Num discurso dirigido aos cidadãos franceses a 17 de abril, o Presidente francês — reeleito há um ano — concedeu a si mesmo “cem dias” para avançar com novos projetos e apaziguar o país, com um “primeiro balanço” a 14 de julho, Dia Nacional de França.
Este programa tem como objetivo tentar virar a página após a promulgação da altamente contestada revisão da lei das pensões, que fragilizou o executivo.
No final do conselho de ministros, Borne especificou diversas medidas, frisando: “Só acredito em resultados. Devemos obtê-los em todas as áreas, e espero que sejam concretos, tangíveis, visíveis para os franceses”.
Acompanhado de um ‘dossier’ de imprensa de 35 páginas, o plano governamental abrange medidas ou anúncios de calendarização ou de métodos de trabalho em muitas matérias: projeto de lei “indústria verde” apresentado em meados de maio, diplomas sobre o “pleno emprego” e sobre a “partilha de lucros” no mesmo período, projeto de lei da justiça analisado antes do verão, lei de diretrizes agrícolas no outono, futuro “acompanhamento personalizado” para a renovação térmica das habitações e ainda aumento das vagas para enfermeiros nos institutos de formação.
Borne anunciou, contudo, que o projeto de lei sobre a imigração pretendido por Macron não será, afinal, apresentado para já, por falta de maioria no parlamento, adiando para o outono um eventual diploma de contornos vagos.
“Atualmente, não existe maioria para aprovar tal texto, como pude ontem (terça-feira) verificar ao reunir-me com os responsáveis [do partido de direita Os Republicanos]”, cujo apoio é indispensável ao Governo, que só dispõe de uma maioria relativa na Assembleia Nacional, reconheceu.
Além disso, “não é o momento para lançar um debate sobre um tema que poderá dividir o país”, acrescentou Élisabeth Borne.
Mas, para mostrar que o executivo está a trabalhar nessa “prioridade” sem esperar por uma lei, a primeira-ministra anunciou o destacamento “a partir da próxima semana” de “mais 150 polícias e guardas nacionais” para a fronteira italiana, para fazer “face a uma pressão migratória acrescida”.
A oposição criticou veementemente o plano de Borne, classificando-o como “sem fôlego” e “oco”.
“Quando um Governo já não pode governar, ainda que por decisões estúpidas, por falta de maioria, deve ir-se embora, ele e as suas reformas”, escreveu o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, na rede social Twitter.
Por sua vez, o comunista Ian Brossat criticou o “blah-blah tecnocrático”, lamentando que não haja “nada de concreto sobre os salários e o poder de compra” e “nem uma palavra sobre a revisão da lei das pensões”.
“O nível de impotência e de distanciamento da primeira-ministra é assustador”, observou, por seu lado, o deputado de direita Aurélien Pradié, membro do partido Os Republicanos, ao passo que o líder desse partido, Eric Ciotti, apelou para a realização de um “referendo” sobre a imigração.
“Emmanuel Macron e Élisabeth Borne já não têm nada para dizer ou para propor aos franceses. Já não há Governo a liderar França, só uma gestão das questões correntes”, sustentou, por sua vez, a dirigente parlamentar da direita radical , Marine Le Pen.
Desde a promulgação da revisão da lei das pensões, que aumentou de 62 para 64 anos a idade de aposentação sem penalizações financeiras, Macron iniciou uma série de deslocações pelo país para defender a sua atuação e tentar reconquistar a confiança dos franceses.
Mas essas deslocações têm sido sempre acompanhadas de manifestações de opositores e ruidosos concertos de tachos e panelas e vaias, tal como a maioria das visitas de ministros pelo país.
Quase três franceses em quatro estão descontentes com Macron, segundo uma sondagem do Instituto Francês de Estudos de Opinião e Marketing (Ifop) para o Journal du Dimanche divulgada no sábado.