Não querendo entrar em lucubrações de natureza jurídico-constitucionais estéreis sobre o sistema educativo actual, nem de igual forma romantizar ingenuamente sobre o mesmo, pretendo sim, com este espaço que me é concedido para reflectir, fazer um apelo a toda a comunidade escolar que engloba pais, professores e alunos para lançar um alerta sobre os impactos significativos e tóxicos que o actual modelo educativo impõe aos nossos filhos.
A transmissão de saberes e conhecimento aos alunos que assenta actualmente sobre um modelo que visa apenas uma qualquer e suposta rentabilidade estatística em nome de um suposto desenvolvimento de competências em detrimento da sua sustentabilidade em termos de formação humana, põe inevitavelmente em causa toda a essência do ensino na sua mais intrínseca função que é de formar cidadãos civicamente conscientes e esclarecidos.
Assiste-se hoje em dia, sob o actual sistema educativo, a um processo, por meios mais subliminares do que outros, de destruição da escola pública e do seu claro desinvestimento, não só pela intransigência demonstrada face aos professores, não só pela falta de vontade política de investir na qualidade dos seus quadros, desde auxiliares de educação e assistentes técnicos, mas principalmente pela insensibilidade que se tem relativamente à formação cívica e cultural do aluno. O aluno, também ele, é um agente transformador e contribuidor da sociedade e da comunidade onde se insere. Também ele, nos seus aspectos sociais e culturais, pode ser edificador do seu meio envolvente.
A visão mecanicista do sistema educativo contemporâneo e sua correspondente ideologia neo-liberal e de uma forma enganadora progressista revela da sua intrínseca e principal motivação o desejo de uma compulsiva uniformização global que subjuga todo um sistema educativo e formativo a um mesmo ditame e transformá-lo num sistema de valores que responde aos desejos obsessivos de uma elite afastada por vezes do real e fanaticamente racionalizante.
Hoje em dia, com este mecanismo de transformar os alunos apenas em técnicos especializados, estaremos verdadeiramente a capacitá-los a serem mulheres e homens que pensam a sociedade, que percepcionam a realidade envolvente, que os afecta a eles e às gerações que lhes sucederá? Estará este sistema actual a formar e sensibilizar cidadãos que congregam em vez de dividir e ficarem cientes não apenas das suas necessidades mais prementes e egoísticas? Finalmente e num tom mais denunciador, será que ao actual sistema político não lhe interessará então formar, assim sendo, um conjunto de párias sociais que sustentará uma perpétua abstenção não apenas nas urnas mas igualmente das suas obrigações cívicas, remetendo-se num silêncio ensurdecedor e conformista?
Os ditames globalistas actuais em articulação com o sistema progressista neo-liberal irá na sua actual trajectória implodir e é igualmente importante compreender que a sua própria estrutura mecanicista, mesmo que vá destruindo tudo à sua passagem, irá destruir-se por si só, mais tarde ou mais cedo, por mais que se defenda a perenidade desse mesmo sistema e da carência de outros sistemas alternativos. No entanto, é preciso entender que como pais somos responsáveis, agora mesmo, em sermos firmemente actuantes e defensores dos valores culturais e políticos que se perpetuem na memória de todos aqueles que não se reconhecem nessa narrativa, que é necessário criar esse contra-poder antes que seja implantada essa via niilista sem alma e robotizada da sociedade, originária da esquerda mais radical e materialista.
Actualmente, assistimos a um processo gradual de desumanização individual e colectiva, tanto no contexto educativo, cultural e mesmo espiritual, que nos leva ao caos e não à ordem, que transforma o conhecimento numa obrigação e degrada os mais elementares e sólidos alicerces de uma nação que são a sua pátria, família e trabalho.
Olivier de Brito
(Funcionário Público)