Durante várias décadas, a melhoria das condições de vida e de trabalho na Europa, aliada a um maior acesso aos cuidados de saúde mental, contribuiu para uma redução significativa das mortes por suicídio na União Europeia (UE). Contudo, dados recentes da Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound) revelam uma inversão dessa tendência: o número de suicídios voltou a aumentar, ainda que de forma ligeira.
O relatório, a que o jornal Público teve acesso, alerta para a necessidade de reforçar as estratégias de prevenção e de melhorar a qualidade dos serviços de apoio psicológico, numa altura em que quase metade dos cidadãos europeus avalia negativamente os cuidados de saúde mental disponíveis. Em Portugal, o cenário é particularmente preocupante: 40,1% das mulheres referem sofrer de ansiedade.
A evolução, contudo, não é uniforme entre os Estados-Membros. Portugal encontra-se entre os países onde o agravamento é mais evidente. Entre 2021 e 2023, o número de mortes por suicídio aumentou de 952 para 984. O país surge também ao lado de Espanha, França, Lituânia e Polónia no grupo dos que registaram um crescimento das tentativas de suicídio nos últimos anos.
As chamadas de emergência relacionadas com comportamentos de risco, nomeadamente tentativas de suicídio, também aumentaram. Entre 2019 e 2021, verificou-se um acréscimo de 39% neste tipo de ocorrências.
Em Portugal, como é habitual, as taxas mais elevadas de suicídio continuam a observar-se entre homens com 65 ou mais anos, residentes no interior e no sul do país, sobretudo em zonas rurais, de acordo com dados do Eurostat.
A nível europeu, destaca-se ainda uma deterioração da saúde mental entre os mais jovens (menos de 15 anos) e entre os mais idosos (com 85 ou mais anos). Nestas faixas etárias, os casos de suicídio aumentaram 34% e 33%, respetivamente, existindo indícios de que as tentativas de suicídio acompanham a mesma tendência.
Segundo o Público, entre os fatores que têm fragilizado a saúde mental dos europeus contam-se a pandemia, os conflitos internacionais, os fluxos migratórios, a digitalização acelerada — incluindo os impactos das redes sociais e do jogo online —, bem como as alterações climáticas e a degradação ambiental.
Outras questões contribuem igualmente para este cenário, nomeadamente as dificuldades económicas (particularmente entre jovens adultos), o isolamento social (mais frequente entre a população idosa) e a dificuldade de conciliar a vida profissional com a vida familiar (sobretudo no caso das mulheres).
O relatório identifica vários grupos com maior probabilidade de enfrentar problemas de saúde mental: mulheres, desempregados ou inativos, pessoas com baixos rendimentos, cidadãos com deficiência, adultos que vivem sozinhos (incluindo pais e mães solteiros), migrantes, minorias étnicas e trabalhadores estrangeiros. Entre as profissões mais expostas ao risco destacam-se os profissionais de saúde e de apoio social.
Em Portugal, as mulheres continuam a reportar mais casos de ansiedade — 40,1% em 2023, face a 27,4% dos homens — e também registam mais tentativas de suicídio. Contudo, são também quem mais frequentemente procura ajuda especializada. Os homens, pelo contrário, recorrem menos a apoio psicológico e enfrentam consequências mais graves: na UE, a taxa de suicídio masculina é 3,7 vezes superior à feminina, de acordo com dados de 2021.