua deriva para a esquerda, ficou icónica a frase “quem se mete com o PS leva”, proferida pelo histórico Jorge Coelho, frase esta que acabou por se agregar ao ADN socialista, tornando-se uma máxima organizacional deste partido e dos seus militantes. Esta frase marca tanto a história deste partido quanto a frase “Estou a cagar-me para o segredo de justiça”, proferida pelo então Secretário-Geral do PS, o qual acabou a sua carreira política, não como consequência natural e directa desta frase – como seria de esperar num país democraticamente normal – mas sim a ocupar o cargo de Presidente da Assembleia da República, o que, per se, é auto descritivo do estado da República em que vivemos.
Chamar à colação os momentos históricos destas duas frases lapidares justifica-se com o actual momento político, pois em ambos os momentos o PS estava em apuros e foram proferidas em defesa dos interesses deste partido e/ou de algum dos seus militantes, apuros esses que colocaram em causa os interesses, ambições e privilégios do PS e de alguns dos seus militantes.
Actualmente o chamado “arco do poder” é composto por um novo partido político (que se encontra liberto das amarras dos pactos expressos ou tácitos que existem desde 1976), partido este que “arrisca-se”, por mérito próprio e demérito dos tradicionais partidos do “arco da governação”, a conquistar a segunda maior câmara municipal, ou seja, a Câmara Municipal de Sintra.
Perante este risco, o PS, líder desta edilidade nos últimos 12 anos, tocou a reunir as tropas ao combate político, fazendo de tudo para impedir este cenário que, a cada dia que passa, se torna mais uma certeza.
Nesta luta política, o executivo desta Câmara desbloqueou as verbas necessárias para realização de obras no concelho que, durante mais de uma década, nunca foram feitas e a candidata Ana Mendes Godinho desdobra-se em promessas irrealistas e compromissos fantasiosos, com custos de centenas de milhões de euros e cuja fonte de receita se recusa a indicar, seja por ignorância, seja por medo do peso eleitoral que essa informação possa ter junto dos eleitores. Afinal de contas, fica bem prometer milhares de casas ou fim de portagens na A 16 mas é melhor ocultar o custo destas medidas para não assustar ninguém.
Se o combate político ficasse por aqui, até se compreenderia, não teria nada de anormal. Porém, face às máximas socialistas supra referidas, estranho seria se o normal imperasse face ao risco de perda do poder da segunda maior Câmara do país e face ao risco de quem vier a ocupar a cadeira mais alta dos Paços do Concelho de Sintra “desatar” a ordenar auditorias cujos resultados são, neste momento totalmente imprevisíveis.
Face a este pesadelo, não resta ao PS outra solução que não seja o de baixar o nível da luta política, usando para o efeito os seus comentadeiros avençados, que se dispõem a tudo para ajudar os camaradas socialistas, a troco, claro está, da justa remuneração, porque a vida está cara e custa a todos ou em benefícios futuros, que vai dar ao mesmo.
Um desses comentadeiros de serviço socialista denomina-se Filipe Santos Costa que, de tão socialista que é, até teve um (alegado) pesadelo sobre o que seria um ano de gestão autárquica de Rita Matias em Sintra.
Depois da sua participação na PS TV, onde deu microfone e palco a uma panóplia de célebres socialistas, Filipe Santos Costa assume agora as vestes de um intelectual livre e independente para, nessas vestes “malhar no Chega” em geral, tal como Augusto Santos Silva tanto gosta fazer.
O pesadelo por si recentemente descrito, não só utiliza tácticas da luta partidária pré 3.ª República, altura em que os comunistas eram conhecidos por “comer crianças ao pequeno almoço” (fama esta para a qual o Holodomor certamente contribuiu e que se pode agradece a Joseph Estaline, tenebrosa e tirana figura histórica amada e reverenciada em surdina pela esquerda contemporânea) como mistura meias verdades com mentiras (tal como a boa desinformação faz), visando criar pânico nos eleitores os quais, desesperados, certamente irão correr de Rita Matias como o diabo foge da cruz, sempre em direcção aos ternos e maternais braços de Ana Mendes Godinho, essa fantástica e sagaz candidata autarca, que fechou uma coligação pré-eleitoral com o Livre sem dar cavaco à Concelhia do seu próprio partido e que impões essa coligação aos órgãos competentes do PS, ameaçando-os de se retirar da corrida se os seus amigos de extrema esquerda não a acompanhassem na festa eleitoral de Sintra, o que é demonstrativo não só da tendência política desta candidata mas também sua democraticidade. Afinal de contas “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem tu és” (vox populi, vox Dei).
Mas estes fait divers socialistas não tiram o sono a Filipe Santos Costa, antes pelo contrário. Com isto, ele dorme e vive bem.
O mundo onírico de Filipe Santos Costa dedica-se ao primeiro ano do mandato de Rita Matias, o que é fantástico. Esta possibilidade já dá pesadelos a alguns socialistas, algo que há apenas um ano não tiraria um minuto de sono a ninguém.
Filipe Santos Costa ataca Rita Matias por esta não viver no concelho de Sintra, esquecendo-se que o mesmo sucede, não só com a actual candidata do PS, como com praticamente todos os Presidentes de Câmara eleitos para esta edilidade desde 1976. Para Rita Matias, o facto de não viver em Sintra é cadastro, para os outros é algo de somenos importância.
Filipe Santos Costa indica diversos problemas sentidos neste Município, mas omite que os mesmos não só não foram resolvidos pelo Partido socialista, que governou esta edilidade nos últimos 12 anos, como alguns ainda foram criados pelos executivos do PS e do PSD, eleitos desde 12 de Dezembro de 1976. Por exemplo, as diversas urbanizações, construídas no fim do século passado e início do presente século e que tão funestos e graves problemas urbanísticos causaram ao concelho, não tiveram autogénese. Pelo contrário, foram construídas com licenciamento dos executivos liderados quer pelo PS, quer pelo PSD ao longo de décadas.
Ignorar isto é desrespeitar a história do concelho e consubstancia mesmo um exercício de desonestidade intelectual.
No que respeita à ausência de Rita Matias nas ruas do concelho, cumpre salientar que, não só tal não corresponde à verdade como aqui se está perante um exercício de wishful thinking, tão vulgar nos desesperados quando confundem e misturam aquilo que gostariam que a realidade fosse com o que efectivamente é. Só assim se explica a contradição entre o alegado por Filipe Santos Costa e o carinho e apoio que esta candidata diariamente recebe nas ruas de Sintra.
Quanto aos alucinados feitos imputados a Rita Matias (centros de deportação, fim dos abortos legais, conhecimento do hino nacional, caça ao imigrante ilegal, fim da cultura woke, sorteios de homens para mães solteiras, etc.) descritos por Filipe Santos Costa, não só tais feitos pertencem ao mundo onírico deste como a sua exequibilidade é legalmente impossível, face às competências que as autarquias locais têm, “pormenor” esse que Filipe Santos Costa, na sua campanha de descredibilização e difamação, prefere ignorar.
Porém uma dúvida nos assalta o espírito: se “o sonho é a realização (disfarçada) de um desejo reprimido”, tal como Freud defendeu, então é forçoso questionar se Filipe Santos Costa não será verdadeiramente um apoiante beato de Rita Matias, defendendo o que defende apenas para agradar à entourage socialista que lhe coloca o pão na mesa e lhe dá o palco que tanto aprecia e necessita para viver.
Independentemente do (des)valor das opiniões professadas, que dificilmente mudarão um único voto no CHEGA, é possível verificar um axioma: quando o PS permite que o combate político desça ao nível do ataque pessoal e de comentários sobre a vida familiar e íntima de uma candidata autárquica é porque foi apoderado pelo terror da derrota eleitoral que se avizinha em Sintra. Tal terror não resulta do receio de perder o poder desta Câmara (que já foi perdida para o PSD antes). A alternância em democracia é tão natural como o ar que respiramos e o PS sabe-o bem. O temor que se agiganta nas hostes socialistas em geral e, em particular, nas suas cúpulas, prende-se com o risco de esta Câmara passar a ser governada por um partido que não deve obediência a qualquer voto de silêncio cúmplice e que tem as mãos livres para auditar o que bem entender.
Quanto mais vil e baixo for o ataque, maior é o incentivo para continuar a lutar e alcançar os objectivos de remodelar e reestruturar, profundamente, o actual sistema político.