A Política Perdida: Entre Princípios e Ambições

A política deveria ser o espaço nobre da democracia, onde se discutem ideias e se defendem princípios em prol do bem comum. Contudo, na realidade portuguesa de hoje, tem-se transformado num palco cada vez mais marcado pelo oportunismo e pela conveniência.

Assistimos a uma tendência crescente: pessoas que integram listas partidárias não por afinidade ideológica, mas por cálculo estratégico. Escolhem os partidos não porque acreditam nas suas propostas e ideologias, mas porque sabem que ali têm maiores probabilidades de ser eleitos. A política deixa, assim, de ser um exercício de convicção para se tornar num exercício de carreira.

A este fenómeno junta-se outro, não menos corrosivo: o alpinismo social. Muitos encaram a política não como serviço público, mas como uma escada para alcançar estatuto, privilégios e notoriedade. Para esses, pouco importa a coerência; o que interessa é a visibilidade, o poder e as vantagens pessoais que o cargo lhes pode oferecer.

Não faltam exemplos de indivíduos que, ao longo dos anos, passaram por diferentes partidos políticos, mudando de cores e de discursos consoante as conveniências. Mais grave ainda é quando alguém que outrora criticou ferozmente determinada força partidária, acaba por encabeçar as suas listas, como se nada tivesse acontecido. A memória curta e a ambição longa transformam esses casos em autênticos retratos da degradação da vida política.

Esta lógica mina a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas. O eleitor sente que já não vota em representantes de ideias, mas em gestores de ambições pessoais. E, enquanto a política for dominada por oportunistas em busca de lugar e prestígio, a democracia continuará enfraquecida.

A regeneração política só será possível quando houver coragem para devolver à política a sua verdadeira essência: a defesa de princípios, a seriedade do debate e a lealdade para com aqueles que se pretende representar. Sem isso, permaneceremos reféns de uma política podre, onde os interesses individuais se sobrepõem ao interesse coletivo.

Artigos do mesmo autor

Embora vivamos num regime democrático, existem espaços do poder público onde a democracia parece não ter pleno alcance. As autarquias, criadas para gerir de forma autónoma os serviços públicos e responder de perto às necessidades das populações, acabam muitas vezes por se transformar em verdadeiras ilhas de poder, resistentes à renovação, à crítica e à […]

Aprovado sob o pretexto de “flexibilizar” as regras da contratação pública, o Decreto-Lei n.º 112/2025, de 23 de outubro, representa mais do que uma mera alteração administrativa. Na prática, este diploma vem enfraquecer os mecanismos de transparência e controlo que, ao longo de anos, foram construídos precisamente para proteger o Estado de práticas ilícitas e […]

A má gestão da imigração em Espanha é o espelho de um futuro próximo em Portugal, se o governo continuar a ignorar os sinais claros que vêm das ruas. O que se passa atualmente em Espanha devia ser motivo de reflexão séria para os responsáveis políticos portugueses, sobretudo para aqueles que, ao longo dos últimos […]

Num Estado de Direito, a separação entre os poderes Legislativo, Executivo e Judicial não é apenas um formalismo legal é uma garantia essencial da liberdade e da democracia. Quando essa fronteira se dilui e a política começa a interferir na justiça, toda a estrutura institucional corre o risco de colapsar. Um dos maiores perigos dessa […]